sexta-feira, 23 de março de 2018

A “redução” de 100 milhões da dívida do Benfica



O Benfica anunciou no princípio do mês, por Domingos Soares de Oliveira, que irá levar a cabo uma operação de antecipação de receitas do contrato de direitos televisivos com a NOS na ordem dos 100 milhões de euros, utilizando depois esse dinheiro para abater a dívida bancária. Ontem, Luís Filipe Vieira voltou a recuperar o tema no discurso que fez na gala Cosme Damião, referindo, precisamente, que o Benfica se prepara para reduzir a dívida bancária em 100 milhões de euros.

É uma operação que poderá ser interessante para a SAD, no sentido em que se aliviará da pressão feita pelos bancos e até, eventualmente, poderá conseguir obter taxas de juro mais vantajosas.

Mas, a não ser que haja algum dado que não esteja a ser referido, isto não é nem uma redução da dívida nem uma redução do passivo. É apenas uma reestruturação da dívida, em que se troca um mecanismo (empréstimos bancários) por outro (factoring). Poderiam, em alternativa, ter contraído novo empréstimo obrigacionista - este ano vence um empréstimo de 45 milhões -, mas provavelmente seria complicado, com todos os casos judiciais que tem havido, conseguir arranjar investidores para uma verba tão elevada de uma só vez (os 45 milhões, mais os 100 milhões, mais 5 ou 10 milhões para gestão de tesouraria, que tem sido prática corrente na renovação deste tipo de empréstimos).

Basicamente, o Benfica vai ceder as receitas dos próximos anos do contrato da NOS a uma entidade financeira ainda não anunciada, recebendo de imediato os 100 milhões (provavelmente deduzidos de uma comissão) e entregando esse dinheiro à banca para abater os empréstimos existentes. Na prática, troca um tipo de dívida por outro do mesmo valor. Nem baixa a dívida global, nem baixa o passivo. Só baixará se o Benfica realizar paralelamente outros reembolsos utilizando dinheiro proveniente das suas receitas ordinárias (bilheteira, patrocínios) ou extraordinárias (vendas de jogadores).

Ou seja, esta troca nem é boa nem é má para as contas do Benfica. É uma opção financeira legítima que terá um impacto relativamente reduzido no estado geral das contas da SAD.

Muito interessante foi ver a análise de Rui Pedro Braz a esta questão. Sendo o comentador da TVI24 um feroz crítico da opção do Sporting em antecipar receitas, é natural que haja curiosidade para saber qual seria a sua reação a este anúncio do Benfica.

Mais uma vez, não desiludiu, como poderão observar no vídeo abaixo, que agrega duas intervenções feitas no espaço de um par de dias. Vejam, não se vão arrepender.

(obrigado, Diogo!)