quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Foi bom enquanto durou

A única coisa que provavelmente não foi atípica no jogo de ontem terá sido o resultado. Jorge Jesus surpreendeu tudo e todos ao apresentar um onze completamente diferente do habitual: Acuña a defesa esquerdo, Ristovski a ala direito e Alan Ruiz como homem mais adiantado, deixando de fora o agitador e o goleador. A ideia do técnico passaria certamente por manter a equipa na discussão do jogo sem a desgastar demasiado ao mesmo tempo que via no que é que as modas paravam em Atenas, para depois colocar então toda a carne no assador. Assim conseguiria alcançar um certo equilíbrio entre a ambição europeia e a preocupação com a frescura física de alguns elementos-chave para o jogo do Bessa.

Creio que o plano de Jesus correu conforme o plano, mas agora, após o jogo estar disputado, fiquei com a sensação de que isso acabou por prejudicar as hipóteses de o Sporting conquistar os três pontos. O Sporting que jogou a primeira parte foi inofensivo no ataque por vários motivos: não havia um homem-alvo na área, sendo óbvio que ninguém sabia o que fazer à bola quando se aproximavam da área; não havia um Dost para ganhar os duelos aéreos a meio-campo e distribuir a bola permitindo a subida dos companheiros; não havia um Gelson para desequilibrar no um-contra-um. As alterações ao intervalo devolveram velocidade e presença na área ao jogo do Sporting, mas a segunda parte já não correu conforme o plano por causa de situações improváveis que acabaram por ser decisivos no desfecho do resultado - não só o Barcelona marcou num lance de bola parada, ainda com Messi a aquecer fora das quatro linhas, como Dost falhou dois golos feitos que normalmente não perdoa.





A linha defensiva - Se há alguma evolução entre a época passada e esta época, é a da qualidade da linha defensiva do Sporting. Isto é visível nas várias situações de grande dificuldade que os defesas foram chamados a resolver: Piccini, na primeira parte, salvou pelo menos duas situações de enorme perigo; Coates fez uma segunda parte imperial, ao seu melhor nível; Mathieu foi pendular, como de costume, e não mereceu o autogolo - teve de arriscar um corte em más condições, pois caso não o fizesse tinha um adversário nas costas que finalizaria sem dificuldade; e até Coentrão teve uma grande intervenção no flanco contrário no pouco tempo que esteve em campo.

A forma de Rui Patrício - mais uma grande exibição numa época fenomenal. Sinceramente, não percebo como é que nenhum clube de uma grande liga o vem buscar ao Sporting. Da parte que me toca, ainda bem que assim é. Por mim, pode ficar até decidir terminar a carreira. Falta-lhe apenas um título nacional para figurar na galeria dos maiores de sempre do clube.


Golos que não se podem falhar - num jogo destas características não se pode desperdiçar ocasiões flagrantes, como as duas que Dost falhou na segunda parte. O primeiro, então, foi de levar as mãos à cabeça: o cruzamento de Gelson foi perfeito, e o holandês só tinha de escolher o lado. Infelizmente, acabou por acertar no outro holandês. Estou, no entanto, perfeitamente disposto a perdoar-lhe esta noite infeliz se no Bessa regressar ao seu normal e meter uma ou duas batatas na baliza adversária.

Não quero bater no ceguinho, mas... - mais uma vez, Alan Ruiz foi um jogador a menos. Tem, obviamente, a atenuante de ter sido colocado numa função diferente da que lhe é habitual, mas a sua incapacidade em mexer no jogo foi geral e não se limitou aos momentos em que era o elemento mais adiantado. Mais uma oportunidade perdida e, sinceramente, não consigo compreender como é que é chamado a jogo havendo Podence, Dala, ou mesmo Rafael Leão.



O Sporting terminou a sua participação na edição deste ano da Liga dos Campeões, alcançando um terceiro lugar e a passagem para a Liga Europa. Foi um percurso bastante positivo, que começou com um apuramento categórico em Bucareste, incluiu duas vitórias confortáveis ao Olympiacos e boas exibições contra Barcelona e Juventus, duas das melhores equipas europeias. Mas tão ou mais importante que isso, foi a capacidade que o grupo de trabalho demonstrou nas mudanças de chip entre a Liga dos Campeões e as competições internas, ao contrário do que aconteceu noutras épocas. Que se termine este primeiro ciclo europeu em beleza com uma vitória no Bessa.