Elogiar em público e criticar em privado é uma máxima que sempre procurei seguir na minha vida profissional. A crítica é uma ação indispensável para corrigir problemas e desenvolver competências dos elementos de uma equipa, mas tem a particularidade de ter uma natureza extremamente delicada: para ser eficaz o visado não pode sentir que está a ser julgado sumariamente ou humilhado. A crítica deve ser sempre construtiva, objetiva e nunca, mas nunca, no calor do momento. Se há um problema que exige uma resolução urgente, o foco deve estar em resolver primeiro esse problema e deixar a conversa com o(s) elemento(s) que estiveram na sua origem para mais tarde, quando as cabeças estão mais frias e os ânimos menos exaltados.
As palavras de Bruno de Carvalho sobre a prestação da equipa principal e da equipa B no fim-de-semana caíram mal em muita gente precisamente porque criticou publicamente a falta de empenho demonstrada, dando munições suficientes a adversários, paineleiros e jornalistas para fazerem uma barragem de fogo contínua durante vários dias, e podendo pôr em causa o compromisso do balneário com o clube e a concentração necessária para os desafios que se seguem. Isso é compreensível.
Há no entanto três fatores que é preciso levar em consideração. O primeiro é que os resultados foram efetivamente péssimos. O segundo é que a forma escolhida foi boa - um comunicado em que o plural é usado de forma predominante, escrito 24 horas depois da derrota em Guimarães, e em que em momento algum há um apontar de dedo a pessoas específicas.
O terceiro é o mais importante, na minha opinião. Qualquer pessoa que seja responsável por uma equipa deve criticar os seus elementos em privado, mas isso não o dispensa de ter que prestar contas aos seus superiores. E acreditem, toda a gente tem sempre que prestar contas a alguém. Quando há problemas graves, o chefe de equipa tem que explicar o que aconteceu ao seu diretor. O diretor terá que explicar o que aconteceu à administração. A administração terá que explicar o que aconteceu aos acionistas. E mesmo os acionistas têm que prestar contas a alguém (seja ao grupo de investidores que os apoia, aos bancos que lhes concederam crédito, ou à família).
Bruno de Carvalho, enquanto presidente do Sporting, não tem apenas responsabilidades perante o grupo de trabalho. Tem também responsabilidades para com os sócios que o elegeram. Bruno de Carvalho achou que foi algo suficientemente grave que justificasse uma explicação do sucedido - e isso para mim é um dos princípios mais positivos da sua presidência (e que o distingue dos presidentes dos nossos rivais, que parecem fazer questão em manter prolongados silêncios quando as coisas não lhes estão a correr bem).
Neste caso em concreto, fez bem Bruno de Carvalho em ter feito este comunicado? Na minha opinião, não. Em relação à equipa B as más exibições têm sido demasiado frequentes, mas a meu ver o problema do empenho dos jogadores (que é real e indesmentível) está mais ligado aos equívocos de definição do que deve ser a equipa B e à instabilidade da liderança técnica - situações em que a direção é a principal responsável. Quanto à equipa principal, foi a primeira exibição verdadeiramente fraca da época - e dias maus todos podem ter.
Enquanto sócio, não achei que o presidente tivesse necessidade de me dar explicações sobre o que correu mal nesta situação específica - porque não achei que fosse de uma gravidade assim tão grande. Se encontrou algum fator de preocupação em relação à determinação e compromisso dos jogadores, teria sido suficiente ter esta conversa internamente.