sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Obrigado por nos fazerem acreditar!

Não é segredo para quem passa por aqui que não estava propriamente confiante em relação às nossas possibilidades de eliminarmos o Wolfsburgo. Quando escrevo no título do post "por nos fazerem acreditar", faço-o obviamente em primeiro lugar em nome pessoal, mas a avaliar pela composição das bancadas creio que eu não seria um caso único no universo sportinguista. 

A verdade é que, apesar do resultado final, dei por bem empregue o tempo e o dinheiro que gastei para estar presente no estádio. O Sporting fez um excelente jogo e dominou aquela que será uma das equipas em melhor forma em todo o continente europeu. Sim, é certo que no início o Wolfsburgo concedeu intencionalmente a iniciativa do jogo ao Sporting, preferindo controlar a partida correndo poucos riscos. No entanto, por mérito nosso, a partir dos 30 minutos conseguimos dominar efetivamente a partida - e os alemães simplesmente não conseguiam manter-nos afastados da sua baliza. Fica por saber a forma como reagiria emocionalmente o Wolfsburgo se tivéssemos conseguido concretizar uma das muitas oportunidades de que dispusemos, mas suspeito que iriam sofrer bastante.

No final, acabou por ser uma eliminatória que foi definida pela qualidade na concretização. Em tudo o resto tivemos uma prestação quase irrepreensível que em nada foi inferior à dos alemães e que me fizeram efetivamente acreditar durante o jogo que poderíamos conseguir recuperar da desvantagem.



Positivo

Personalidade, atitude, concentração e raça - não foi por falta de esforço que fomos eliminados. Toda a equipa sem exceção deixou a pele em campo e batalhou por cada bola como se disso dependesse a eliminatória. Ganhámos a maior parte dos lances divididos e segundas bolas, e soubemos sempre fechar os espaços com grande competência, que foi decisivo para impedirmos que o Wolfsburgo causasse situações de perigo junto à nossa baliza. Quisemos mandar no jogo e conseguimos por vezes encostar os alemães às cordas. Faltou o uppercut nos queixos para os deixar cambaleantes e à mercê de um golpe final que nos garantiria o KO. O panorama só acabou por mudar nos últimos 15 minutos, quando os jogadores começaram a revelar o desgaste do esforço colocado em campo nos primeiros 75. 

No meio também está a virtude - no jogo com o Gil Vicente, o Sporting voltou à procura frequente do jogo interior junto da área do adversário, e no jogo de hoje isso foi mais uma vez evidente. Nani, Carrillo, Adrien, João Mário, William e até Cédric procuraram com insistência jogar pelo meio de forma apoiada e paciente, à espera que aparecesse uma oportunidade para perfurar a defesa alemã. Com ou sem Slimani, espero que esta ideia de jogo seja para manter e desenvolver - pois faz com que o nosso futebol seja bastante mais imprevisível contra adversários que se fecham no seu meio-campo.

Meister William - mais um grande jogo. Está a passar a bola como nunca - impressionante a precisão nos passes longos -, fez um remate para uma grande defesa de Benaglio e apareceu com muita frequência em terrenos mais avançados, sem no entanto comprometer a solidez defensiva da equipa. Está numa forma extraordinária.

Nani em subida de rendimento - muito dinâmico sobretudo na procura de espaços interiores. Está claramente a recuperar a forma perdida. Pena apenas as oportunidades de golo que desperdiçou.

As piscinas de Cédric - cansou só de olhar. Perdeu o respeito a Schurrle e nunca teve problemas em subir no flanco sempre que teve oportunidade. Soube também fletir para o centro do terreno por diversas situações para procurar soluções ofensivas alternativas. Apesar desse balanceamento atacante, revelou sempre uma enorme disponibilidade defensiva, nunca perdendo tempo para se reposicionar quando os alemães recuperavam a bola - o que já é uma das suas imagens de marca. Nem sempre decidiu ou executou bem, mas teve uma exibição muito positiva.

A dupla de centrais - mais um jogo de exigência máxima, mais uma exibição muito positiva de Paulo Oliveira e Tobias Figueiredo. Já o escrevi antes e volto a fazê-lo: estão a superar todas as expetativas e enche-me a alma pensar na tremenda margem de progressão que esta dupla ainda tem.


Negativo

Não desdenhar sempre o pé que está mais à mão - mais uma vez foi a má finalização que deitou tudo a perder. É verdade que muitas ocasiões não foram concretizadas por mérito do guarda-redes, outras por falta de sorte. Acontece. Mas incomoda ver tantas situações em que os jogadores têm boas condições para alvejar a baliza e optam, em vez do remate, por dar mais um toque, fazer mais um adorno, preferir passar para um colega supostamente em melhor posição. Gosto de jogadores inteligentes que procurem melhorar as hipóteses da equipa de chegar ao golo, mas a inteligência tem que considerar: a) há o risco de a ideia inteligente não ser bem executada; b) há o risco de haver um defesa inteligente que antecipa a ideia inteligente do avançado; c) há o risco de estarmos a dar tempo à defesa adversária de se reposicionar e anular o perigo. E se a), b) ou c) acabam por se verificar com demasiada frequência, provavelmente será sinal de que somos menos inteligentes do que pensamos. Espontaneidade precisa-se.

A assistência no estádio - custa ver um jogo com um adversário deste nível com bancadas tão mal compostas. No entanto, quem esteve no estádio proporcionou mais um grande ambiente, com apoio incondicional do princípio ao fim. Os 23000 presentes podem ter sido poucos, mas foram muito bons.



Penso que será percetível que não me sinto muito abatido por esta eliminação. Para mim, a Liga Europa é muito mais um risco do que uma oportunidade para o sucesso de uma época desportiva. Com uma quantidade infindável de jogos à 5ª feira, compromete a disponibilidade física para os jogos no campeonato no fim-de-semana seguinte. E não nos podemos esquecer que uma competição com equipas como o Wolfsburgo, Liverpool, Tottenham, Roma, Fiorentina, Zenit, Ajax, Anderlecht, Sevilha, Besiktas e Inter só pode ser ganha por uma equipa que ou tenha um plantel muito profundo, ou que coloque a Liga Europa como a sua principal prioridade - luxos que nós não temos. E tudo isto para um prémio financeiro pouco mais que insignificante.

Não há feridas a lamber nem um resultado a lamentar porque o Wolfsburgo é um adversário de fase a eliminar na Champions e a prestação dos nossos jogadores nas competições europeias foi globalmente positiva. Dediquemo-nos agora ao que é realmente importante: campeonato e taça.