Infelizmente, confirmaram-se as notícias do final da semana passada que indicavam que a Comissão de Gestão iria aceitar o convite da direção benfiquista para assistir ao dérbi do último sábado na tribuna presidencial do Estádio da Luz.
Quem elogia a atitude diz que é um sinal de paz importante para o futebol português. Não concordo, mesmo não me considerando uma pessoa que prefira viver num estado de guerra permanente. Respeito a generalidade dos adeptos benfiquistas, os meus melhores amigos são benfiquistas, já vi vários dérbis junto de benfiquistas, conhecidos e desconhecidos, e não me incomoda minimamente que vibrem ao meu lado com seu clube da mesma forma que vibro com o meu. Sou capaz de discutir futebol com benfiquistas de forma civilizada em qualquer circunstância desde que haja o mesmo respeito do outro lado.
Claro que preferiria que não existissem os problemas que existem entre o Sporting e o Benfica, mas é impossível ignorar que alguns dirigentes de topo do Benfica são um cancro para o desporto nacional e, em particular, para o futebol. Na sua demanda para estabelecerem o seu poder, atacam há anos o Sporting e os seus interesses utilizando os métodos mais rasteiros que se possam imaginar, que ultrapassam todos os limites aceitáveis de convivência desportiva. O meu problema é exclusivamente com esses dirigentes, não com os adeptos do Benfica.
Como tal, considero que Sousa Cintra, Torres Pereira, Marta Soares, Henrique Monteiro e os restantes dirigentes dos órgãos sociais do Sporting extravasaram de forma inaceitável as suas competências ao tomarem a decisão de aceitarem o convite do Benfica. A Comissão de Gestão não é um órgão sufragado pelos sócios e as suas responsabilidades devem limitar-se a decisões de gestão corrente. Ora, um reatamento de relações com o Benfica é tudo menos uma decisão de gestão corrente, face a tudo o que tem acontecido. Estamos a apenas duas semanas das eleições, pelo que a única atitude aceitável dos órgãos sociais atuais seria deixarem para a futura direção eleita a decisão sobre se devemos ou não reestabelecer as relações com o rival.
Infelizmente, a Comissão de Gestão não se limitou a aceitar o convite para marcar presença na tribuna presidencial, como ainda obrigou os sportinguistas a suportar a humilhação de os ver a darem exclusivos à BTV - falamos dos mesmos dirigentes que, desde que entraram em funções, nunca se dignaram a pôr os pés na Sporting TV.
Não me incomoda que Cintra faça aquelas conferências de imprensa castiças de apresentação de jogadores, carregadas de incorreções, calinadas e promessas desnecessárias (até acho graça), não me incomoda que Cintra desça ao relvado para dar uns toques com os craques que contrata, não me incomoda que Cintra confunda Salin com Renan e diga que o guarda-redes francês foi contratação sua de última hora, e nem sequer me incomoda particularmente que Cintra decida falar à imprensa à mesma hora que Peseiro dava a sua conferência de imprensa. Mas todas estas coisas juntas demonstram que Cintra está ávido para ter palco, e tenho quase a certeza que esta decisão de aceitar o convite do Benfica foi motivada, sobretudo, pelo desejo de aparecer e por saber que choverão elogios da comunicação social e dos comentadores que povoam os canais de informação.
Já se percebeu que Cintra, Torres Pereira e Marta Soares ADORAM o ser o centro das atenções e que a partir de dia 9 de setembro dificilmente voltarão a ter um palco desta dimensão, mas por tudo o que tem acontecido ao longo dos últimos anos, não podiam ter tomado esta decisão de ânimo leve apenas para garantirem mais umas quantas manchetes e reportagens com os seus nomes e sem pensarem na dignidade do clube e dos sócios que supostamente deveriam representar. Há caprichos pessoais que se toleram em quem exerce o poder, mas, neste caso, simplesmente não é admissível. Tenham vergonha.