terça-feira, 11 de novembro de 2014

As críticas a Bruno de Carvalho



Numa altura em que os resultados no campeonato nos têm empurrado para mais longe da liderança, parece-me mais importante que nunca que os sportinguistas saibam distinguir quem quer o bem do clube de quem não quer. 

Parece-me particularmente relevante observar com atenção o tom das críticas que têm vindo de todos os quadrantes sobre Bruno de Carvalho. Não é novidade que qualquer atitude do presidente do Sporting é explorada à exaustão por uma legião de opinadores - aliás, é algo que acontece desde o que iniciou o seu mandato. Estados de graça para a comunicação social - avençada ou não - foi coisa de que Bruno de Carvalho pouco desfrutou.

Na semana passada, Bruno de Carvalho criticou publicamente a atitude dos jogadores da equipa principal e da equipa B. Não gostei de ouvir porque na minha opinião foi o primeiro jogo em que houve de facto défice de empenho, mas achei particularmente interessante a forma imediata e indignada como muitos comentadores apareceram a atacar o presidente do Sporting: aqui d'El Rei!!!, um desastre, que não se pode criticar os jogadores, que é uma ingerência no balneário, que está a sacudir a água do capote, que o presidente tem que deixar de se comportar como um chefe de claque ou como um adepto que pensa que está na mesa de um café, que se arrisca a perder o melhor treinador que o Sporting teve nos últimos anos, que tem que deixar de estar no banco e ir para o camarote.

Seria uma indignação que respeitaria se não tivesse ouvido a forma bem menos exaltada com que estas mesmas pessoas falavam há menos de dois anos na possibilidade de o Sporting, tal como o conhecemos, poder acabar. 

Bruno de Carvalho tem cometido erros, é certo, mas que raio?, desde quando é que um presidente - que vive o clube 24 horas por dia e que acompanha de muito perto o trabalho do plantel - não tem legitimidade para se pronunciar publicamente (e que não foi a quente) sobre algo que não gostou de ver? 

As mesmas pessoas que o atacam ferozmente por criticar publicamente os jogadores são os mesmos que são capazes de elogiar Mourinho quando este critica individualmente alguns dos seus jogadores. Ainda ontem Van Gaal criticou Di Maria. Onde estão os indignados? Conseguem explicar-me qual é a diferença?


Bruno de Carvalho, como qualquer pessoa, tem defeitos. Mas temos que saber distinguir entre o que é uma crítica razoável e o que não é. 

O presidente foi criticado pelo post no facebook a criticar os jogadores, por semear o caos na academia, por chamar rufia a Pinto da Costa, por achar que o Sporting seria mal recebido no Dragão, por não encontrar Shikabala, por ter uma equipa B que não ata nem desata, por se ter afastado da eleição de Duque e dos almoços na Mealhada, por ter escolhido Barão e depois João de Deus, pelo discurso das nádegas, por fazer uma campanha contra os fundos, por ter trazido Nani que vinha passar férias e dividir o balneário, por ter rompido o contrato com a Doyen, por ter apertado os garganetes a Rojo, por ter castigado Slimani, por assumir a candidatura ao título, por ter contratado maus centrais, por ter gasto demasiado dinheiro em Slavchev e Gauld em vez de apostar na prata da casa, por não contratar jogadores por €10M e com salários milionários (apesar do teto salarial), por não ter conseguido segurar Dier apesar da cláusula que o permitia sair, por não apostar em jovens da formação, por ter assinado com Marco Silva por 4 anos, por não ter conseguido segurar Leonardo Jardim, por ter feito "coação" ao apontar a quantidade inacreditável de erros de arbitragem a prejudicar o Sporting, por ter dado "cobertura" ao movimento Basta, por não assumir a candidatura ao título e preferir pensar jogo a jogo, por não ter convencido Jardim a jogar com Dier para o menino ficar feliz, por não ter negociado com Baldé e Bebiano e dar o salário que Bruma queria, por não ter apontado uma pistola à cabeça de Ilori e obrigá-lo a renovar, por ter vindo a público denunciar as pressões que os credores faziam para que o Sporting aceitasse um acordo de reestruturação lesivo para os seus interesses.

Basta pesquisarem um pouco para confirmarem que Bruno de Carvalho foi criticado por tudo isto. Por isso pergunto: ainda dão crédito a TODAS as críticas que a comunicação social lhe faz? A sério?

O Sporting esteve a um passo do abismo. Por muito que custe a muita gente aceitar, foi a determinação e o amor incondicional ao clube de Bruno de Carvalho que permitiu estancar essa queda. Foi obrigado a fazer um corte orçamental sem precedentes, sendo forçado a competir com armas totalmente desiguais, mas soube montar uma estrutura que conseguiu superar todas as expetativas. Este ano, com um teto salarial para contratações de €300.000 / ano, não gastando mais que €3M num jogador, o Sporting não demonstrou ainda ser inferior a Benfica e Porto, que têm jogadores a ganhar €4M / ano e que contratam vários jogadores avaliados acima dos €10M. Estamos neste momento em 8º a 8 pontos do líder, mas é uma classificação totalmente mentirosa que não só não reflete a nossa qualidade de jogo como é altamente patrocinada por arbitragens inqualificáveis.

Bruno de Carvalho defende intransigentemente os interesses do clube, à sua maneira - que não tem nada de ilegal, e que só gera anticorpos por uma questão de estilo. Tem andado a cometer erros? Sim, mas felizmente a sua presidência tem tido bastante mais aspetos positivos.

Com o empate de domingo, é certinho que o ataque cerrado continuará. O objetivo é voltarem a colocar-nos onde estávamos há dois anos, quando não incomodávamos ninguém. Não disputávamos títulos, lugares de acesso à Champions, nem fatias apetecíveis de contratos de publicidade. É disto que nos querem afastar - e é bom que os sportinguistas tenham consciência do que está realmente em causa em muitas das críticas que são feitas. 

Sem unanimismos ou seguidismos acéfalos, temos que fazer um esforço para nos mantermos unidos. Temos que saber distinguir o que é efetivamente motivo de crítica do que não é. Não podemos contribuir para alimentar críticas fáceis de gente para quem tudo é ou preto ou branco, consoante as suas preferências pessoais ou agendas menos lícitas, e sem que existam tons de cinzento pelo meio. Caso contrário, estaremos apenas a facilitar a vida a todos aqueles que querem acabar com o Sporting.