segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Ataque VARdíaco

Aquilo que, ao fim de 11 minutos, parecia que ir ser um jogo sem história, acabou por se transformar, de certa forma, num dos mais fascinantes jogos da era VAR. O argumento usado pelos opositores à implementação do videoárbitro em como iria tirar emoção ao futebol acabou de cair por terra com estrondo: querem maior montanha russa de emoções do que aquele que se viveu no final de tarde de ontem em Alvalade? 

Tudo isto por causa dos dois golos anulados perto do fim da partida: no espaço de poucos minutos, o sportinguista passou da angústia para a euforia, da euforia de novo para angústia, depois para o desespero e, finalmente, quando tudo parecia perdido, para a alegria final. Ah, e a isto junta-se um pequeno pormenor: a verdade desportiva foi assegurada e venceu quem tinha que vencer.





Entrada atordoante - na etapa final de uma desgastante sequência de cinco jogos, o Sporting entrou em campo com a sábia intenção de resolver o jogo tão cedo quanto possível. Não podia ter passado das ideias aos atos de melhor forma: primeiro, com um cruzamento de Acuña a atravessar a área e a encontrar Gelson, que não perdoou frente a Moreira; depois, através de mais um missil teleguiado de Bruno Fernandes, de livre direto. Deveria ter sido uma entrada a matar, mas, por culpa própria, foi apenas uma entrada a atordoar: a (má) gestão de jogo feita posteriormente permitiu ao Estoril ter oportunidade para se reerguer e disputar uma partida que deveria estar mais que fechada.

O golo de Bruno Fernandes - palavras para quê, quando o podemos rever as vezes que quisermos?


Ataque VARdíaco - os últimos minutos da partida não podiam ter sido mais intensos e testaram ao limite a saúde cardiovascular de quem assistia ao jogo. Aos 92', numa altura em que o Estoril procurava o golo do empate, Piccini encontrou a linha de fundo e centrou para Dost, que colocou a bola na baliza. Alvalade explode num misto de alegria e alívio, mas prematuramente: Piccini estava fora-de-jogo e o VAR deu indicações para se anular o golo. Regressam os nervos ao estádio e à equipa. O relógio vai passando, mas demasiado devagar, e apenas dois minutos mais tarde, a 22 segundos do fim dos 4 minutos de descontos dados por Luís Godinho, o Estoril volta a meter a bola na baliza de Rui Patrício, perante a incrudelidade dos mais de 45 mil sportinguistas presentes. Um filme que, infelizmente, já foi muitas vezes visto, mas que desta vez, no entanto, não acabou em tragédia: Pedro Monteiro estava em posição irregular e Alvalade festeja a decisão do VAR e, pouco depois, a conquista dos três pontos. Sabendo como as coisas têm tendência a funcionar, fossem outros os tempos, é bem possível que os sportinguistas saíssem do estádio a lamentar-se de dois pontos perdidos.

A demonstração de liderança de Mathieu - já tinha acontecido contra o V. Setúbal, e voltou a acontecer ontem: numa altura em que a equipa parecia adormecida e se começava a pôr a jeito para a desgraça, Mathieu decidiu dar o exemplo, fazendo questão de levar a bola para a frente. Uma atitude taticamente pouco prudente, mas que era necessária. Uma demonstração de liderança que foi o ponto alto de mais uma exibição sólida do francês.

A exibição de Battaglia - o todo-o-terreno do meio-campo do Sporting voltou a marcar pontos, com mais uma bela partida. Não tanto por aquilo que deu à equipa quando o adversário tentou atacar - e onde se tem destacado no início de época -, mas sobretudo pelo aumento de confiança demonstrado quando está em tarefas de construção: está cada vez mais à vontade na criação de desequilíbrios com passes verticais - em oposição à sua imagem de marca, que é avançar no terreno com a bola nos pés. Tem é que refrear a forma demasiado intensa com que às vezes disputa so lances. Com a entrada de Petrovic subiu um pouco no terreno e começou a aparecer mais vezes junto à área - que também é aquilo que se pede de um 8. Não teve momentos tão geniais como Acuña, Gelson ou Bruno Fernandes, mas no conjunto dos 90 minutos foi o mais consistente da equipa. Para mim, o melhor em campo.



A equipa a pôr-se a jeito - notou-se perfeitamente que os minutos finais foram um suplício para muitos jogadores. Acuña, Bruno Fernandes e Gelson estavam esgotados, Coentrão já tinha sido substituído, e havia muito pouco esclarecimento por parte da equipa em geral. Compreensível, considerando o desgastante ciclo que a equipa teve que suportar, mas dispensável, porque o Sporting entrou em gestão de resultado demasiado cedo e abdicou de matar em definitivo o jogo quando o adversário estava nas cordas. 2-0 é um resultado aparentemente seguro, mas que está à distância de apenas uma falha individual ou um momento de inspiração alheia para se tornar perigosíssimo. E foi isso que aconteceu: o Sporting controlou bem o Estoril... até ao momento em que Lucas Evangelista disparou um tiro indefensável do meio da rua. De um momento para o outro, o jogo mudou... e por pouco não acabou da pior forma possível. Há que dizer, também, que Jesus mexeu mal na equipa: Bruno César e Petrovic não acrescentaram grande coisa - a não ser pernas frescas - e não se compreende que tenha guardado a 3ª substituição para os descontos.




MVP: Rodrigo Battaglia



Nota artística (1 a 5): 2


Arbitragem: Bom trabalho da equipa de Luís Godinho (considerando que o VAR faz parte da sua equipa e está lá para corrigir alguns dos erros que acontecem). Coerente no critério disciplinar, quer nos cartões que mostrou, quer nos cartões que não mostrou numa fase inicial. Dúvidas apenas num possível penálti sobre Dost.



Final feliz para um ciclo intenso e em que muito estava em jogo: qualificação para a Liga dos Campeões, quatro vitórias nas quatro primeiras jornadas, com 10 golos marcados e 1 sofrido. Ao contrário das últimas épocas, a equipa não se ressentiu demasiado dos compromissos europeus - quantas vezes concedemos pontos nas jornadas que antecediam ou se sucediam às competições da UEFA? Bom começo de época, e vê-se potencial neste conjunto de jogadores para, gradualmente, as coisas irem melhorando ainda mais.