Costuma dizer-se que o sono é bom conselheiro, e a verdade é que a indignação que senti no sábado ao ver Nani a teimar em bater o penálti se foi desvanecendo à medida que fui considerando as circunstâncias em que tudo isto aconteceu.
Não me interpretem mal: continuo a achar que o que Nani fez foi tremendamente errado, com a agravante de ter ficado a um cabelo de comprometer a conquista dos três pontos. No entanto, a quase certeza com que fiquei na altura de que tudo aquilo tinha sido provocado por um impulso de vedetismo foi-se atenuando com o passar das horas. Admito agora que Nani possa ter sido traído pela sua vontade de regressar em grande e querer retribuir com um golo o clima de festa com que foi recebido.
De qualquer forma, teremos bom remédio para descobrir se foi uma questão de vedetismo ou ansiedade. Basta esperarmos umas semanas para ver como se integrará Nani no grupo. Se foi vedetismo poderemos contar com mais atitudes destas num futuro próximo.
Apesar de a minha opinião ter mudado, continua a parecer-me que o destino foi muito nosso amigo: não sabemos como seriam as reações das diversas partes se não tivéssemos ganho o jogo. O conforto dos três pontos no bornal certamente que ajudou à elevada dose de discernimento daqueles que falaram publicamente após o final do jogo:
- Adrien, aquele que se poderia sentir mais injustiçado, relativizando a questão imediatamente na flash interview (concordo com aqueles que disseram e escreveram que temos em Adrien um verdadeiro capitão sem braçadeira)
- Marco Silva, reconhecendo a existência da hierarquia e relativizando o sucedido
- Mané, o herói do jogo, ao afirmar que Nani é um dos seus ídolos
Todos desejamos que o assunto seja esclarecido e arrumado internamente com a maior das tranquilidades, e estas declarações foram um excelente primeiro passo nesse sentido.
É claro que podemos também atribuir algumas responsabilidades a Marco Silva. Sim, podia ter mandado uns berros lá para dentro, ou enviado um recado por alguém. Mas a meu ver foi uma situação extremamente ingrata para um treinador que provavelmente se sentiu com alguma falta de estatuto perante o estado de euforia em que o jogador foi recebido. Do ponto de vista de liderança de grupo não é uma atitude que lhe fique bem, mas não nos podemos esquecer que falamos de um treinador que chegou há pouco tempo ao clube e que nunca teve que lidar com uma situação tão invulgar - invulgar até na história recente do Sporting.
Existe um outro fator atenuante para Marco Silva. Se do ponto de vista disciplinar a atitude de Nani era um problema evidente, do ponto de vista desportivo nem por isso. Nani é um excelente marcador de penáltis (e de bolas paradas em geral), que já esteve na situação de maior pressão que se possa imaginar - ser o marcador do 5º penálti de uma final da Liga dos Campeões, em que se falhasse a sua equipa perderia o troféu. Nani converteu o penálti e o Manchester United acabaria por ganhar a competição.
A Silver Lining de tudo isto é que todos poderão refletir no que se passou sem a pressão de um mau resultado. Principalmente Nani, que teve oportunidade de ver que o grupo que veio integrar também pode ganhar jogos sem ele, mas que no final não deixaram de ter palavras encorajadoras que demonstram que acreditam no valor acrescentado que o 77 poderá trazer para a equipa - e a utilidade do seu inegável talento será diretamente proporcional ao sucesso da sua integração nas restantes competências que já existiam no grupo antes do seu regresso ao Sporting.