O pedido de demissão de Frederico Varandas e imediato anúncio de que se assume como candidato à presidência do Sporting provocou uma resposta muito forte por parte da direção - primeiro em comunicado e depois pela boca de Bruno de Carvalho na conferência de imprensa de ontem - e também foi alvo de críticas por parte de muitos sportinguistas.
Vamos separar esta questão em duas partes: primeiro a demissão, e depois a candidatura.
O comunicado inicial da direção fala num pedido de demissão "inusitado" e deixa entender que a decisão de Frederico Varandas é inoportuna por ocorrer numa altura em que o futebol feminino, o futebol jovem e várias modalidades ainda estão em competição. À noite, Bruno de Carvalho recuperou as metáforas militares utilizadas pelo ex-diretor clínico nas entrevistas dadas a vários órgãos de comunicação social e acusou-o de deserção.
Não concordo com esta argumentação. Na minha opinião, Frederico Varandas saiu num momento adequado. Não queria continuar por não se rever na liderança do clube e saiu mal acabou a época de futebol sénior, dando tempo à direção de encontrar um substituto antes do início da nova temporada. Não faz sentido que a direção invoque que o médico tinha as mesmas obrigações para com as outras equipas ainda em competição. Por esse prisma, Varandas nunca poderia sair do Sporting, pois há sempre competições a decorrer. Quando, por exemplo, o futsal concluir os playoffs, já a equipa de futebol sénior estará a trabalhar na preparação da nova época. Por aqui não há lugar a críticas, apenas um agradecimento pelo trabalho realizado.
Quanto ao timing da candidatura, pode-se questionar se, de todos os dias, o anúncio teria de ser feito ontem - sabendo-se que havia uma reunião decisiva ao princípio da noite. No entanto, não concordo com quem o acusa de oportunismo por se candidatar numa altura em que ainda não se iniciou um processo eleitoral. Pelo contrário. Acho muito importante que os candidatos apareçam ANTES da AG. É de todo o interesse dos sócios que se conheçam as alternativas a Bruno de Carvalho no momento em que forem votar a favor ou contra a destituição desta direção. Só assim poderão votar em plena consciência das possíveis consequências que a sua decisão poderá ter, seja num sentido ou noutro.
Não vou deixar aqui qualquer declaração de interesses, porque não tenho interesses para declarar. Não conheço pessoalmente Frederico Varandas nem faço ideia de quais os apoios que terá recolhido antes de ter decidido candidatar-se. Em teoria, acho que é um nome forte para umas futuras eleições: é jovem, fez um trabalho reconhecidamente de excelência ao longo dos anos em que esteve ao serviço do clube, conhecerá certamente todos os cantos à casa, e qualquer pessoa minimamente atenta sabe que vive o clube intensamente e não é menos sportinguista do que qualquer outro sócio. Agora, quer isso dizer que dará um bom presidente? Não faço ideia, essa é uma pergunta a que ninguém poderá responder - e muito menos quem não o conheça bem. Já tivemos no passado presidentes que foram grandes surpresas e grandes desilusões face às expetativas que criaram enquanto candidatos. Num cenário de eleições pós-AG, não escondo que o candidato Frederico Varandas tem um perfil que à partida me agrada, mas a minha decisão acabará por depender decisivamente do programa que apresentar e da equipa que o rodear - e também, obviamente, das outras listas que se apresentarem a votos.
Todos os sportinguistas têm a sua opinião sobre o caminho que acham mais adequado para o futuro do clube, mas parece-me que ninguém tem a ganhar com ataques gratuitos a candidatos pelo simples facto de... serem candidatos. Isto é válido para todos, independentemente da pessoa que apoiem. Acredito que aparecerão mais candidatos, vamos passar por um período em que muitas coisas serão ditas, prometidas e criticadas, muitos erros serão cometidos nesse percurso - ainda ontem Frederico Varandas teve um comentário dispensável em relação ao assunto das rescisões -, mas o mais importante é que todos tenham liberdade total para apresentar e discutir ideias porque, quando e se a altura chegar, também os sócios terão liberdade total para escolher a pessoa que, na sua opinião, terá melhores condições para liderar o clube em direção dos sucessos que todos desejamos.