Finalmente uma vitória. Ganhar ao Braga era essencial. Não por ser o Braga, não pelos três pontos, não para não nos deixarmos atrasar mais em relação à liderança, não pela possibilidade de, ganhando em Portimão, aproveitarmos o resultado do clássico entre Benfica e Porto para recuperarmos ou ampliarmos distâncias. Era essencial ganhar porque, independentemente dos muitos problemas técnico-táticos que estão à vista de todos, o atual momento de intranquilidade potencia esses problemas e faz parecê-los ainda mais graves do que efetivamente são. Era fundamental recuperar alguma tranquilidade e confiança e, como tal, jogando bem ou mal, tínhamos de vencer ontem. Nesse sentido, a missão mais importante foi cumprida.
Os suspeitos do costume. Mais uma vez, o Sporting só existiu ofensivamente na medida do que a sua linha média foi capaz de produzir. Os desequilíbrios foram conseguidos quase exclusivamente pelos habituais Bruno Fernandes e Wendel e pelo lateral Acuña. Coates e Mathieu foram segurando as pontas como podiam (com preciosa ajuda de Neto nos últimos quinze minutos) e, mais uma vez, o patinho feio Renan salvou o dia com algumas defesas fulcrais (aquela aos 40’, após remate de Hassan na queima, foi absolutamente incrível).
Inoperância na frente. É angustiante observar o rendimento dos homens mais adiantados. Luiz Phellype vale pelo esforço e pouco mais. Raramente tem bolas na área para finalizar, parcialmente por responsabilidades próprias no momento de decidir o que fazer quando é solicitado, mas sobretudo por não ser devidamente alimentado devido ao modelo de construção (?) que o treinador coloca em prática. Raphinha está num momento de forma terrível. Não consegue ganhar duelos, não cria desequilíbrios, não finaliza em condições. Ontem defendeu a passo, deixando várias vezes Thierry completamente exposto no nosso flanco direito. Diaby foi Diaby. Mais um jogo sem qualquer ação positiva de registo, mais um momento para os apanhados que deixou meio estádio a rir quando se atrapalhou ao tentar fazer um nó a um adversário, e não há uma alma à face da Terra para além de Keizer que consiga entender como é possível que, depois de tão consistentes demonstrações de incapacidade, o maliano continue a fazer parte das contas do onze. Ou que tenha um minuto de utilização que seja.
Treinador às aranhas. É verdade que Keizer não tem muitas alternativas de qualidade disponíveis. Camacho e Plata estão verdes e alguma coisa está mal na construção do plantel quando Raphinha, que tem apenas 22 anos e um ano de experiência a este nível, é o extremo de referência da equipa. A 11 dias do fecho do mercado, temos apenas dois pontas-de-lança, um dos quais jogava na segunda divisão há meses, e em que o outro foi contratado para substituir Bruno Fernandes. Mas isso não justifica tão pouco futebol e o problema não está apenas nos jogadores. Keizer diz que gosta de Dost mas não foi capaz de tirar rendimento do holandês, não é capaz de dar jogo a Luiz Phellype, não vê a mobilidade e técnica de Vietto como solução, e aparentemente também acha que Slimani não é o ponta-de-lança ideal. Perante quatro tipos de avançados de características bastante diversas e nenhum serve para o treinador… então quem servirá?
Recados à estrutura. Na conferência de imprensa, Keizer deixou soltar um desabafo sobre a forma como (não) foi consultado sobre a saída de Dost, lamentando-se da sua saída. Depois dos comentários anteriores sobre Matheus Pereira e Vietto, fica mais ou menos claro que não existe entendimento entre o treinador e a estrutura de futebol sobre as movimentações de jogadores. Se não se entendem sobre quem sai, se não se entendem sobre quem entra… então como podemos nós, os adeptos, acreditar que existe um fio condutor, consistente e lógico, na preparação da época, na construção do plantel e na globalidade do trabalho realizado?
Se, se, se. Reencontrámos as vitórias, mas os sinais de preocupação não se dissiparam. SE Rosier trouxer mais estabilidade ao flanco direito, SE Doumbia começar a compreender melhor as compensações que tem de fazer, SE Wendel conseguir aguentar mais de 60 minutos, poderemos ter condições para atenuar o caos defensivo que temos observado. SE conseguirmos manter Acuña a lateral, SE contratarmos um extremo a sério para entrar no onze ou SE conseguirmos começar a tirar algum rendimento de Camacho e Plata, SE contratarmos um ponta-de-lança que encaixe no quer que Keizer idealiza para o nosso jogo, poderemos ter condições para sermos um conjunto verdadeiramente ameaçador em ataque continuado e em contra-ataque. SE o treinador conseguir desembrulhar a confusão que parece ter no cérebro, SE a estrutura estabelecer as prioridades certas para a época… pode ser que se consiga fazer alguma coisa desta época.