quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Um filme já visto

A receção ao Real Madrid foi uma reprodução fiel daquilo que tem sido a prestação do Sporting na edição deste ano da Champions: a equipa foi competente e combativa, e jogou, na esmagadora maioria do tempo, de igual para igual contra um adversário temível, mas faltou, em determinados momentos decisivos, o killer instinct e/ou serenidade que poderiam ter ajudado a escrever um final mais feliz do que o que se registou.

No entanto, não tenho nada a apontar a Jesus e aos jogadores: a equipa jogou de forma ambiciosa e construiu (mais uma vez) o suficiente para alcançar um resultado melhor. Não o conseguimos por algumas falhas próprias, é certo, mas também porque o árbitro não ajudou, e porque defrontávamos aquela que é, simplesmente, a melhor equipa do mundo - atual campeão europeu e líder destacado da liga espanhola -, que veio a Alvalade com a consciência de que um mau resultado lhe poderia causar grande incómodo.

Foto: @BryandeBrito_04



A dupla de centrais - frente a jogadores a quem não se podia dar um milímetro de espaço, Coates e Semedo não facilitaram e realizaram uma exibição de grande qualidade. Só não foi perfeita por causa do golo de Benzema, numa jogada em que o francês conseguiu fugir à marcação de Coates para cabecear para o fundo das redes de Rui Patrício. Mas, convenhamos, não sei quantos centrais no mundo conseguiriam evitar este golo: o cruzamento, a desmarcação e a finalização foram perfeitos.

A diferença de ter Adrien - não fez uma exibição imaculada, com uma ou outra perda de bola em locais complicados, mas é fácil perceber tudo aquilo que acrescenta ao coletivo com a sua presença tentacular e a sua raça. Converteu, de forma exemplar, o penálti que igualou a partida, e foi buscar a bola ao fundo das redes porque ainda queria ganhar o jogo. Mais uma grande exibição de um verdadeiro líder. 

O ambiente em Alvalade - estiveram presentes 50.046 espectadores - um recorde de assistência no novo Estádio José Alvalade -, que não se pouparam no apoio à equipa, do princípio ao fim. Grande, grande ambiente.



Killer instinct precisa-se - tem sido um problema nesta época e ontem voltou a sê-lo. Chamem-lhe falta de capacidade técnica, excesso de ansiedade, vontade em complicar ou, simplesmente, azar, mas voltámos a dispor de oportunidades suficientes para conseguir um resultado melhor. Não vale a pena estar a particularizar, porque são vários os jogadores que teimam em não tomar as melhores decisões quando as grandes oportunidades aparecem. Se já nos tem causado amargos de boca contra equipas teoricamente mais fracas, é evidente que, a este nível, tem tudo para ser fatal. E foi mesmo.

A expulsão de João Pereira - depois de ver várias vezes a repetição, continuo a não perceber o que viu a equipa de arbitragem para expulsar o lateral português. Um amarelo para cada lado seria aceitável, apesar de a coisa se poder resolver com um aviso. Um amarelo para um e um vermelho para outro, não só é incompreensível, como também poderá ter sido decisivo para o desfecho final da partida. Infelizmente, é uma situação que o Sporting conhece demasiado bem, face ao que se tem passado nas nossas recentes participações na Liga dos Campeões.



Na última jornada, o Sporting lutará com o Legia pela vaga que dá acesso à Liga Europa. Obviamente que, apesar do ambiente hostil que nos espera, temos obrigação de sair da Polónia com uma vitória. O facto de ser um jogo que se disputará em vésperas de dérbi não ajuda, é certo, mas não poderão existir poupanças. São dois jogos em que o Sporting terá, obrigatoriamente, de fazer tudo para vencer. Até lá, não há motivos para depressões: contra adversários de top mundial - excetuando a primeira parte com o Dortmund em Alvalade - a equipa tem feito excelentes exibições e demonstrado muita qualidade. Agora é tempo de mudar o chip para o jogo com o Boavista.