É, a par de Sebastian Coates, o jogador mais importante da Era Amorim. Se o capitão teve um papel imprescindível em função da sua liderança e da estabilidade defensiva que proporciona, houve um outro jogador que sempre se destacou pela sua genialidade, pelo que joga e faz jogar e também pelos golos que marca. Falo, evidentemente, de Pedro Gonçalves, um jogador que pensa e executa de forma diferente dos demais.
Taticamente, pode vestir vários fatos: o do equilibrador, quando a equipa não tem bola, e a do desequilibrador, quando a tem. É, por esse motivo, um jogador imprescindível para Amorim, seja como avançado a entrar pela esquerda, seja como médio. Mesmo estando longe de ser o jogador mais alto ou mais forte em campo, pressiona, persegue e luta pela bola, nunca vira a cara à luta. Um compromisso defensivo pouco frequente para um jogador tão dotado ofensivamente, onde revela uma capacidade técnica, visão de jogo e precisão de remate muito acima da média. Os 76 golos e 50 assistências acumulados ao longo destas quatro épocas são elucidativos no quanto oferece à equipa. Ao rendimento junta um elevado grau de disponibilidade, visto que as poucas lesões que contraiu nunca o afastaram do relvado mais do que poucas semanas.
Por isto tudo, é, também, o jogador mais injustiçado no que toca às (não) convocatórias da seleção. É absurdo como um jogador destes, que tem sido destaque das competições nacionais nas últimas quatro épocas, tem apenas duas internacionalizações na seleção principal. Depois de uma época arrasadora em 20/21, em que foi o melhor marcador da liga e campeão nacional, foi convocado por Fernando Santos para a fase final do Euro 2020. Fez 64 minutos em jogos de preparação... e não teve qualquer minuto na competição. Depois disso, nunca mais voltou convocado, seja pelo ex-selecionador, seja pelo selecionador atual. Há sempre algum argumento: ou é porque não está na melhor forma, ou é porque há muita concorrência, ou porque tem azar, ou ainda por haver outros que precisam de carinho. Argumentos que poderiam ser legítimos em contextos isolados, mas que, analisados em conjunto, permitem uma única conclusão: está a haver discriminação contra o jogador.
Aqui será sempre valorizado por tudo o que nos dá: genialidade, trabalho e espírito competitivo. Não sei se Pedro Gonçalves ainda tem a ambição de jogar em campeonatos mais competitivos - teve experiências no estrangeiro que não lhe correram muito bem -, mas terá em Alvalade uma segunda casa durante o tempo que quiser.