segunda-feira, 26 de junho de 2017

Apito Abençoado: a história de Emídio Fidalgo

De entre os casos de ofertas de bilhetes reveladas pelo Expresso na edição de sábado passado, não há nenhuma que salte tanto à vista como a que diz respeito a Emídio Fidalgo, antigo responsável pela nomeação dos delegados da Liga - cargo que acumulou com outro que ainda desempenha: o de responsável da Liga pelas infraestruturas.

Falamos de um funcionário da Liga que, obviamente, tem o dever de cumprir as suas funções de forma isenta e equidistante em relação a todos os clubes. No entanto, fica claro, no artigo do Expresso, que o Benfica não tem essa perceção em relação ao seu trabalho. No artigo do Expresso pode ler-se que Paulo Gonçalves, assessor jurídico do Benfica e homem forte do trabalho de bastidores, incluiu Emídio Fidalgo num conjunto de quatro pessoas que tinham "de alguma maneira ajudado (...) o SLB no passado".

Como é natural, se um funcionário da Liga cumpre o seu dever não está a ajudar ninguém. Consequentemente, se Emídio Fidalgo ajudou de alguma forma o Benfica, então não estava a cumprir o seu dever. Algo de que, aliás, também pode ser acusado outro dos nomes referidos: Nuno Cabral. Os emails divulgados nas últimas semanas demonstraram que o delegado da Liga tinha, como objetivo de vida, ser o menino bonito do Benfica.

Aqui fica o excerto do artigo do Expresso sobre Emídio Fidalgo:


Como se pode ler, o Benfica estava a decidir sobre os convites que iriam ser oferecidos para assistir a uma final da Liga Europa. Falamos, portanto, de bilhetes (cujo preço de venda ao público variava entre os 35€ e os 150€), mas não é impossível que o convite incluísse também a viagem até Turim e, quem sabe, alojamento. Mas mesmo que tenham oferecido apenas os bilhetes, não nos vamos iludir: o preço facial dos ingressos não faz justiça ao valor simbólico que têm para o recetor da oferta, principalmente se for um fervoroso adepto do clube.

Portanto, temos uma oferta de valor relevante, que foi atribuída por ajudas dadas ao longo da época que na altura decorria. No caso de Emídio Fidalgo, que ajuda terá sido? O Expresso refere uma possibilidade bastante plausível: o papel que Emídio Fidalgo teve alguns meses antes, no conturbado final do V. Guimarães - Benfica. O caso foi muito discutido na altura por causa das omissões dos delegados da Liga em relação aos problemas que Jorge Jesus teve com a polícia. Omissão incompreensível, se considerarmos que os delegados viram tudo e que Emídio Fidalgo, o responsável pelos delegados, esteve no centro dos acontecimentos.



A 26 de setembro, a própria Liga acabou por abrir um processo aos delegados e aos árbitros por não terem feito qualquer referência ao sucedido. Naturalmente, multiplicaram-se as perguntas em relação à atitude dos delegados e do seu chefe.


Jorge Maia concluiu o seu comentário referindo a estranheza das omissões. Quase quatro anos depois, com a divulgação destes emails, as coisas começam finalmente a ficar menos estranhas...

P.S.: como foi referido, a omissão nos relatórios não abrangeu apenas os delegados ao jogo. Também os árbitros se "esqueceram" de referir os incidentes. Curiosamente, o árbitro dessa partida foi Bruno Esteves, um dos bons valores da arbitragem referidos por Adão Mendes a Pedro Guerra num dos emails revelados por Francisco J. Marques, enviado... apenas três meses após os incidentes de Guimarães.