quarta-feira, 11 de novembro de 2015

O futebol português a dar novos fundos ao mundo


Quando se castiga com uma multa de 40 euros um treinador que entra pelo relvado adentro, dá uma pancada num jogador e causa toda uma situação de caos com o único objetivo de ajudar a queimar os poucos minutos de jogo que restam, e o jogador que reage a essa provocação - tão improvável quando condenável - com um empurrão - nada de palmadas, socos ou agarrões - fica automaticamente suspenso por dois jogos e arrisca uma pena que poderá variar entre os 2 meses e os 2 anos, é um sinal inequívoco que o futebol português continua a ser um santuário da pouca vergonha. Não de forma tão descarada como há duas décadas atrás,  a pouca vergonha está agora mais refinada e escuda-se em interpretações absurdas dos regulamentos no conforto dos gabinetes.

Esclarecendo o que acontecerá a Naldo: para já é garantido que ficará de fora nos jogos com o Benfica e Belenenses. Entretanto a Liga abrirá um processo disciplinar, que automaticamente suspende preventivamente o jogador até um período de 2 meses. Se, num cenário ideal, a Liga conseguir concluir o processo no espaço destes dois jogos e decidir não penalizar o jogador com um castigo adicional, então não haverá nenhum dano adicional. O problema é que estamos a falar das instâncias disciplinares do futebol português.

Na prática, isto promete ser um caso muito semelhante ao do túnel da Luz, em que Hulk e Sapunaru estiveram suspensos durante 4 e 6 meses, respetivamente, para no final verem a pena ser reduzida para apenas três e quatro de jogos de castigo.

Tão vergonhosa quanto a interpretação da atitude de Naldo é a interpretação da atitude de Lito Vidigal. Note-se que a multa é de 40 euros porque Lito é reincidente (!!!) - já tinha sido expulso esta época. Se não fosse reincidente suponho que a penalização seria a proibição de comer chupa-chupas durante uma semana.

Perante isto, está aberto o precedente para que qualquer clube se sinta legitimado a colocar em todas as partidas um delegado ao jogo cuja principal função seja provocar ou até agredir os jogadores adversários em momentos de maior tensão. Qualquer expulsão que consiga provocar representa um retorno de 10000% do custo da multa.

Adicionalmente podemos dar um curso intensivo de trash talk a todos os apanha-bolas, prometendo um prémio de 1000 euros a quem conseguir levar um jogador adversário a aplicar-lhe uma lambada ou um empurrão em pleno jogo.

Parabéns, Conselho de Disciplina da FPF: esta decisão consegue entrar para o top dos episódios mais ridículos do dirigismo do futebol português. Desde o episódio do "dolo sem intenção" da Taça da Liga que não tínhamos direito a uma palhaçada deste calibre.