terça-feira, 28 de agosto de 2018

A Tribuna da Amizade

Nuno Gonçalves é sportinguista e foi escolhido por alguém na RTP para representar o clube no programa Trio de Ataque. Já não me lembro da última vez que tinha visto este programa - suponho que terá sido há bem mais de um ano, porque foi no tempo de Rui Oliveira e Costa (e entretanto já por lá esteve Augusto Inácio) -, mas fui forçado a interromper este abençoado jejum porque ontem vi esta imagem inacreditável a correr pelo Twitter:


Tribuna da amizade. Nuno Gonçalves, adepto sportinguista, não só aprova a decisão da Comissão de Gestão de aceitar o convite benfiquista para marcar presença na tribuna presidencial do Estádio da Luz, como acha até que foi o facto mais positivo da semana. Explicou-a da seguinte forma:


"Não ir ontem à tribuna era basicamente dizer que nós ainda nos revemos no que o que estava aqui antes fazia. Eu acho que era fundamental que o Sousa Cintra fez ontem dizer que nós estamos radicalmente diferentes do que o Bruno de Carvalho estava, porque não ir ontem à tribuna era basicamente dizer que o que o outro senhor tinha feito - ia para a claque, havia aquele circo todo à volta - estava correto, e eu acho que não."


As pessoas têm direito a pensar como quiserem, mas não vejo pior argumentação do que começar a justificar uma opção polémica pela necessidade de fazer precisamente o oposto que o antigo presidente fazia. Como todos sabemos, Bruno de Carvalho cometeu muitos erros (e alguns muito graves) ao longo dos seus cinco anos de presidência, mas rejeitar qualquer relacionamento formal com o Benfica não foi definitivamente um deles.

Foi o Benfica que atacou miseravelmente o Sporting após termos contratado Jorge Jesus, com quem Vieira não quis renovar. Foi o Benfica que criou o hábito de oferecer vouchers de refeição aos árbitros - Bruno de Carvalho denunciou a situação. Foi a direção benfiquista que qualificou como folclore os protestos do Sporting pelo arremesso de petardos para uma bancada repleta de sportinguistas por parte de claques do Benfica. Foi a direção benfiquista que procurou branquear o assassinato de um adepto sportinguista às mãos de um elemento de uma claque do Benfica. Foi o presidente benfiquista que disse aos sócios numa AG que iria tentar contratar jogadores que tinham rescindido com o Sporting. O Benfica é o clube que, confirmando-se os factos que estão em investigação pela PJ, roubou o campeonato 2015/16 ao Sporting através do aliciamento de jogadores adversários. Que tem os padres e os meninos queridos. Que montou uma rede de informadores no aparelho da justiça para ter acesso a processos judiciais confidenciais, alguns dos quais diziam respeito ao Sporting.


Curiosamente, deu-se a coincidência temporal de esta atitude da Comissão de Gestão ter acontecido menos de 48 horas antes de a SAD benfiquista ter sido constituída arguida no âmbito do caso e-toupeira.

Cortar as relações com o Benfica de Vieira é a única atitude razoável perante tudo aquilo que nos fizeram nos últimos anos.

A atitude da Comissão de Gestão é incompreensível e não há nada que a possa justificar aos olhos de qualquer sportinguista com memória, e muito menos utilizando o argumento de que é o contrário do que o anterior presidente fazia. É que se essa linha de raciocínio ganhasse adeptos entre os dirigentes do Sporting, então não tardaria muito para começarmos a trabalhar para fechar modalidades, para dar prejuízos constantes ou para demolir o pavilhão e vendermos o terreno a preço de saldo...