sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Arbitragem 2.0

Teve lugar esta semana mais uma edição da Soccerex, uma convenção realizada em Manchester ao longo de três dias que aborda vários temas ligados ao futebol. Um dos assuntos discutidos foi a introdução de assistentes de vídeo, ou seja, a inclusão de uma pessoa que tem acesso às imagens do jogo e dá conselhos ao arbitro em função daquilo que teve oportunidade de ver ou rever através do ecrã.

O painel que debateu este assunto incluiu o ex-árbitro Howard Webb e Gijs De Jong, diretor de operações da federação holandesa de futebol. Foi precisamente o holandês a ter a intervenção mais importante, pois apresentou os resultados de um estudo feito ao longo das últimas duas épocas pela federação holandesa sobre a utilização de um assistente de vídeo.

A ideia para o estudo partiu de uma reunião realizada em 2011 para encontrar formas de ajudar os árbitros a tomar as melhores decisões, entre as quais acabou por estar o recurso às imagens em tempo real. A partir daí organizou-se um processo para simular a utilização de um assistente de vídeo num conjunto de jogos da liga holandesa. Ficou definido que o recurso ao assistente de vídeo ficaria limitado exclusivamente a três tipos de situações de jogo:
  • Cartões vermelhos
  • Penáltis
  • Golos

No último caso dos três, definiu-se que apenas seria permitido verificar imagens em momentos imediatamente anteriores ao golo, ou seja, não se voltaria atrás para avaliar se teria existido ou não uma falta no princípio ou no meio da jogada.

Do ponto de vista logístico, a solução encontrada foi a seguinte: o assistente de vídeo vê o jogo num ecrã gigante em verdadeiro tempo real (ou seja, sem o delay de 2 ou 3 segundos que uma transmissão habitualmente tem até chegar às casas dos espectadores) e tem consigo um operador de imagem que lhe pode disponibilizar, com um delay de 2 segundos, imagens de qualquer uma das câmeras da transmissão. Ou seja, o assistente de vídeo não está limitado às imagens da transmissão pública. Tem acesso ao feed de todas as câmeras numa espécie de mini-centro de realização.

De notar que a decisão do assistente apenas funciona como conselho ao árbitro, a quem cabe sempre a decisão final.

Resumidamente, aqui ficam os principais dados e resultados do estudo: 
  • Dados recolhidos ao longo de duas épocas
  • Foram simulados 45 jogos
  • Nesses 45 jogos existiram aproximadamente 2.000 decisões das equipas de arbitragem
  • Dessas 2.000 decisões, 51 entravam nos critérios de apoio do assistente de vídeo
  • Dessas 51 decisões, em 12 o assistente teria dado um conselho contrário à decisão que a equipa de arbitragem tomou; ou seja, falamos de 23,5% de decisões erradas em lances críticos
  • Nessas 51 decisões, o assistente de vídeo demorarou um tempo médio de 11 segundos (!!!) a avaliar o lance e a transmitir a decisão ao árbitro

Para quem estiver interessado em ouvir a sessão "Refereeing 2.0", pode fazê-lo aqui: LINK

(obrigado, @baavin!)