Têm sido insistentes as notícias que referem o interesse do Sporting em obter o empréstimo de Fábio Coentrão para a próxima época. É certo que estas notícias valem o que valem: ainda muito recentemente tivemos uma quase certa transferência de Jorge Jesus para o PSG que, afinal, não tinha ponta de verdade. No entanto, no caso de Coentrão, Bruno de Carvalho, quando questionado sobre o interesse do Sporting, deixou a possibilidade em aberto. É sabido que o jogador perdeu por completo o espaço que tinha no Real Madrid e que Jesus, seguramente, estará interessadíssimo em recuperá-lo.
Entretanto, como em tudo o que envolve o Sporting, já começa a haver polémica nesta possível contratação pelas passadas declarações de amor feitas pelo jogador ao Benfica. Do outro lado da barricada, há quem relembre que Coentrão era adepto sportinguista antes de se ter tornado profissional, e que, inclusivamente, era presença regular junto das claques leoninas em jogos do Sporting no norte do país.
Não acho esta questão minimamente relevante. As juras de amor de atletas profissionais valem muito pouco, sejam as que são feitas em relação ao nosso clube, sejam as que são feitas a outros. Um par de meses depois, esses mesmos atletas estarão a fazer pressão para sair caso apareça uma proposta que lhes agrade. O fundamental, e que deve estar no centro das preocupações de quem tem a responsabilidade de construir o nosso plantel - é termos jogadores que tenham a qualidade e profissionalismo de que precisamos para vencer.
A pergunta fundamental é essa: estará Fábio Coentrão em condições físicas e psicológicas para ser o lateral esquerdo de que precisamos?
Olhando para as últimas épocas, as dúvidas são mais que legítimas. As lesões de Coentrão têm sido recorrentes nos últimos anos da sua carreira: apesar de a maior parte não ter tido grande gravidade, contraiu duas lesões em 2016 (fratura no pé e rotura muscular), uma imediatamente a seguir à outra, que o deixaram de fora dos relvados praticamente em todo o ano civil de 2016. No tempo em que tem estado saudável, Coentrão pouco tem jogado no Real Madrid - está época fez apenas 300 minutos, mas convém não esquecer que está tapado por Marcelo, que é, provavelmente, o melhor lateral esquerdo da atualidade. No ano passado esteve emprestado ao Mónaco de Leonardo Jardim, onde foi habitual titular até se ter lesionado.
Seria, obviamente, uma contratação de risco. Não será fácil recuperar a melhor versão de um jogador que pouco tem jogado no último ano e meio, mesmo que do lado de cá esteja o treinador que o descobriu para a posição. No entanto, se forem verdadeiras as notícias que dizem que o Sporting apenas suportará 10% do salário (correspondendo a €300.000 euros limpos) e ficará com uma opção de compra do passe do atleta, o risco financeiro não é grande.
Sendo o negócio feito nestes termos, parece-me que os proveitos desportivos potenciais ultrapassam largamente os tais riscos. É que - convém relembrar - se se conseguir recuperar o melhor Coentrão, estaremos perante o melhor lateral esquerdo a jogar no Sporting em muitos, muitos anos.
Escrevi isto há dois anos, sobre o Portugal - Sérvia, jogo para o apuramento para o Euro 2016 |
P.S.: é curioso ver que muitas das pessoas que abominam a vinda de Coentrão, são as primeiras a aplaudir o regresso de Jonathan Silva, um jogador que também tem jogado poucas vezes e que tem tido problemas disciplinares na Argentina. O argentino prometia quando chegou - gosto muito da raça com que joga e dos movimentos interiores que faz -, mas a verdade é que, três épocas decorridas depois da sua contratação, evoluiu zero. Não me parece que tenha melhores hipóteses do que Coentrão para ser o jogador de que precisamos.