Os últimos dias de mercado - e em particular as últimas horas - foram de enorme agitação em Alvalade. Dost, Raphinha e Thierry foram vendidos, Bruno Gaspar e Diaby foram emprestados, Jefferson, Wallyson e André Pinto rescindiram, fechou-se um acordo por Podence com o Olympiacos, e Jesé, Fernando e Bolasie chegaram por empréstimo. O sucesso do conjunto das movimentações só poderá ser avaliado depois de vermos o contributo que os reforços darão em oposição à falta que se sentirá dos atletas vendidos ou emprestados. No entanto, o balanço preliminar que faço é claramente negativo. Foi um mercado horrível, fruto de um planeamento rotundamente falhado e de uma completa falta de capacidade de reação da SAD para encontrar alternativas atempadas e que seguissem uma estratégia coerente.
Planeamento pelo cano
Toda a gente percebeu qual era a ideia da SAD para este mercado: reforçar determinadas posições com parte do dinheiro de uma super transferência de Bruno Fernandes. Inicialmente falava-se numa venda após o final da Taça, depois adiou-se para o final da Liga das Nações, e, semana após semana, a indefinição do futuro do médio foi-se prolongando. O que é facto é que, apesar do badalado interesse de diversos tubarões europeus, ninguém atingiu os 70 milhões pretendidos pelo Sporting. Não critico Varandas por não ter cedido nas exigências - o que não se diria caso aceitasse um valor mais baixo... -, mas devia ter havido outra capacidade na exploração de cenários alternativos antes do arranque da época oficial.
Sejam compreensíveis ou não as dificuldades na execução desse plano, o que é facto é que a SAD falhou por completo, resultando esse fracasso em semanas de intranquilidade - com destaque para a novela Dost - já com a época oficial a decorrer a todo o vapor, com vários jogadores titulares a serem dados como negociáveis até ao fim da janela de transferências. Os últimos dias, em particular, passaram a imagem de uma SAD descontrolada e desesperada.
Lacunas agravadas ou por resolver
Varandas disse que já existiam jogadores em carteira para serem contratados após as saídas previstas. Mas não foi isso que observámos: apesar de o anúncio de acordo com o Eintracht por Dost ter sido feito há mais de 15 dias, só ontem foram anunciados reforços. Mas o pior é que, dos três jogadores contratados, nenhum é ponta-de-lança de raiz. Isto significa que vamos atacar a época com UM ponta-de-lança - Luiz Phellype, que tem as limitações que se conhecem. Em caso de necessidade, Vietto poderá desenrascar, Jesé poderá desenrascar, Bolasie poderá desenrascar, mas não se conseguem épocas de sucesso com desenrascanços na posição mais importante do futebol.
No que toca a extremos, saíram Raphinha e Diaby e entraram Bolasie, Jesé e Fernando. Ou seja, a experiência média aumenta, mas à custa de dois jogadores - Bolasie e Jesé - que vêm de várias épocas em que pouco ou nada tem rendido. Ambos os jogadores são considerados flops pelos adeptos dos seus clubes, mas convém sempre esperar para perceber o que poderão valer no contexto competitivo português. Fernando não conseguiu espaço no Shakthar de Luís Castro, o que também não é propriamente um bom sinal. Fica por demonstrar, portanto, se a questão dos extremos ficou efetivamente bem resolvida. Teremos de esperar para os ver em competição.
Quanto a médios defensivos... nem vê-los.
Estratégia? Que estratégia?
Por motivos diversos, o recurso a jogadores emprestados devia ser uma exceção à regra. Não os podemos valorizar para uma futura venda e há o risco real de se sentirem acomodados face ao downgrade para uma liga periférica como a portuguesa. No entanto, só neste último dia chegaram três jogadores por empréstimo: Jesé (PSG), Fernando (Shakthar) e Bolasie (Everton).
Pior: não consigo entender como é que Fernando, jogador de 20 anos com apenas 20 jogos disputados como sénior, vem para o Sporting sem opção de compra. Considerando a sua inexperiência, dificilmente terá um impacto positivo imediato na equipa. É mais um, à semelhança de Camacho e Plata, que terá de ser desenvolvido com paciência. No entanto, ao contrário de Camacho e Plata, estaremos a valorizar um ativo que não é nem será nosso. Fala-se que o Sporting terá assegurado o direito de preferência sobre futuras propostas de outros clubes - ou seja, terá o direito de igualar a proposta -, mas dependerá sempre da vontade do jogador. Ou seja, é uma garantia que pouco ou nada vale. Que sentido é que isto faz?
Em contrapartida, o PSG anunciou que o Sporting tem uma opção de compra sobre Jesé. Algo que dificilmente poderemos acionar porque nunca haverá capacidade para pagar por inteiro o salário que o PSG paga ao espanhol. E sim, estou a assumir que o PSG vai suportar a maior parte do salário de Jesé durante esta temporada - se não fosse assim, não valia a pena despachar Dost como se despachou. O mesmo se aplica a Bolasie, que também deverá auferir um salário elevado. Fico à espera de esclarecimentos da SAD sobre quem suporta os salários dos jogadores emprestados.
As saídas
Os 21 milhões da venda de Raphinha são uma verba bastante aceitável, considerando que o extremo brasileiro ainda não tinha conseguido atingir uma consistência exibicional satisfatória. Com Bolasie, Jesé e Fernando aumentam as alternativas em quantidade, resta saber como será em relação à sua qualidade.
Os 12 milhões da venda de Thierry são um montante... surpreendente. Quem tenha visto os jogos desta época com um mínimo de atenção, facilmente se apercebe de que Therry está muito longe do nível necessário para ser o lateral titular a curto prazo. Ou seja, perderia esse estatuto assim que Rosier ou Ristovski voltassem a estar aptos para jogar. O problema deste negócio é que é uma venda para o Valência, por verbas típicas de carrossel... pelo que o mais provável é que existam ou existirão outras contrapartidas. Não acredito que o Sporting alguma vez venha a receber a totalidade deste dinheiro.
Diaby foi transferido por empréstimo para a Turquia, ficando o Besiktas com opção de compra por 5 milhões. Como tal, o mais provável é que daqui a nove meses o maliano esteja de volta.