O ano de estreia de VAR no campeonato tem sido um processo de aprendizagem para todos aqueles que estão direta ou indiretamente envolvidos no fenómeno futebolístico: dirigentes, árbitros, treinadores, jogadores, jornalistas e adeptos. Em função da experiência que se foi adquirindo ao longo dos primeiros meses, foram surgindo novos esclarecimentos públicos sobre o âmbito de atuação do videoárbitro: o chamado protocolo.
O protocolo VAR é uma espécie de manual que estipula em que circunstâncias e em que termos pode haver recurso à tecnologia durante um jogo de futebol.
Sendo este um ano experimental, pode e deve haver tolerância para a existência de determinados tipos de lapsos que decorram de uma interpretação em circunstâncias mais complexas. Mas há limites para essa tolerância. Um erro grosseiro, não sujeito a interpretação, com VAR, significa apenas uma de duas coisas: ou o árbitro é incompetente ou o árbitro é desonesto.
É por isso que o VAR é um pau de dois bicos para os árbitros. Para aqueles que querem fazer um bom trabalho, é uma ferramenta preciosa que permite uma tomada de decisão mais sustentada. Para aqueles que estão na arbitragem com outros objetivos que não o cumprimento das regras, o VAR acaba por lhes roubar alguma liberdade para vislumbrarem o que não existiu ou fecharem os olhos ao que aconteceu. Uma má decisão tomada em tempo real podia sempre escudar-se na necessidade de julgar um lance no imediato e na capacidade de julgamento limitada ao campo de visão dos elementos da equipa de arbitragem (que podiam não estar no ângulo e distância ideais em relação ao local onde o caso aconteceu). Mas a existência de 7 ou 8 câmaras para consulta e a possibilidade de ter mais tempo para tomar uma decisão aniquila as desculpas que tantas vezes foram utilizadas pelos árbitros para justificar erros grosseiros.
Infelizmente, erros grosseiros continuam a acontecer, com mais frequência do que seria expectável. E de todos esses erros, o mais descarado aconteceu no Sporting - Feirense que se disputou este mês, quando o VAR Manuel Oliveira decidiu anular um golo limpo a Doumbia.
O protocolo do VAR sofreu uma certa evolução no que diz respeito ao ponto até que se deve recuar na análise da existência de alguma irregularidade num lance de golo: primeiro dizia-se que devia recuar até ao momento em que a equipa que marcou recuperou a bola; mais tarde passou a dizer-se que só deve recuar até ao início da vaga de ataque - entendendo-se por vaga de ataque a progressão continuada da equipa com posse de bola na direção da baliza adversária.
Num caso ou noutro, não existe qualquer justificação possível para que Manuel Oliveira tomasse a decisão que tomou, pois mandou anular um golo por causa de uma falta ocorrida antes da última posse de bola do Feirense. Em jeito de brincadeira, Manuel Oliveira decidiu, naquele momento, criar o seu próprio protocolo, mas a crua realidade é que cometeu um erro de tal forma escandaloso, que deveria ser suficiente para ser afastado da arbitragem em definitivo. Numa qualquer atividade que não o futebol, seria o suficiente para que os seus responsáveis nunca mais confiassem na sua competência ou boa vontade. Mas no futebol português, como é habitual em relação aos erros de arbitragem, a culpa morre solteira e é como se nada tivesse acontecido: Manuel Oliveira descansou uma semana e regressou aos relvados no fim-de-semana passado para arbitrar o Santa Clara - Gil Vicente. Afinal ainda há bons empregos...