quarta-feira, 12 de novembro de 2014

M*rdas que só mesmo connosco, nº 2: O atraso para Stojkovic

Época 2007/08, 2ª jornada, Porto - Sporting. No princípio da 2ª parte, com o resultado ainda em 0-0, Anderson Polga faz um corte em carrinho, atirando a bola na direção da área. Pressionado por Postiga, Stojkovic apanha a bola com as mãos.

Apesar de ser evidente que Polga não tinha feito um passe intencional para o seu guarda-redes, Pedro Proença decidiu assinalar livre indireto a favor do Porto. Na sequência desse lance, Raúl Meireles marcou o único golo da partida, que garantiu os 3 pontos para a equipa da casa.


Mas a história não ficou por aqui. Na jornada seguinte, o Sporting recebeu o Belenenses. A certa altura do jogo, um jogador do Belenenses atrasa a bola na direção da linha de fundo (não na direção do guarda-redes). Costinha, guarda-redes do Belenenses, consegue chegar a tempo de evitar o canto e agarra a bola. Carlos Xistra decidiu não assinalar livre indireto a favor do Sporting.

Esta sequência de casos aumentou os níveis da polémica e o Conselho de Arbitragem sentiu-se na necessidade de prestar um extraordinário esclarecimento em que consegue dar simultaneamente razão aos dois árbitros:

(as partes a negrito não são da minha responsabilidade)

O requinte deste comunicado do CA está no facto de dar um ênfase desmedido à interpretação do árbitro, dando assim carta branca aos juízes para decidirem coisas diferentes em lances semelhantes. No entanto, o texto original do International Board não se perde em considerações sobre a interpretação do árbitro - pelo contrário, refere insistentemente os termos "intencional" e "deliberado" precisamente para diminuir a subjetividade da decisão dos árbitros.


Duas situações semelhantes, neste texto do IB, devem ter uma única decisão e não, como sugere o CA, uma decisão em aberto em função da perceção do árbitro. Aliás, segundo esta linha de pensamento do CA, seria impossível um árbitro errar, pois tem tudo a ver com a interpretação do árbitro e não com o facto em si. Ridículo.

Voltando ao esclarecimento técnico do Conselho de Arbitragem da Liga, há uma contradição evidente: ao escreverem "Um defesa entra em tackle por detrás sobre um adversário que conduz a bola, conseguindo desarmar o adversário, indo a bola na direção do guarda-redes", estão de imediato a excluir que haja intencionalidade, pois um corte de carrinho (conforme o descrito e conforme o que fez Polga) pressupõe uma intervenção de recurso e em esforço, já que em momento algum o defesa tem a bola controlada.

O facto é que o tempo veio dar razão ao Sporting. Apesar de a regra continuar a ser a mesma, hoje nenhum árbitro assinalaria o livre indireto que Proença marcou no Dragão. Aliás, a decisão de Pedro Proença nem sequer fez escola durante muito tempo, pois no ano seguinte, num Guimarães - Benfica, aconteceu um lance exatamente igual ao de Polga e nada foi assinalado:


Isto resume bem a relação entre o Sporting e a arbitragem. Para além do prejuízo evidente no resultado da partida, o CA sentiu-se na necessidade de deturpar o que dizem as regras para justificar uma decisão errada. Se a realidade não se encaixa na narrativa, molde-se antes a realidade.