domingo, 2 de setembro de 2018

Muito mais que três pontos

Por todos os motivos e mais algum, o jogo de ontem era daqueles em que não podíamos perder pontos. No entanto, as dificuldade exibicionais que temos revelado e o bom arranque de época do Feirense deixavam antever uma partida complicada, e foi precisamente isso que se verificou. Apesar de uma boa entrada do Sporting no jogo, o Feirense foi progressivamente adaptando-se de forma a tapar os caminhos para a sua área - é certo que as oportunidades de golo não deixaram de ir aparecendo, mas nunca num ritmo que indiciasse qualquer tipo de domínio total das operações. O facto de o golo apenas ter aparecido aos 88 minutos é prova suficiente das dificuldades que o Sporting teve para conquistar os três pontos.

Foi uma vitória justa face à quantidade de oportunidades de golo que o Sporting criou, mas não nos podemos iludir: se os problemas crónicos deste modelo de Peseiro se mantiverem, estaremos sujeitos a perder pontos em qualquer jogo.




Muito mais que três pontos - o Sporting voltou a ter uma exibição pouco cativante, mas isso é neste momento uma questão secundária, por dois motivos. O primeiro é chegámos ao fim deste primeiro ciclo de jogos com quatro bons resultados, permitindo que Peseiro tenha a tranquilidade necessária para utilizar as próximas três semanas para integrar os últimos reforços e começar a corrigir os vários problemas que estão à vista de todos. O segundo, tão ou mais importante, é que os sportinguistas poderão concentrar-se nas eleições da próxima semana sem o empecilho de um mau resultado no futebol a intrometer-se numa decisão importantíssima.

Talismã - Jovane entrou e abanou de imediato o jogo, demonstrando que a velocidade e pujança física são atributos sempre úteis quando não existem processos coletivos que arranjem os espaços para criar perigo. Pela terceira vez entrou, pela terceira vez foi decisivo - depois de sofrer um penálti e de fazer uma assistência, desta vez contribuiu com o único golo da partida. Seria impossível desejar um melhor início de época.

Raphinha mais dez - o uso desta expressão é obviamente um exagero, considerando que existem outros jogadores que são imprescindíveis, mas Raphinha não só justificou mais uma vez a titularidade como demonstrou argumentos mais que suficientes para a manter nos próximos jogos. O ponto mais alto da sua exibição foi o genial momento de inspiração no lance do golo, ao colocar a bola por entre as pernas de Alphonse a solicitar Ristovski, que faria a assistência para Jovane (a segunda em quatro jogos). Mas houve bastante mais Raphinha no resto do jogo, tendo sido o elemento que mais sobressaiu numa exibição frouxa da equipa, graças ao bom uso que faz da sua capacidade de explosão e da qualidade que tem no momento de definir.

Nani organizador - parece-me claramente desperdiçado quando joga encostado à ala. O atual mau momento por que Bruno Fernandes e a inexistência de um meio-campo com passa acaba por fazer recair em Nani a responsabilidade de organizar o ataque. As suas pausas costumam irritar as bancadas, mas não houve um único caso em que não tenha acabado por fazer o melhor para a equipa.



Meio-campo procura-se - é o maior problema que Peseiro tem para resolver. Na primeira parte foi fraco, mas nos primeiros vinte minutos da segunda foi angustiante. Quando tem a bola, a equipa joga partida em dois blocos porque nem Battaglia nem Acuña (ou Misic, ou Petrovic) demonstram capacidade para fazer a ligação entre eles quando existe qualquer tipo de oposição à saída para o ataque. A consequência é que acabam por ser os centrais a bombear o esférico para a frente, onde os extremos ou o ponta-de-lança estão entregues a si próprios contra um marcador direto que está de frente para o jogo. Como seria de esperar, são muito mais os lances que se perdem do que os que acabam por dar em alguma coisa. Espero que Gudelj e (mais tarde) Sturaro tragam a qualidade necessária para a posição.

Insistência nos cruzamentos - entendo que se use e abuse dos cruzamentos pelo ar quando Dost está em campo... mas quando os homens que estão na área são Montero/Nani ou Montero/Raphinha ou Montero/Bruno Fernandes... não me parece uma estratégia que faça qualquer sentido.

O que vê Peseiro em Jefferson? - não comprometeu defensivamente - também há que dizer que não foi muito colocado à prova -, mas teve mais uma exibição paupérrima. Não conseguiu fazer um único cruzamento em condições, o que me leva a perguntar o que raio vê Peseiro nele? A opção óbvia seria Acuña, que como lateral será certamente mais útil do que médio ou extremo -, mas se há algum constrangimento a esse nível por falta de vontade do jogador ou cegueira do treinador... que se experimente Lumor. Pior não será de certeza.



MVP - Raphinha

Nota artística - 2

Arbitragem - Rui Oliveira teve um critério largo no julgamento de faltas e, apesar dos 10 amarelos que mostrou, notou-se que procurou evitou puxar dos cartões. Cometeu alguns erros disciplinares ou de apreciação de faltas, distribuídos de forma equilibrada pelas duas equipas, mas parece-me que o jogo ganhou com a forma como conduziu a partida.



Três vitórias e um empate (que valem a liderança partilhada) é um começo de campeonato que excede as (baixas) expetativas que tinha para este arranque. É verdade que as exibições têm sido sofríveis, mas nesta altura o que interessa é ir ganhando nem que seja por meio a zero. A pausa que agora haverá traz mais responsabilidade para o treinador. A tolerância dos adeptos para a atual fraca qualidade de jogo terá tendência para diminuir caso não se vislumbrem melhorias e, sobretudo porque, jogando assim, estaremos muito mais perto de perder pontos caso a sorte do jogo não esteja connosco.