Quando vi Nani pegar na bola, que repousava abandonada na área do Arouca após o árbitro ter assinalado um penálti a favor do Sporting, temi o pior. Já tinha visto este filme antes. Imagens de Bojinov passaram-me à frente dos olhos e comecei a ver todo o enredo que iria ser feito se Nani falhasse a conversão do castigo máximo. Foi com enorme desconsolo que vi Adrien afastar-se e juro-vos que naquele momento já sabia que não ia festejar o golo, mesmo que a bola tivesse entrado. Vá, eventualmente faria um cerrar de punho a la Gobern em pleno direto televisivo, mas não mais do que isso. Porque naquele momento só conseguia pensar nas consequências que tudo aquilo poderia causar.
Nani falhou, a equipa ressentiu-se, e a boa dinâmica que se via em campo desde o princípio da segunda parte desapareceu. Valeu-nos que o destino, por uma vez na vida, compadeceu-se de nós e colocou esse herói improvável, de seu nome Carlos Mané, no sítio certo para colocar justiça no resultado e, ainda mais importante, dar-nos três pontos importantíssimos que permitirão trabalhar de forma bem mais tranquila a visita à Luz e gerir o caso do penálti de Nani de forma serena - e não debaixo da pressão que se acumularia devido a 4 pontos perdidos em duas jornadas.
Mas é preciso dizer que os três pontos são o único desfecho adequado, já que o Sporting foi a única equipa que procurou o golo, dispondo de ocasiões suficientes para conseguir uma vitória tranquila, não estivessem os níveis de eficácia da concretização a rastejar na lama.
A equipa até entrou forte no jogo, mas ao fim de 20 minutos acabou por cair num futebol lento e previsível, claramente insuficiente perante uma equipa que arriscou zero e jogou sempre com onze jogadores atrás da linha da bola. Na segunda parte a qualidade de jogo subiu, muito graças ao abanão que representou a entrada de Mané ao intervalo, acentuando ainda mais o domínio da partida.
Uma última palavra para Nani: escreverei mais tarde sobre a sua atitude no pénalti, mais a frio. Em relação ao jogo, demonstrou esforço, alguns bons pormenores, e demasiada vontade para ter uma boa estreia que lhe poderá ter prejudicado o discernimento em algumas situações. Falta claramente entrosamento com os colegas, o que é perfeitamente normal atendendo ao par de treinos em que participou. Teria sido um jogo positivo se tivesse deixado Adrien bater o penálti.
Positivo
A entrada de Mané: não falo apenas pelo golo que marcou. O puto foi um fator de desequilíbrio desde os primeiros momentos da segunda parte, e deixa-nos todos a pensar se neste tipo de jogos não será de ter mais presença no centro do ataque desde o 1º minuto. Mostrou-se mais hoje do que em todos os jogos de pré-época juntos, com uma exibição que o coloca na primeira linha para substituir um André Martins pouco inspirado, pelo menos em jogos com estas características.
Os cruzamentos teleguiados de Jefferson: o brasileiro fez um excelente jogo e saíram do seu pé esquerdo grande parte dos lances de perigo de que o Sporting dispôs. No minuto 93 foi mais uma vez Jefferson a colocar a bola na área - Carrillo amortizou, Tanaka rematou ao poste, e Mané fez explodir as bancadas.
Adrien, sempre Adrien: debaixo daquele tórax devem estar um par de pulmões que aspiram tanto ar quanto uma gaita de foles das Highlands. Grande intensidade durante todo o jogo e fundamental para manter o equilíbrio da equipa num meio-campo a dois. Esteve bem na flash interview ao desvalorizar o episódio do penálti - aquilo é assunto para ser tratado a um outro nível.
Boas indicações de Sarr: não teve muito trabalho, mas quando precisou de intervir impressionou pela pujança física e poder de impulsão. Em situações de maior aperto não inventou, e surpreendeu pela sua capacidade de passe de média / longa distância, quer a lançar Jefferson pela faixa, quer a variar jogo para o lado oposto do campo. Terá a sua primeira prova de fogo para a semana, mas para já os indicadores são positivos.
Negativo
O marcador de penáltis é Adrien: não é questão para ser debatida por ninguém num momento daqueles, em que toda a tranquilidade e cabeça fria são necessárias. Mesmo que Nani acabasse por entregar a bola para que Adrien batesse o penálti, aquele diálogo já teria sido suficiente para colocar uma pressão adicional totalmente desnecessária no nosso nº 23.
O jogo mastigado da primeira parte: Rosell e Martins nunca conseguiram empurrar o jogo para perto da área do Arouca, Esgaio pareceu acusar o peso da titularidade e demonstrou falta de entrosamento com os companheiros mais próximos. Tudo isto, aliado a alguma falta de garra durante uma boa fatia da primeira parte, tornou-nos uma presa fácil para uma equipa que só veio jogar para o empate.
As hesitações nos pontapés de baliza: às vezes mais vale bater a bola para a frente rapidamente, do que estar no passa-não-passa. Enerva o público, enerva a equipa e dá confiança ao adversário.
A importância do golo de Mané não pode ser relativizado. Poupou-nos de ter que passar uma semana de tensão tremenda e que tornaria o jogo da Luz numa questão de vida ou de morte. Podemos estar a falar apenas de uma diferença de dois pontinhos apenas, mas a verdade é que as circunstâncias do jogo fazem com que a relevância da vitória ultrapasse em muito os 3 pontos conquistados.