terça-feira, 20 de outubro de 2015

A credibilidade do estudo dos 14 milhões de benfiquistas

Vamos ignorar por momentos o facto de que o tal estudo da Vox Populi foi realizado há quinze anos. Vamos ignorar por momentos que é estranho que ninguém consiga encontrar o livro de onde estes números foram extraídos. Vamos ignorar por momentos as várias inconsistências e diferentes versões que se podem encontrar desde que a existência deste estudo foi revelado (ler AQUI).

Vamos olhar somente para os dados apresentados:


Tenho muitas dúvidas que existam 4 milhões de benfiquistas moçambicanos e 3 milhões de benfiquistas angolanos, mas vamos também deixá-los de fora desta pequena análise.

A primeira coisa que salta à vista é a precisão quase sobrenatural com que se identifica o número de benfiquistas pelo mundo fora. Uma pessoa só se pode rir perante a afirmação de que existem 699 benfiquistas na Índia, um país que tem mais de mil e duzentos milhões de habitantes.

É curiosa também a ausência do estudo de duas das maiores comunidades portuguesas existentes: o Luxemburgo e a África do Sul. Lembraram-se de telefonar para o Vietname e para o Laos, mas esqueceram-se destes países?

Finalmente, os números propriamente ditos: fazendo um gráfico em que se compara o número de benfiquistas revelados por este estudo e o número de emigrantes e descendentes de emigrantes portugueses registados nos consulados e embaixadas, temos isto:


Podemos portanto chegar à conclusão que existem mais 400.000 benfiquistas nos EUA do que os portugueses registados. Existem mais 350.000 benfiquistas no Canadá do que portugueses registados. Não me parece que faça muito sentido.

Por outro lado, na Suiça e Áustria (por que razão a Suiça, que tem a terceira maior comunidade de portugueses do mundo, não tem direito a uma análise separada da Áustria?) apenas conseguiram encontrar cerca de 8.500 benfiquistas em quase 300.000 portugueses.

Seria de esperar que a percentagem de benfiquistas entre os portugueses registados fosse relativamente uniforme, mas o que se vê é uma enorme salganhada de números que não tem ponta por onde se pegue.

Sinceramente: se a minha filha de 9 anos fizesse um trabalho com esta qualidade para a escola, ficaria proibida de ver o Disney Channel durante o resto do mês.