Os compromissos dos grandes com o BES
Já muitos especialistas de assuntos relacionados com a banca e finanças se pronunciaram sobre a possibilidade do atual estado tumultuoso do BES poder vir a ter um impacto na vida dos clubes de futebol, em particular dos três grandes. A generalidade desses especialistas joga pelo seguro e afirma que vai depender sobretudo da estratégia seguida pela nova administração do banco, mas que muito provavelmente diminuirão as facilidades que os clubes terão em financiar-se.
Para um leigo na matéria como eu, estas opiniões parecem fazer todo o sentido. O BES sofreu um enorme choque de credibilidade (que é o ativo número 1 de um banco) e é normal que procure fazer tudo para inverter a situação. Ou seja, querendo o BES recuperar a sua credibilidade, é compreensível que decida deixar de alimentar incondicionalmente os caprichos dos clubes de futebol, especialistas em apresentar consecutivamente resultados negativos que se em capitais próprios cada vez mais negativos.
O acordo que o Sporting tem com BCP e BES prevê, para além da dispensa de pagamento de juros, que o clube não tenha que pagar dívida a curto prazo. Assumo que esses compromissos estejam blindados contratualmente e que nenhuma das partes poderá alterar as condições acordadas unilateralmente.
O Sporting tem também um empréstimo obrigacionista contraído em 2011, de €20M, a vencer em novembro de 2014. Desconheço se a direção tenciona emitir um novo empréstimo obrigacionista para o pagar, e qual o nível de participação do BES na subscrição destas obrigações.
É por isso que espero que o Sporting cumpra integralmente aquilo que acordou com a banca, para não dar quaisquer pretextos para que os bancos possam redefinir aquilo que ficou estabelecido em março de 2013. É por isso que estranho que continuemos a contratar sem que realizemos vendas que no mínimo cubram os valores que já gastámos em reforços. Os jogadores que têm chegado a Alvalade são todos baratinhos, mas de milhão em milhão...
Assumindo que o Sporting continuará a cumprir o seu lado do acordo, a situação parece controlada pois já foram concretizadas reformas profundas que colocaram o clube a viver com orçamentos muito inferiores aos que tinha no passado.
Benfica
Segundo o R&C consolidado, o Benfica tem os seguintes empréstimos bancários feitos ao BES:
- Um de €64,3M, renovado automaticamente em cada trimestre
- Um de €5M em factoring, que corresponde a uma antecipação de receitas da venda de David Luiz, que será regularizado com o banco quando o Chelsea pagar a última tranches da transferência
- Um de €2,2M relativo ao estádio, que vence em fevereiro de 2015
- Um de €56,7M, também relativo ao estádio, que vence em 2024
Suponho que não exista grande risco por aqui. Os prazos e as taxas de juros estão acordadas, e desde que o Benfica vá cumprindo os pagamentos não há nada a temer.
O grande problema estará nos empréstimos obrigacionistas que o Benfica terá que pagar até ao final do ano:
- €35M em outubro (desconheço taxa de juro)
- €50M em dezembro + cerca de €3M em juros (empréstimo contraído em dezembro de 2013, com taxa de juro 5,85% + Euribor 3M)
Até aqui a estratégia tem passado pela emissão de novos empréstimos para cobrir os que vencem, somando-lhe alguns melhores para pagar despesas correntes. Nada impedirá o Benfica de o fazer novamente, mas o problema é que o BES tem sido o principal subscritor das obrigações emitidas pelo Benfica.
in economico.sapo.pt |
Ou seja, metade do empréstimo obrigacionista que vence em outubro e a totalidade (!) do que vence em dezembro terão que ser pagos ao BES. Será que o banco estará disposto a continuar a assumir este papel? Na pior das hipóteses não, o que explicaria as vendas sucessivas do Benfica. Mas mesmo sendo este o cenário, há um lado positivo na história para o Benfica: a divida bancária e obrigacionista irá cair significativamente (cerca de 25%), e as contas ficarão mais saudáveis. Sofrerá a competitividade da equipa, habituada a material de primeira qualidade.
Porto
Também o Porto tem alguns empréstimos do BES a vencer em breve, nomeadamente um de €10M em agosto e outro de €30M em outubro. Caso o Porto venda Mangala e Jackson, os valores recebidos serão utilizados para liquidar o empréstimo de €30M.
Em junho venceu um empréstimo obrigacionista de €10M, que o Porto resolveu emitindo um novo empréstimo obrigacionista de €15M. Junte-se um outro empréstimo obrigacionista de €30M que vencerá em maio de 2015. Resta saber se o BES também participou ativamente na subscrição destas obrigações, à semelhança do que fez com o Benfica.
Note-se que neste conjunto de empréstimos não estão incluídos os relativos ao estádio e ao Porto clube.
De qualquer forma, o Porto parece ser, dos grandes, aquele que atualmente apresenta menor dependência do BES.