Confesso que não sei bem o que esperar do Porto no jogo de logo. Que será um jogo muito difícil, não tenho dúvidas, mas ainda não consegui perceber o que vale o nosso adversário contra equipas que os defrontam de olhos nos olhos. A qualidade individual é indiscutível: Jackson é um monstro, Brahimi é espantoso com a bola nos pés, Danilo e Alex Sandro são excelentes laterais e um perigo vindo de trás, complementados por mais uma série de jogadores de grande qualidade, como Oliver ou Tello. Mas também me dá a ideia que se trata de um modelo de jogo demasiado romântico e pouco prático, com dificuldades em se adequar ao mundo real.
Com toda esta matéria-prima, é estranho que o Porto se limite quase sempre a explorar situações de 1 contra 1 nos flancos, esperando que a qualidade individual dos seus jogadores faça a diferença. Jogo pelo meio é algo que poucas vezes acontece, tornando-se num futebol relativamente previsível - mas que não deixa de ser muito perigoso devido à qualidade dos seus executantes.
No meio-campo, Lopetegui dispensa um varredor a la Fernando, preferindo colocar no miolo jogadores com boa técnica que saibam, acima de tudo, colocar a bola jogável a 30 metros. Ou seja, são jogadores cujas características os definem como homens de construção, e que até agora não tiveram grandes testes às suas aptidões defensivas perante um adversário que saiba também ter a bola em seu poder.
A pressão alta que o Porto faz (e bem) leva que invariavelmente os adversários com menor qualidade procurem despachar a bola de qualquer forma. São poucas as vezes que essas equipas conseguem sair a jogar, e normalmente quando o conseguem ficam em situações de inferioridade numérica que acaba por ser resolvida com facilidade pelos jogadores portistas mais recuados.
Estará aí a chave do jogo: na nossa capacidade de concentração nos momentos defensivos nos vários duelos que se irão disputar nas faixas laterais, e ao recuperar a bola teremos que saber arranjar linhas de passe que nos permitam sair com a bola jogável perante uma pressão fortíssima - e como seria importante que o William do ano passado aparecesse. Uma vez ultrapassada essa rede inicial, haverá bastante mais espaço para explorar contra uma oposição pouco testada (começando pela dupla de centrais, que nunca jogou junta).
Para logo, lançaria o seguinte onze.
Apostaria em Capel, porque sabe sair a jogar em espaços apertados, saca bastantes amarelos (que podem condicionar o adversário) e é incansável no apoio ao lateral. Deixaria Carrillo para ser lançado aos 60 minutos quando o desgaste já for mais elevado.
Não nos podemos esquecer que o Porto entrará em campo com uma pressão que poucos imaginariam possível há umas semanas atrás. Há um par de semanas eram campeões pré-anunciados, mas entretanto os seus adeptos descobriram que talvez não seja o passeio no parque que imaginavam. Num ano em que a folha salarial deve estar a bater recordes, e num dia em que o modelo de negócio adotado sofreu um rude golpe, os corredores do Dragão devem estar inundados de gente com crises de ansiedade perante a possibilidade de fracassarem também nesta época.
De resto, é sermos competentes dentro das quatro linhas: não inventando na defesa, mandando a bola para o mato quando for preciso, muita solidariedade nas coberturas, batalhar no meio-campo até à última gota de suor, e sabendo soltar o muito talento que temos quando as oportunidades aparecerem - tudo isto ao ritmo da banda sonora de apoio incondicional que as bancadas de Alvalade já habituaram quem veste de verde e branco (e que reserva sempre uma receção muito especial para estes fregueses).