domingo, 10 de março de 2019

Uma questão de prioridades

Ontem, no Bessa, havia três pontos para ganhar e os três pontos foram conquistados. Apesar de a "luta" pelo 3º lugar ser algo que não aquece nem arrefece, é importante ir amealhando todos os pontos em disputa de forma a não agravar a crise desportiva que atravessamos. Nesse sentido, a vitória de ontem, apesar de sofrida, foi uma missão cumprida. No entanto, ir ganhando não é suficiente. É fundamental aproveitar os jogos do campeonato que nos restam para ir lançando, na medida do possível, a próxima temporada - desenvolvendo jogadores, ambientando os reforços às particularidades do futebol português, e evitar a utilização daqueles que já se sabe que não farão parte do plantel de 2019/20.

Infelizmente, parece faltar ao futebol do Sporting uma estratégia a médio prazo face à ausência de objetivos relevantes a curto prazo. Ou - igualmente preocupante - a estrutura de futebol do Sporting poderá ter uma estratégia definida nesse sentido, mas, nesse caso, Keizer não estará a colaborar na sua implementação. Seguem-se dois exemplos.

Primeiro, Gudelj. Foi novamente titular e, para não variar, foi uma espécie de elemento neutro no coletivo: não só defende sofrivelmente como não acrescenta nada ao ataque, ao ponto de Coates e Mathieu terem sido mais úteis e incisivos na manobra ofensiva. João Pinheiro fez-nos o favor de amarelar o sérvio num lance que não justificava qualquer cartão, assegurando, assim, que ficará de fora por suspensão contra o Santa Clara. Ao invés, Doumbia - que, em teoria, veio em janeiro para reforçar o nosso meio-campo defensivo - teve uns míseros quinze minutos para mostrar serviço. Mais uma vez aproveitou-os bem, deixando-me (e seguramente a muitos outros sportinguistas, nos quais, aparentemente, não se inclui o treinador) com vontade de o ver mais tempo em campo.

Segundo, as opções de ataque para o Bessa. Dost ficou em Lisboa por lesão. Luiz Phellype foi titular à força e ficámos com Diaby como primeira opção de banco para ponta-de-lança e extremo. Esta última frase, de tão deprimente que é, demonstra bem a falta de soluções que temos na frente. Para mim, é inconcebível que Diaby - um flop caríssimo - fique no Sporting na próxima época e que Luiz Phellype seja mais do que uma terceira opção para ponta-de-lança. Em Portugal, a receita para o título obriga à existência de dois avançados titulares que valham 15 ou mais golos por época e, neste momento - considerando o fosso psicológico em que Dost está metido - o Sporting não tem nenhum. Mas não faria mais sentido ter-se levado ontem um ponta-de-lança dos sub-23 para o banco, em vez de lá termos dois centrais (André Pinto e Ilori)? 

Voltando ao jogo. Mesmo jogando com menos dois (e menos três a partir dos 75'), o Sporting fez mais do que o suficiente para ganhar ao Boavista e justificou a vitória. Depois de se ver a perder desde praticamente o início do jogo em mais um lance digno dos apanhados, a equipa de Keizer dominou a partida por completo e criou variadíssimas oportunidades para marcar. A indefinição no marcador até ao fim apenas se explica pelas tais carências no ataque: o Sporting fez 22 remates, 15 dos quais dentro da área, o que significa que chegou com muita facilidade à área de Bracalli mas que falhou redondamente no momento da finalização. Frente a um Boavista tão frágil, não deveria ter sido necessário recorrer ao tempo de descontos para consumar a reviravolta no marcador.

Em relação às exibições dos nossos jogadores, destaques positivos para Acuña (a raça pode ser uma qualidade valiosa quando a falta de confiança emperra os processos coletivos), Coates (foi capaz de desequilibrar em condução, à falta de médios que fizessem o mesmo), Raphinha (a espaços, é certo, mas foi decisivo no resultado), Mathieu (que falta nos fez a sua classe nas últimas semanas), Borja (mais um bom jogo, confirmando que é reforço) e Doumbia (no pouco tempo que esteve em campo).

O penálti que nos deu a vitória é polémico. Eu não o teria assinalado - não vi intensidade suficiente no toque de Edu Machado sobre Raphinha -, mas também não teria assinalado uns seis ou sete lances idênticos a meio-campo que João Pinheiro considerou falta. O árbitro manteve o (mau) critério que seguira até então e o VAR não tinha poder para reverter a decisão. Dispensa-se, no entanto, o rasgar de vestes dos indignados que, aparentemente, andam distraídos e não têm reparado nas inqualificáveis arbitragens que têm prejudicado o Sporting de novembro para cá.