O comunicado emitido ontem pela SAD estende a polémica em que o Sporting está metido para mais uma dimensão: a financeira. Refere que o estado atual do clube compromete os planos de renovação do empréstimo obrigacionista emitido em 2015 - incluindo o adiamento do reembolso aos investidores -, abrindo hipóteses que não são propriamente tranquilizadoras.
Em primeiro lugar, parece-me que o comunicado é demasiado vago para estarmos a tirar conclusões prematuras. E a conclusão mais prematura de todas é pensar que a situação financeira do Sporting é pior do que aquela que os relatórios e contas deixam entender. É óbvio que o Sporting não tem nem nunca teria liquidez para pagar o empréstimo obrigacionista que está prestes a vencer. Nem o Sporting, e muito menos os seus rivais terão quando chegar a sua vez de reembolsar os seus empréstimos, convém lembrar. A solução, como faz qualquer outro clube que recorre a esta ferramenta de financiamento, é pedir um novo empréstimo obrigacionista para pagar o anterior. A única dúvida, normalmente, reside no montante do novo empréstimo: conseguirá a SAD evitar uma emissão de valor superior, como tem sido norma?
No comunicado pode ler-se que a operação para emissão de novo empréstimo obrigacionista já se encontrava em curso, para um montante de 30 milhões (ou seja, igual ao anterior), mas ficando a SAD com opção de aumentar esse valor em função da procura registada. Espero que isso não aconteça - porque não se deve facilitar o crescimento da bola de neve -, mas, na prática, não é nada que não tenha acontecido antes: por exemplo, o Benfica, na sua última emissão, em 2017, tinha como objetivo anunciado um valor de 50 milhões de euros, mas acabaria por aumentar o valor do empréstimo para 60 milhões após o fecho do período de subscrição.
Aliás, basta olhar para o histórico dos empréstimos obrigacionistas contraídos pelos grandes para perceber qual tem sido a regra: sempre a crescer.
Sendo esta, portanto, uma operação de rotina, mais estranho é que a SAD tenha decidido emitir um comunicado que deixe tantas dúvidas no ar. Por que razão concreta consideram que está em risco esta nova emissão - será sempre uma questão de oferecer uma taxa de juro um pouco mais atrativa - e abrem a possibilidade de adiar o reembolso do empréstimo obrigacionista contraído em 2015?
Há várias hipóteses que podem ser colocadas de quem está de fora, algumas mais preocupantes que outras:
- Houve algum dos habituais grandes investidores deste tipo de títulos que fez saber à SAD que não está interessado em renovar o empréstimo? (lembro que a maior fatia do valor subscrito neste tipo de empréstimos está normalmente concentrado num número muito pequeno de investidores)
- Consideram que, no atual momento de instabilidade, existem hipóteses de a nova emissão não ter sucesso praticando taxas de juro ao nível do que se pratica atualmente no mercado? Ou seja, estamos a falar de uma gestão de timing que permita empurrar a emissão para um momento em que a situação do Sporting esteja normalizada e em que o juro oferecido possa ser mais favorável para a SAD?
- É um estratagema para evitar que se realize uma AG?
Parece-me importante que haja um esclarecimento adicional por parte da administração da SAD, porque algumas destas hipóteses são inquietantes. Sinceramente, penso que a explicação mais provável é a segunda das que apresento em cima, mas seria bom ouvi-lo da boca de quem tem responsabilidades. De preferência de Carlos Vieira.
A única coisa certa, no meio disto tudo, é que se trata de mais uma consequência nefasta das palavras de Bruno de Carvalho. Como se não bastasse o problema de gestão do plantel e o atrito gerado entre os sócios, agora passou para o plano financeiro. Se o presidente continuar no cargo, se isto não lhe servir de lição para perceber aquilo que não pode fazer, então não sei o que servirá.