Terminada a pré-temporada, é altura de fazer um pequeno balanço dos sinais que foram dados ao longo das quatro semanas de trabalho e, sobretudo, dos cinco jogos de preparação que o Sporting realizou. Cinco jogos que terminaram em três empates e duas derrotas, o que, por si só, não tem grande problema - nesta fase os resultados são o que menos interessa -, mas as exibições revelam sintomas de que existe muito para fazer até a equipa estar oleada e existirem soluções com quantidade e qualidade que nos permitam disputar o título com os rivais.
SINAIS POSITIVOS
Centrais: Neto foi uma das principais figuras da pré-época, demonstrando qualidade para ser titular. Mesmo havendo Coates e Mathieu, a gestão física do francês obrigará a uma utilização frequente do terceiro central. Problema muito bem resolvido.
Miolo: Dois dos jogadores que mostraram maior evolução em relação à época passada são Doumbia e Wendel. O marfinense tem estado muito mais em jogo, conseguindo tirar melhor partido do físico e da técnica que tem - importantes para fazer o papel de médio defensivo -, ainda que tenha bastante para aprender ao nível do posicionamento e das manhas que a posição exige. Wendel conseguiu ampliar a sua zona de ação, pisando mais frequentemente zonas avançadas. Juntando Bruno Fernandes à equação - ou mesmo Vietto, mais confortável quando posicionado no meio -, o setor parece mais capacitado para a construção pelo centro do que na época passada.
Espaço para evoluir: Thierry, Doumbia, Eduardo, Plata, Camacho, Vietto. Seis jogadores de idades e posições diversas que vejo que poderão crescer muito ao longo da época e transportar a equipa para outro patamar exibicional. Nem todos terão muitos minutos ao início, mas creio que há condições para se irem impondo gradualmente, caso o treinador assim o permita: não há milagres se forem sistematicamente tapados por Iloris ou Diabys. Nuno Mendes e Eduardo Quaresma têm demasiada concorrência para poderem ganhar já o seu espaço.
SINAIS NEGATIVOS
O sistema de Keizer: não sei ao certo se Keizer usou a pré-época para preparar o embate com o Benfica para a Supertaça ou se é mesmo isto que tenciona implementar em 2019/20, mas este sistema dificilmente terá sucesso num campeonato repleto de equipas cuja ideia de jogo se resume a fechar-se à volta da sua área para tentar sacar um empatezinho. O Sporting precisa de apresentar um futebol rápido, envolvente e com capacidade de verticalizar quando existe espaço, mas não foi isso que se viu: a pré-época foi feita maioritariamente com dois laterais que pouco ou nada arriscam em subidas pelo flanco, e com um ponta-de-lança e um ala (Vietto) que raramente têm bola e que precisam de recuar ao meio-campo para terem oportunidade de participar no jogo. O resultado é um futebol mastigado, previsível, que gera poucas ocasiões de golo para os poucos jogadores que aparecem na área ou nas imediações para tentarem a finalização - a antítese do que temos de ser se quisermos lutar pelo título.
Extremos inexperientes: fica tudo dito quando olhamos para a lista de extremos e observamos que o único jogador com alguma experiência é Raphinha... e o segundo é Jovane. Camacho e Plata têm muito potencial mas, juntos, têm meia dúzia de jogos no escalão sénior. Não conto com Diaby que, para mim, nem sequer é jogador de futebol. Estamos a correr grandes riscos numa posição fundamental pelos desequilíbrios que deve gerar - ainda mais sem haver laterais que os apoiem ofensivamente.
O futuro de Bruno Fernandes: a probabilidade de o capitão sair é grande, e não foi feito um único jogo sem a sua participação. Sendo vendido, o Sporting ficará com recursos financeiros para atacar o mercado e contratar jogadores que elevem a valia do coletivo, mas chegarão já com a época oficial em andamento e precisarão de tempo para se integrarem. Diria que, no curto prazo, a solução mais lógica será a utilização do trio Doumbia - Eduardo - Wendel, com o Wendel a pisar terrenos mais adiantados... mas é só uma suposição, porque não houve nenhuma preocupação em testar um plano B.
Laterais: não havendo um extremo puro na esquerda, exige-se ao lateral que faça todo o corredor. Acuña pode ser esse jogador na esquerda, mas é o único - a pré-época deixou bem claro que Borja não tem confiança para subir no flanco. Na direita, as dúvidas são maiores: ainda não sabemos o que Rosier pode fazer; Ristovski cumpre mas nunca será o lateral de que precisamos; Thierry deixou boas indicações; por que raio deu Keizer tantos minutos a Ilori?