quarta-feira, 5 de junho de 2019

O cúmulo do descaramento


Sou o primeiro a conceder que as circunstâncias em que Sousa Cintra e José Peseiro entraram no Sporting não eram fáceis. O período era de enorme turbulência, o clube encontrava-se completamente fraturado e as indefinições eram mais que muitas. Também é indiscutível que, mal ou bem, tanto Cintra como Peseiro fazem parte da época que acabou com a conquista de dois títulos. Foram eles que tomaram as decisões que formaram o plantel com que o Sporting atacou a época. Por isso, a sua influência no decurso da temporada é indesmentível.

No entanto, antes de entregar os louros que ambos reclamaram recentemente pela conquista dos dois títulos, é preciso fazer uma outra pergunta: o Sporting ganhou a Taça de Portugal e a Taça da Liga graças ao trabalho de Cintra e Peseiro... ou o Sporting ganhou a Taça de Portugal e a Taça da Liga apesar do trabalho de Cintra e Peseiro?

A resposta certa será graças e apesar. Renan, jogador fundamental pelo que fez nos penáltis, foi contratado por Cintra a pedido de Peseiro. Bruno Fernandes, o jogador que acabou por ser o motor da equipa, foi recuperado por Cintra. E acaba aí o contributo positivo de ambos.

Avancemos para o resto. O Sporting conquistou os dois títulos apesar do plantel desequilibrado e carente de qualidade. É certo que não se pode culpar Cintra por haver tantos jogadores inúteis que transitaram da época anterior, mas podiam ter feito um esforço para tentar libertar alguns deles e abrir espaço para outros que efetivamente pudessem acrescentar valor. Podemos também falar dos erros de avaliação de Peseiro, que não achou necessário contratar um ponta-de-lança que competisse com Dost, que não achou necessário contratar Fábio Coentrão por achar que Jefferson era melhor, mas que deu o aval para que Cintra estourasse 5,5 milhões na aquisição do inútil Diaby - descrevendo-o na altura como o jogador mais rápido do futebol português.

(via @CantinhoMorais)
O Sporting conquistou o título apesar do futebol miserável que praticou até ao despedimento de Peseiro. Vale a pena recordar que a qualificação para a Taça da Liga ficou comprometida quando fomos derrotados em Alvalade pelo Estoril, da segunda divisão. A única coisa positiva que saiu dessa noite foi mesmo o despedimento do treinador. Ou a deprimente exibição em campo neutro com o Loures para a Taça de Portugal, bem ilustrada pela imagem da equipa técnica a olhar desesperadamente para o relógio na esperança que os ponteiros andassem mais depressa e evitassem o possível golo do empate de uma equipa que terminou a época em 7º lugar do grupo D do Campeonato de Portugal.

Para além da frase que podem ler na imagem, Peseiro queixou-se de ter sido maltratado no Sporting. Não, José Peseiro. O futebol do Sporting é que foi maltratado pelo treinador que teve - indeciso, inapto para liderar competentemente um grupo de jogadores, e incapaz de colocar a equipa a jogar um futebol minimamente decente.

Quanto a Cintra, é de um descaramento completo dizer que o Sporting podia ter sido campeão caso a direção de Frederico Varandas não tivesse feito as movimentações que fez. Essas movimentações, apesar dos constrangimentos de tempo e dinheiro, salvaram a época de uma tragédia apenas equiparável à de 2012/13. 

Volto a dizer: as circunstâncias em que Cintra entrou no Sporting não eram fáceis. Mas qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e conhecimento do futebol seria capaz de fazer bem melhor.