quinta-feira, 1 de março de 2018

As contas do Sporting (1º semestre)

O Sporting divulgou ontem o relatório e contas referente ao primeiro semestre da época 2017/18, registando um lucro (ou, como costuma dizer um certo comentador, um défice positivo) de 10 milhões de euros. Mesmo tendo havido neste exercício uma única venda sonante (a de Adrien, que nem sequer foi por valores estratosféricos) e tendo havido um aumento significativo dos custos com pessoal (em virtude do reforço do plantel com jogadores com salários mais elevados do que os que saíram), a SAD conseguiu manter as contas equilibradas de forma a não ficar excessivamente dependente da vendas de jogadores graças à melhoria da maior parte das fontes de receita, algumas das quais de forma considerável. Adicionalmente, registou-se uma redução muito importante da dívida bancária face a junho de 2017: ao longo do 1º semestre, o Sporting reduziu o nível de financiamento em cerca de 17 milhões de euros

Vamos aos habituais gráficos com a evolução das principais componentes de receita do Sporting ao longo dos últimos anos.


Comparando este semestre com os períodos homólogos das épocas anteriores, salta à vista, evidentemente, o enorme aumento das receitas da Liga dos Campeões. O apuramento no playoff valeu 2 milhões, e a obtenção de 7 pontos permitiu ao Sporting amealhar 2,25 milhões a mais do que no ano passado. Também se deve registar um crescimento de 22% ao nível da bilheteira. As restantes rubricas tiveram uma evolução de crescimento moderada, com exceção dos direitos televisivos, que sofretam uma quebra ligeira devido à diminuição do valor do marketpool da UEFA.

Outro dos aspetos mais positivos destas contas foi o crescimento de 84% do segmento corporate, que se deveu, principalmente, à duplicação das receitas com camarotes. Esta era uma área em que estávamos incompreensivelmente distantes dos rivais, mas, com este aumento, as diferenças foram bastante atenuadas. Os bilhetes de época mantiveram o seu ritmo de aumento sustentado, com um crescimento de 13% face ao período homólogo da época anterior.


Na relação entre os proveitos e custos operacionais (ainda sem considerar as vendas de jogadores), mantém-se uma relação de peso idêntica à da época passada: os custos superam ligeiramente os proveitos. Não é, como é óbvio, uma situação ideal, mas, pelo menos, mantemo-nos a salvo de uma excessiva dependência da venda de jogadores, já que o aumento dos custos foi acompanhado por um aumento proporcional de receitas não extraordinárias.


Detalhando os custos, destaque para novo aumento significativo dos custos com pessoal, que coloca o Sporting, pela primeira vez em muitos anos, a gastar sensivelmente o mesmo que Porto e Benfica. O Porto continua a ser a equipa que mais gasta, o Sporting é o segundo clube que mais gasta, e o Benfica é o terceiro, mas todos com valores bastante semelhantes: FCP - 38,1M; SCP - 37,7M; SLB - 35,3M. Os FSE's (custos de estrutura/funcionamento da SAD) voltaram pela primeira vez ao nível da última época de Godinho Lopes. Nada de preocupante, no entanto: não só as receitas de hoje são incomparavelmente superiores às de então, como continua a haver rigor nos gastos - que, a este nível, são cerca de metade dos custos dos nossos rivais. 


Outra das excelentes notícias que este relatório e contas nos deu tem a ver com o endividamento: ao longo do 1º semestre, ou seja, entre junho e dezembro de 2017, a dívida bancária e de factoring do Sporting desceu cerca de 17 milhões de euros, passando dos 127 para perto de 110 milhões. Isto é reflexo, em parte, da percentagem das mais-valias das vendas de jogadores realizadas durante o exercício de 2016/17 (Slimani, João Mário, Naldo e Rúben Semedo) ao abrigo do acordo de reestruturação assinado com a banca.


Relativamente à conta de reserva para a recompra de VMOC's, estão neste momento amealhados 5,1 milhões de euros (um aumento de 2 milhões face a 2016/17). Um valor que ficou aquém da previsão de 10 milhões que foi feito no R&C da época passada, mas que, ainda assim, está dentro do ritmo necessário para acumular o valor necessário para resolver o problema das VMOC's antes do seu vencimento.

Em breve farei o habitual comparativo das contas do Sporting com as de Benfica e Porto.