quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Ein Kopf für eine Hand

Perder com uma equipa que está num momento de forma avassalador como o Wolfsburgo não é nenhuma vergonha. Menos vergonha é se considerarmos a excelente primeira parte que fizemos, sobretudo na forma como nunca deixámos o adversário construir jogo através de uma pressão constante que se estendia a todo o campo. As poucas oportunidades de que os alemães dispuseram durante os 45 minutos apareceram através de cantos ou de um ou outro erro individual nosso, mas também tivemos o golo nos pés de Carrillo. E ainda houve aquele penálti absurdo que o só o árbitro não viu. Com um pouco mais de felicidade (e justiça) teríamos chegado ao intervalo a vencer e muito provavelmente saído da terra dos Beetles com um resultado bem mais favorável.

A segunda parte não podia ter começado pior. A intensidade defensiva que todos os jogadores aplicaram na primeira parte ainda não tinha regressado do balneário. Enquanto Adrien e Tobias pressionavam Naldo, nenhum dos 4 homens da frente (por ordem de proximidade: Nani, Montero, João Mário e Carrillo) desceu para apoiar. Equipa partida, Jefferson demorou tempo demasiado a reagir para tapar o lugar de Tobias e estava feito o primeiro. A confiança cresceu nos homens da casa na mesma medida em que desceu nos nossos, e a partir daí o domínio alemão foi bastante mais evidente. Valeu-nos novamente São Patrício a manter-nos dentro da eliminatória, e ficamos a lamentar aquele cabeceamento de João Mário perto do fim que podia assegurado um preciosíssimo golo fora.



Positivo

A concentração e atitude da primeira parte - apesar de não termos criado praticamente nenhuma ocasião de golo, ninguém pode apontar o dedo ao empenhamento e personalidade dos onze jogadores que Marco Silva lançou. Pressão no campo inteiro e uma enorme raça que fazia com que ganhássemos a maior parte das bolas nas disputas a meio-campo. Se jogássemos sempre com esta atitude no campeonato teríamos transformado facilmente em vitórias a maior parte dos empates que somámos até agora.

Assim se distinguem os grandes guarda-redes - todos os guarda-redes erram, mas uma das características que distingue os melhores dos restantes é a forma como não se deixam afetar por más exibições. Rui Patrício fez um enorme jogo, salvando alguns golos certos e estando irrepreensível em tudo o que teve para fazer. Não podia fazer mais nos dois golos - nem sequer no segundo, já que o cruzamento é feito de forma rasteira e suficientemente longe do seu alcance. 

A afirmação de Tobias - mais um jogo de grande nível. Não esteve bem na construção de jogo, falhando muitos passes, mas nos despiques individuais esteve insuperável. Foram poucos os lances em que se deixou ultrapassar, mostrando mais uma vez que temos central para os próximos anos. Nem sempre a solução está no banco: pode estar também na equipa B. À atenção de Marco Silva.


Negativo

A produção ofensiva - Montero não existiu; Nani e Carrillo ainda apareceram a espaços e ainda deixaram algum perfume da sua classe, mas tiveram exibições insuficientes; João Mário foi o elemento mais esclarecido no nosso ataque, mas falhou aquele golo cantado perto do fim; Adrien, Rosell e Jefferson não existiram; Cédric subiu muito e ainda conseguiu alguns bons momentos, nomeadamente aquele cruzamento para João Mário. Mas tudo junto foi muito pouco para aquilo que se exigia.

O alheamento de Jefferson no primeiro golo - deveria ter antecipado o passe de Naldo no primeiro golo e acabou por condicionar ainda mais uma exibição que não estava a ser famosa. Sem Slimani acaba por se tornar num jogador muito menos valioso porque sabe que não pode cruzar sempre que tem condições para o fazer. Acabou por estabilizar defensivamente perto do final e salvou ainda duas ou três situações muito complicadas. Mas o mal já estava feito.

Alguma vez teria que ser Paulo Oliveira - o ex-vimaranense fez uma enorme primeira parte, destacando-se aquele corte fenomenal que saiu rente ao poste. No entanto, cometeu alguns erros - ficou ligado ao 2º golo ao deixar Dost marcar nas suas costas - e pareceu perder algum controlo emocional na segunda parte - coisa que não é nada habitual nele. Todos têm direito a ter dias menos conseguidos. Hoje, pela primeira vez desde que é titular no Sporting, foi a vez de Paulo Oliveira.

As noções de anatomia na Alemanha - pelos vistos, para aquelas bandas, bola na cara é penálti e mão na bola não é. Duas deslocações à Alemanha, dois lances que podem muito bem ter-nos custado a permanência em 2(!) competições na mesma época.



O apuramento não é uma impossibilidade, mas atendendo à capacidade ofensiva do adversário, à necessidade que teremos em correr mais riscos do que hoje e ao fraco momento de forma de alguns jogadores chave, só mesmo um jogo perfeito do Sporting poderá permitir-nos dar a volta à eliminatória. Não gosto de atirar a toalha ao chão, mas confesso que não me chatearia se decidíssemos poupar alguns jogadores na próxima quinta-feira, de forma a irmos nas melhores condições possíveis ao Dragão.