domingo, 10 de dezembro de 2017

Os bispos abriram a defesa e as torres terminaram o trabalho

Mais uma deslocação de risco após uma desgastante jornada da Liga dos Campeões, mais uma boa resposta da equipa, que continua a demonstrar uma boa noção das prioridades. A primeira parte não foi famosa, no entanto: a velocidade de execução colocada na construção pareceu sempre demasiado lenta para um Boavista fechado e pressionante no seu meio-campo. O jogo seria desbloqueado com um golo marcado num momento importantíssimo, que lançou a equipa para uma exibição segura e para uma vitória indiscutível num terreno sempre complicado.




Um golo no melhor momento possível - o golo de Coentrão, marcado no final dos três minutos de descontos que o árbitro concedeu na primeira parte, dificilmente poderia ter surgido em melhor altura. Grande trabalho de Dost a soltar a bola para Podence, que depois soube ter paciência e habilidade para dançar à frente de Talocha enquanto dava tempo aos colegas para se posicionarem na área. Soltou o esférico para o segundo poste onde apareceu Coentrão - bons 90 minutos - a finalizar. Um golo que desbloqueou um jogo que estava a ser difícil e que foi um importante tónico para uma bem melhor segunda parte.

A agressividade na segunda parte - apesar de ter inaugurado o marcador no último suspiro do primeiro tempo, foi pelo que fez na segunda parte que o Sporting fez realmente por merecer, de forma incontestável, a conquista dos três pontos. A maior pressão sobre a saída de bola do Boavista e o adiantamento em bloco da equipa nos momentos de posse encostaram os axadrezados à sua área e inclinaram em definitivo o campo e valeram, por duas vezes e no espaço de poucos minutos, a obtenção da tranquilidade no marcador.


O jogo que começou a ser ganho em Barcelona - Jorge Jesus fez questão de referir que a vitória no Bessa começou a ser construída em Barcelona, já que, segundo o seu ponto de vista, os jogadores poupados na Liga dos Campeões foram os melhores na partida com o Boavista. Não sei até que ponto é que um facto foi consequência direta do outro, mas gosto da forma como as prioridades têm sido definidas: campeonato acima de todas as outras competições, sempre e até ao fim.

Todos a oxigenar o cabelo, sff - Dost, portador de cabelo naturalmente claro, marcou dois golos após dois desvios de cabeça do louro Mathieu, outro portador de cabelo naturalmente claro, fechando o marcador que tinha sido inaugurado por Coentrão, portador de cabelo artificialmente claro, após um trabalho magnífico de Podence, recente portador de cabelo ainda mais artificialmente claro. Se há lendas que atribuem força sobrehumana à dimensão do cabelo, por que não haver uma associada à sua tonalidade?

O apoio vindo das bancadas - incrível o apoio dado pelos muitos sportinguistas que quase encheram uma das bancadas do Bessa. Mereceram a referência que Jesus lhes fez no final, e um exemplo para o punhado de assobiadores que têm aparecido em Alvalade.



Facilitismos - Piccini, com a bola controlada, atrapalha-se sozinho e perde a noção de onde ela estava, permitindo um contra-ataque do Boavista que acabou por valeu um amarelo a Coates. Mathieu é um grande central, mas tem a particularidade de ter o hábito de registar exatamente uma paragem cerebral por partida. A de ontem, ocorrida na primeira parte, não teve consequências graves. Coates, infelizmente, não pode dizer o mesmo: tentou fintar um adversário em zona proibida, e perdeu a bola, que só pararia nas redes de Patrício e relançou a discussão do jogo durante um par de minutos. 

Erros de arbitragem - Penálti não assinalado por falta nas costas de Podence no final da primeira parte. Mateus parece estar em fora-de-jogo no momento do passe que lhe é feito para o golo do Boavista, mas nem fiscal-de-linha (fez bem em deixar seguir) nem VAR (com maiores responsabilidades) o assinalaram - ainda assim, era um lance de análise difícil e compreendo que tenham dado o benefício da dúvida ao avançado do Boavista. Perto do fim, Gelson é derrubado por Sparagna numa altura em que ficaria isolado perante o guarda-redes. O boavisteiro devia ter sido expulso, mas só viu o amarelo. Alguns mais compreensíveis, outros menos compreensíveis, mas todos em prejuízo do mesmo clube. Curiosamente, estes erros sucederam-se pouco depois da existência de vários erros num outro jogo, todos em benefício do mesmo clube, o do costume. Haverá quem encontre explicações individuais para cada um destes erros, negando-os ou desculpando-os, mas o que ninguém conseguirá contestar é a improbabilidade estatística daquilo que vai sucedendo semana após semana: seria natural que, uma vez ou outra, os que são beneficiados também fossem prejudicados...



Mais um campo complicado que foi ultrapassado, que vale uma liderança provisória que, infelizmente, não deverá durar muito. Duvido que os jogadores do V. Setúbal, com os graves problemas que o clube tem atualmente, consigam bater o pé ao Porto. De qualquer forma, o caminho é este: só se formos fazendo sempre a nossa obrigação é que poderemos aproveitar os deslizes, previsíveis ou inesperados, que os outros possam ter.