Um roubo. Não há outra forma de designar aquilo que ontem se passou em Alvalade. O golo anulado a Doumbia é um escândalo, porque o árbitro responsável pelo VAR - Manuel Oliveira - decidiu fazer tábua rasa do que diz o protocolo que rege a atuação do videoárbitro. Por desconhecimento? Impossível, qualquer adepto minimamente informado sabe que o lance pode ser revisto apenas até ao momento em que a equipa que marcou o golo recuperou a bola. Por distração? Impossível, pois ao recuar as imagens até ao momento da falta (que nem sequer me parece clara) de Bruno Fernandes não pode ter deixado de reparar que o Feirense tinha tido, entretanto, a bola em seu poder. Não podendo ser por desconhecimento ou distração, sobra a explicação evidente: a anulação do golo sustenta-se exclusivamente na vontade de Manuel Oliveira em manter o resultado em 0-0.
Juízo Final - Minuto 20— SPORT TV (@SPORTTVPortugal) 11 de fevereiro de 2018
Golo invalidado a Doumbia.
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O Sporting acabou por ganhar o jogo, mas não é por isso que deveremos deixar de apontar a gravidade do sucedido. Em primeiro lugar, porque não é admissível que um árbitro interfira de forma consciente no decurso de um jogo. Em segundo lugar, porque já houve vários casos em jogos de rivais em que o VAR passou por cima de faltas claras que antecederam golos seus. É certo que erros não devem ser compensados com outros erros, mas o que é facto é que este acumular de "enganos" no mesmo sentido acaba por representar uma penalização dupla para o Sporting, e que poderá ter um peso decisivo num campeonato disputado ponto a ponto. E em terceiro lugar, porque não se pode menosprezar o efeito que uma ocorrência destas poderia ter numa equipa a atravessar uma fase complicada e que estava proibida de perder mais pontos, e - já agora - no público presente no estádio. Falando por mim, não fui capaz de festejar nenhum dos golos que foram marcados posteriormente, porque não conseguia deixar de pensar que poderia ter havido algum jogador do Sporting a espirrar três ou quatro minutos antes, o que seria, certamente, motivo suficiente para Manuel Oliveira anular os lances.
Quanto ao jogo em si, em vez de se ver em vantagem aos 20' e poder gerir o jogo e o esforço de outra forma, o Sporting foi obrigado a continuar à procura do golo. E se não os alcançou mais cedo, não foi por falta de oportunidades. À semelhança do que já tinha acontecido em alguns momentos contra o Estoril, a equipa teve períodos de excelente futebol, mas parecia voltar a fazer questão de desperdiçar as situações de golo feito que ia construindo. Felizmente, a persistência da equipa em chegar à vitória acabou por dar frutos e permitiu a conquista de três pontos inteiramente merecidos, contra tudo e contra todos.
Nota artística - ao contrário de outras ocasiões, a equipa não ficou à espera que o jogo se resolvesse sozinho, e foi à procura do golo desde o primeiro minuto. À vontade de desbloquear o resultado o mais rapidamente possível, juntou-se a capacidade de impor um futebol dinâmico, veloz e agressivo, que se traduziu numa enorme quantidade de oportunidades flagrantes para marcar. O golo foi-se adiando, seja por incapacidade própria na finalização, seja por excelentes intervenções do guarda-redes Caio Secco, seja pela vontade de Manuel Oliveira. Mérito para a generalidade dos jogadores, com Gelson, Montero e William Carvalho num patamar acima dos restantes.
A mão que segurou o resultado - não me refiro à mãozinha marota de Manuel Oliveira a rodar o botão do feed no sentido contrário aos ponteiros do relógio para recuar as imagens à procura de um motivo para anular golos, mas sim à de Rui Patrício: duas defesas fabulosas, uma em cada parte, numa altura em que o marcador ainda estava em branco.
As estreias - Rafael Leão estreou-se para o campeonato, e a sua entrada fez-se sentir de imediato. Primeiro com um remate para defesa difícil de Caio, depois com uma assistência para golo (irregular) de Gelson. Velocidade, técnica, agressividade e olhos colocados na baliza adversária. Promete. Lumor também entrou bem, integrando-se bem no ataque, revelando velocidade e voluntarismo, para além de ter feito um bom cruzamento. Perdeu, no entanto, um lance de cabeça num cruzamento para a área do Sporting em que nem sequer tirou os pés do chão, a fazer lembrar Jonathan Silva. Ainda assim, no global, teve uma estreia positiva.
A arbitragem - VAR à parte, a arbitragem foi fraca. Não que não estivessemos avisados desde cedo do que se iria passar: aos cinco minutos de jogo, Gelson já tinha sido alvo de duas faltas duras - numa delas nem sequer marcou falta - e Montero de outra. Cartões é que nem vê-los. Pouco depois do golo anulado a Doumbia, há um possível lance de mão na bola na área do Feirense, mas não houve VAR nem Luís Ferreira que desse uma apreciação cuidada à jogada. Dois exemplos do critério disciplinar errático que exerceu: mostrou um amarelo a William por fazer falta a meio do meio-campo do Sporting sobre um adversário que estava marcado também por Mathieu, poucos minutos depois de ter poupado Kakuba numa falta ostensiva sobre Gelson junto à área do Feirense, quando o extremo se preparava para ganhar a linha de fundo; e o amarelo para Patrício após a segunda reposição de bola lenta (depois do 1-0), quando foram precisas cinco ou seis reposições lentas de Caio Secco para ver cartão. Junte-se a isso várias situações em que impediu o Sporting de marcar livres de forma rápida e a eternidade que demorava a tomar nota dos cartões que mostrava. Luís Ferreira pode não ter jeito para a arbitragem, mas deve ser dono de uma caligrafia irrepreensível.
Doumbia - teve a infelicidade de lhe ter sido anulado um golo após excelente iniciativa individual, mas esse foi, provavelmente, o único bom momento dos muitos em que lhe deram oportunidade para brilhar. Começou logo nos minutos iniciais quando William o solicitou em profundidade e dominou mal a bola - problema que viria a demonstrar mais vezes enquanto esteve em campo. No total, teve pelo menos quatro oportunidades que desperdiçou de forma escandalosa. Infelizmente, não está a ser o ponta-de-lança de que necessitamos para render Dost. Provavelmente terá a sua última grande oportunidade na quinta-feira no Cazaquistão, espero que não a desperdice.
MVP: Fredy Montero
Nota artística: 4
Lado positivo do que se passou? Acredito que a equipa tenha saído mais forte após ter superado este nível de adversidade, juntando-se à sequência da melhoria da qualidade do futebol praticado que já se tinha visto na Amoreira (apesar da derrota). Lado negativo? É mais uma arbitragem de campo inclinado, que tem sido frequente nos últimos tempos. Os padres estão a sentir a fragilidade e querem acabar o servicinho.