Foi um dérbi intenso mas com pouca nota artística, e em que o empate é um resultado adequado para aquilo que se viu em campo. Os onzes escolhidos pelos dois treinadores indiciavam um jogo em que o Sporting iria assumir as despesas do jogo de uma forma mais cautelosa que o normal, e com o Benfica a tentar explorar o contra-ataque para causar estragos. Essas estratégias rapidamente foram colocadas no lixo, face ao golo madrugador do Sporting. O Benfica pareceu acusar o golpe, mas a partir dos 20 minutos acabou por se recompor e foi obrigado a ter mais iniciativa do que inicialmente imaginara.
Há que dizer que o Sporting pareceu tão confortável na defesa do resultado quanto o Benfica pareceu desconfortável na procura do golo. Os caminhos da baliza estiveram sempre bem fechados - de parte a parte -, tornando o jogo muito disputado a meio e pouco atrativo.
Após o intervalo, o Sporting regressou com a ideia de ampliar a vantagem e teve, efetivamente, boas oportunidades para consegui-lo. No entanto, estava escrito que os golos só iriam aparecer de bola parada: o Benfica empatou e, uma vez tendo um resultado que lhe interessava, soube congelar o jogo e assegurar um empate que poderá ter valido o campeonato.
A entrada de Paulo Oliveira no onze - foi a grande surpresa no onze e, assim que foi anunciada, dava a entender uma abordagem defensiva mais conservadora do que é habitual no Sporting: uma linha defensiva um pouco mais recuada, com menos espaço nas costas, e com maior capacidade para conter o adversário na próximidade da área. Apesar de ter cometido uma ou outra falha sem consequências, Paulo Oliveira fez um jogo de grande nível, limpando tudo na sua área de ação e ainda nas inúmeras dobras que teve que fazer a Jefferson. Uma aposta bem sucedida.
A explosividade de Gelson - foi o único jogador do Sporting capaz de semear o caos na defesa adversária. A atacar fez o que quis de Grimaldo na primeira parte, mas também trabalhou defensivamente muito no apoio a Schelotto. Foi substituído por estar em claras dificuldades físicas.
O golo do Benfica acabou com o jogo - o Sporting acusou o golo do empate e, a partir desse momento, não teve capacidade para incomodar a defesa benfiquista. Notou-se uma quebra física e anímica da equipa, que começou a perder sistematicamente os duelos a meio-campo. É certo que, nessa altura, Artur Soares Dias foi uma ajuda importante em manter o cadeado bem fechado - deixando passar várias faltas óbvias nas disputas a meio-campo -, mas Jesus deveria ter feito mais para procurar a vitória (na minha opinião, Podence devia ter entrado mais cedo).
Exibições abaixo do exigível - foram vários os jogadores que não deram à equipa aquilo que era necessário face a um adversário como o Benfica. Começando pelas laterais, Schelotto não conseguiu adaptar-se à pressão que o Benfica lhe colocou e cometeu vários erros, enquanto Jefferson confirmou que não é mais do que uma sombra do jogador que já foi - nem sequer ajudou naquele que era o seu ponto forte: os cruzamentos. William jogou com um nível de agressividade demasiado baixo, estando pouco esclarecido com a bola nos pés e com vários momentos de desconcentração. Alan Ruiz foi demasiado lento perante um pressing mais intenso, e nunca conseguiu desequilibrar. Finalmente, Dost esteve em dia não. Teve duas excelentes ocasiões para marcar, mas finalizou ambas de forma desastrada.
A arbitragem - Artur Soares Dias teve um desempenho péssimo. Começou pela falta de cartão a Ederson no lance do penálti. Depois, houve um penálti claro de Schelotto sobre Grimaldo que ficou por assinalar. Podia também ter assinalado penálti de Bruno César sobre Lindelof, num lance de análise mais difícil. Na segunda parte, Artur Soares Dias pareceu tentar compensar os erros da primeira parte, revelando uma dualidade de critérios aberrante na marcação de faltas. Vi pelo menos três faltas claríssimas sobre jogadores do Sporting mesmo à minha frente que ficaram por marcar, mas existiram vários outros casos muito duvidosos noutras áreas do campo. Mas no cômputo geral o Benfica teve, obviamente, mais razões de queixa.
A vitória ainda nos poderia deixar com uma réstia de esperança em conseguir algo mais do que o terceiro lugar, mas este empate fecha a nossa classificação. Faltam quatro jogos, que deverão ser aproveitados para preparar a próxima época tanto quanto possível. Esta já era.