Não havia necessidade. Era escusado sermos submetidos novamente a mais um violento teste de stress ao sistema cardíaco, mas, à boa maneira das últimas conquistas do Sporting no futebol, a final da Taça de Portugal reservava aos sportinguistas mais uma montanha russa de sentimentos que nos levou da iminente euforia à depressão e da depressão à euforia final no espaço de poucos minutos.
As dificuldades enfrentadas foram mais que muitas. As ausências e lesões obrigaram Keizer a rapar o fundo ao tacho do plantel, indo a jogo com Bruno Gaspar e Diaby - que fez uma primeira parte surpreendentemente boa - e acabando com Ilori a lateral e Jefferson a médio centro. Há que reconhecer que o Porto dominou grande parte do jogo pela intensidade colocada na pressão e nos duelos a meio-campo, criando frequentemente perigo nas bolas paradas e quando esticava o jogo à procura de Soares e, principalmente, Marega.
Mas há que dizer que esse domínio também aconteceu com a prestimosa colaboração da equipa de arbitragem. Jorge Sousa demonstrou que para se ser o melhor árbitro em Portugal não é necessário ser o que mais decisões acerta: basta saber como inclinar um campo sem afetar a nota que receberá. Essa habilidosa condução de jogo refletiu-se numa óbvia e constante dualidade de critérios na marcação de faltas e na punição disciplinar - incluindo uma expulsão perdoada a Manafá por agressão a Bruno Fernandes -, ou, por exemplo, na interrupção de uma jogada de contra-ataque do Sporting para mostrar um amarelo a Danilo por pisão (curiosamente, igual ao que valeu vermelho a Ristovski e o deixou de fora desta final). Mas não foi apenas isso: é um escândalo que o primeiro golo do Porto não tenha sido anulado por braço de Herrera na bola (jogar a bola com aquela área do ombro é ilegal). Foi uma infração clara cometida mesmo à minha frente e não é aceitável que nem fiscal-de-linha nem VAR tenham assinalado a falta. O mesmo fiscal-de-linha que conseguiu não ver um fora-de-jogo de um metro de Marega no golo que o VAR anulou.
Dificuldades que, juntando-se à forma como o Porto chegou ao empate nos descontos da segunda parte de prolongamento, quando já cheirávamos a Taça, e à grande penalidade falhada por Dost na abertura da nossa série, nos levaram-mais uma vez a explorar os limites do sofrimento que um adepto pode suportar.
Um sofrimento que, no final, se transformaria na mais saborosa das emoções e numa conquista que ficará na nossa memória durante muitos anos: a dança de Renan entre os postes e a fa-bu-lo-sa estirada para sacudir o remate de Fernando Andrade, a frieza do improvável Luiz Phellype a garantir um troféu que todos desejávamos (e precisávamos) intensamente - tão bem ilustrado pelas lágrimas do gigante Mathieu no final -, e ainda a épica subida à tribuna dos jogadores (e em particular de Renan) num fantástico momento de comunhão com os adeptos que os ladeavam. E foi a linda festa em Alvalade.
Nós merecemos muito isto. Agora é tempo de desfrutar.