“E isso levanta outra questão: faz sentido Keizer continuar perante a falta de evolução coletiva do nosso futebol e a falta de desenvolvimento das individualidades que temos no plantel? Diria que não, e já nem sei se uma eventual (e altamente improvável) vitória na Taça de Portugal poderá mudar o panorama.”
Escrevi as linhas acima no final da vitória em Chaves há cerca de dois meses. Tínhamos acabado de vencer essa partida por 3-1, mas a exibição deixou muito a desejar. O Sporting adiantou-se no marcador na primeira parte por Luiz Phellype – que se estreava a marcar pelo clube – e, apesar de a exibição estar a ser frouxa, tudo parecia bem encaminhado quando o Chaves se viu reduzido a 10 jogadores pouco depois do regresso dos balneários. No entanto, aconteceu o impensável: os jogadores do Sporting entraram em descompressão e foi o Chaves que pegou no jogo e chegou ao empate. O Sporting acabaria por marcar por Bruno Fernandes e Luiz Phellype, mas a verdade é que não se livrou de um susto completamente desnecessário. À semelhança dos jogos anteriores, a qualidade de jogo não atingiu os mínimos exigíveis. Keizer tardava a elevar os níveis exibicionais numa altura em que se preparava para receber o Benfica para a Taça de Portugal.
É justo recordar que Keizer entrou em meados de novembro. Não fez a pré-temporada, não escolheu jogadores. Para piorar, não teve tempo para trabalhar a equipa em dezembro, janeiro e fevereiro - meses em que o Sporting jogou sistematicamente duas vezes por semana. Jogava, recuperava fisicamente, voltava a jogar, e não podia treinar. Recebeu em janeiro jogadores relativamente inexperientes que, apesar de acrescentarem valor ao plantel, necessitavam de algum tempo de adaptação ao clube ou ao país. Em março, altura em que o Sporting voltou ao ritmo de um jogo por semana, Keizer registou 4 vitórias em 4 jogos pouco convincentes.
Mas sabemos o que aconteceu daí para a frente. Dias depois, o Sporting apurar-se-ia para a final da Taça de Portugal eliminando o Benfica. Nas semanas seguintes, manteve a interessante sequência de vitórias em que a equipa, apesar de não ter deslumbrado, foi demonstrando uma maior consistência de jogo e solidez defensiva. As duas últimas jornadas do campeonato interromperam a série de dez vitória consecutivas, mas em circunstâncias adversas graças às expulsões de Ristovski contra o Tondela e Borja contra o Porto ainda na primeira parte de cada uma dessas partidas. Keizer terminou a época em grande vencendo a Taça de Portugal na conversão de grandes penalidades.
Terá sido suficiente para mudar o panorama negativo que referia há dois meses?
Na minha opinião, sim. A boa ponta final de temporada mostrou um Keizer capaz de aproveitar a cadência de uma partida semanal para construir um onze mais sólido, estável e competitivo – mais assente no pragmatismo do que na filosofia inicial de vendaval ofensivo -, um Keizer que parece ter conquistado a confiança do grupo de trabalho e, sobretudo, um Keizer bastante mais adaptado às características e peculiaridades do futebol português. Apesar disso, mentiria se dissesse que não tenho algumas dúvidas em relação à capacidade de Keizer para nos levar ao tão ambicionado título de campeão. Como fará a gestão do plantel entre outubro e fevereiro? Saberá estabelecer prioridades mantendo o foco sobretudo no campeonato? Conseguirá construir soluções de banco de forma a poder gerir o plantel de forma mais equilibrada e, em particular, tratar com pinças a condição física de jogadores como Mathieu?
Apesar destas dúvidas, parece-me indiscutível que Keizer registou progressos (e resultados) mais que suficientes que justificam a sua continuidade. Vamos ver o que conseguirá fazer na época de 2019/20, desta vez planeando-a e desenvolvendo-a de início com a sua filosofia, com os seus métodos e com os seus jogadores. Tudo isto significa que terá melhores condições para desenvolver o seu trabalho, mas também terá de ter consciência que o nível de exigência relativamente à qualidade do futebol será inevitavelmente superior. Que consiga corresponder às melhores expetativas dos sócios e adeptos do Sporting.