É sabido que o Sporting está em blackout. Compreendo que os repórteres de serviço aproveitem a obrigatória flash interview com Marco Silva para tentar tirar nabos da púcara. Mas o que aconteceu na segunda-feira passada, no final do jogo com o Guimarães, não foi propriamente um exemplo de bom jornalismo:
1ª pergunta: <a TVI24 fez a ligação depois da 1ª pergunta já ter sido feita, mas pelas palavras de Marco Silva presume-se que teve a ver com aquilo que sentiu durante o jogo>
2ª pergunta: "A que se deveu todo esse distanciamento, essa introspecção?"
3ª pergunta: "Feita a análise detalhada do jogo, perguntava-lhe se tem todo o apoio de todos para continuar à frente do Sporting. É para os sportinguistas, sobretudo, nós hoje estávamos em direto à tarde e surgiu o presidente do núcleo de Braga, que representa muitos sportinguistas, que queria esclarecimentos, quer saber o que se passa afinal. O Marco Silva vai continuar, não vai continuar, tem o apoio do presidente?"
4ª pergunta: "Mas não me diz que tem o apoio do presidente..."
5ª pergunta: "Foi importante para si aquele apoio à saída do autocarro dos adeptos a gritarem o seu nome?"
6ª pergunta: "Registo apenas que de todos os apoios que disse não referiu a direção..."
7ª pergunta: "Ok, e esta noite deu-lhes uma alegria, o Marco Silva e os jogadores, porque conseguiram uma vitória importante..."
Cinco minutos de entrevista e apenas espaço para uma única pergunta sobre o jogo, já no final, para despachar, porque Rui Vitória já estava à espera ao lado há algum tempo. Com tudo isto, nem uma pergunta para sabermos se o treinador ficou satisfeito com os jogadores, e se com a impressão que ficou considera apostar em breve em algum deles em jogos de maior importância, se achou que a prestação de Tobias Figueiredo foi suficientemente boa para disputar a titularidade com Maurício - eu, como sportinguista, gostaria efetivamente de ouvir o treinador falar sobre isso naquele momento.
É muito frequente vermos jornalistas nas suas colunas de opinião ou nas redes sociais a criticarem a importância desmedida de fatores extra-futebol, como a discussão exagerada de casos de arbitragem ou o excesso de visibilidade de dirigentes, lamentando a falta de destaque que se dá aos verdadeiros protagonistas (opções e ideias do treinador e a prestação dos jogadores). Criticam - e bem - os blackouts porque os principais prejudicados são os adeptos, que ficam sem saber as opiniões dos treinadores e jogadores - lá está, os principais protagonistas - sobre o que se passa no clube.
Sim, concerteza que se impunha que o repórter fizesse perguntas a Marco Silva sobre o problema com o presidente (apesar de os regulamentos dizerem explicitamente que as perguntas de uma flash interview terem que ser sobre o jogo e nada mais), mas deviam ter reservado algum espaço para o jogo e para as conclusões do treinador sobre o que se passou dentro de campo. Foi um excelente exemplo em como à primeira oportunidade os próprios jornalistas se borrifam nos "verdadeiros" protagonistas, preferindo fazer perguntas repetitivas à espera que o entrevistado se descaia e deixe sair algumas palavras de significado dúbio que poderão alimentar horas de aceso debate nos dias seguintes.
O curioso é que agindo desta forma acabam por entrar em contradição consigo próprios e, indiretamente, dão razão a quem decide impôr blackouts.