quarta-feira, 15 de maio de 2024

Cinco jogos que definiram a época

A diferença dentro das quatro linhas foi de tal forma clara em relação aos adversários, que acabaram por não existiram tantos momentos icónicos como em 2020/21. Ainda assim, aqui ficam os 5 jogos que, a meu ver, foram os mais importantes na caminhada para o 24º título nacional do Sporting.


5º A importância de se entrar com o pé direito

Sporting 3 - Vizela 2 (1ª jornada) 

Primeiro jogo do campeonato. Depois de uma época desapontante a todos os níveis, a entrada em campo não poderia ter sido mais afirmativa: Gyökeres fez o gosto aos dois pés ainda dentro dos 15' e o Sporting parecia arrancar para uma vitória fácil e expressiva. No entanto, no espaço de 2 minutos, o Vizela empataria a cerca de 15 minutos do fim. O início de sonho evaporou-se e cada sportinguista presente nas bancadas e em casa começou a questionar-se se 23/24 não seria mais do mesmo.

Mas não foi. O Sporting voltou a carregar e, aos 90'+9, num último fôlego, Paulinho acabaria por marcar o golo da vitória. Euforia nas bancadas e Alvalade cantou um dos "Freed from Desire" mais épicos de que há memória. Momento arrepiante que serviu de mote para o resto da época.


4º O murro na mesa

Vitória SC 3 - Sporting 2 (13ª jornada)

Jogo com muitas incidências mas que teve uma intervenção decisiva de João Pinheiro e Hugo Miguel. Aos 45', quando o Sporting vencia por 1-0, o árbitro assinalou penálti por suposto derrube de Adán a Ricardo Mangas. Falta inexistente, visto que se tratou de simulação. Em vez de o árbitro mostrar amarelo ao jogador do vitória (que seria o 2º e consequente expulsão) que deixaria o Sporting em vantagem no marcador e também em vantagem numérica, as equipas foram empatadas para o intervalo.

Apenas duas jornadas após a amarga derrota na Luz, registou-se este novo desaire. Mas a verdade é que a equipa parece ter sentido a injustiça, e soube reagiu da melhor forma possível, partindo para um resto de campeonato praticamente imaculado. 20/21 teve o 2-2 de Famalicão, 23/24 teve o 3-2 de Guimarães.


3º Vincar a diferença

Sporting 2 - Porto 0 (14ª jornada)

Encontro de líderes em Alvalade, com o Porto. O Sporting parecia em quebra, vindo de duas derrotas na três jornadas anteriores. Para além disso, somava-se a preocupação de haver 3 centrais indisponíveis (Coates e St. Juste lesionados, Diomande na CAN). Amorim apostou em Quaresma e o miúdo respondeu com uma exibição primorosa. Secou Galeno e ainda teve pernas para construir uma jogada primorosa com assistência para golo mal anulado a Gyökeres.

O Sporting demonstrou ser muito superior ao Porto e, havendo justiça, o resultado devia ter sido 4-0 (ainda houve outro golo mal anulado a Paulinho). A equipa mostrou ter estofo para dar a volta ao pior momento da época e assumiu a liderança isolada do campeonato - que nunca mais largaria sem ser "à condição". Para além disso, foi o princípio do fim das aspirações do Porto ao título.


2º Momentos de Genyo 

Sporting 2 - Benfica 1 (28ª jornada)


Geny Catamo ainda tem uma longa carreira pela frente, mas nunca se esquecerá deste jogo. Inaugurou o marcador logo ao 1º minuto, ainda o público de Alvalade não se tinha sentado após cantar "O Mundo Sabe Que", e garantiria a vitória nos descontos com um remate que levou o estádio à loucura.

A exibição não foi boa. Foi, possivelmente, dos poucos jogos da temporada em que o Sporting não foi a melhor equipa em campo. Não conseguiu ter bola na primeira parte e, na segunda parte, as oportunidades de golo repartiram-se. O acaso por vezes tem o seu papel e, neste jogo, a vitória poderia ter caído tanto para um lado como para o outro.

O momento de Genyo teve ainda a particularidade de livrar Daniel Bragança de um estigma semelhante ao que Bryan Ruiz teve de suportar depois daquele falhanço no dérbi de 15/16. Não foi por esse lance que o Sporting perdeu esse campeonato - que se deveu muito mais aos boaventuras da vida - mas de certeza que não houve sportinguista que não tivesse revivido o momento quando, minutos antes ao golo de Geny, Bragança pisou a bola e não a conseguiu meter na baliza. Mas, felizmente, estava escrito que era uma época para matar fantasmas e não para os criar. 


1º Quem é o Rei agora?

Famalicão 0 - Sporting 1 (20ª jornada) 

4 de fevereiro. À partida para a 20ª jornada, o Sporting era líder isolado e mantinha 1 ponto de avanço sobre o Benfica, vantagem que se mantinha desde a derrota em Guimarães. Se na tabela classificativa a diferença era mínima, a nível exibicional não se passava o mesmo: enquanto o Sporting atropelava adversários e vencia de forma categórica, o Benfica ia-se aguentando com exibições sofríveis e pouco convincentes, parecendo sempre mais perto de ceder do que o líder.

Uma greve bastante seletiva das forças policiais acabaria por forçar o adiamento do Famalicão - Sporting para meados de abril, por não haver abertura no calendário. 

Nesse mesmo dia de fevereiro, o Benfica venceu o seu jogo e subiu, à condição, para a frente da classificação. Na ressaca dessa vitória, não passou despercebido o esforço concertado da comunicação do clube, com a ajuda dos jornais e comentadores do costume, para fazer do momento um ponto de viragem no campeonato. Durante semanas, fez-se de conta que o Sporting não tinha um jogo em atraso.

Quem não foi na conversa foi Frederico Varandas. "Queremos chegar à nova data com menos um jogo e em primeiro lugar.". Não se enganou. O Sporting disputaria o jogo em atraso a 16 de abril, após a 29ª jornada, com um avanço de 4 pontos sobre o Benfica. Venceria o Famalicão por 1-0, aumentando para 7 pontos a vantagem sobre o rival, e colocando praticamente um ponto final sobre a questão do título.

O dérbi de Alvalade foi crítico para a definição do campeão, mas o jogo de Famalicão foi, para mim, o mais simbólico. E, ironia do destino, seria precisamente em Famalicão que o Benfica entregaria de bandeja o título ao Sporting. 

Quem é o REI agora?