quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Justificação de incompetente ou desculpa de cúmplice?

Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem, emitiu ontem um comunicado de oito pontos onde afirmou que apenas teve conhecimento das ofertas do Kit Cortesia do Benfica aos árbitros quando Bruno de Carvalho o revelou publicamente na TVI24.

Num desses pontos, fez questão de desmentir explicitamente a capa do jornal O Jogo do dia 8 de outubro, onde foi acusado de saber da existência das prendas. Essa capa baseou-se nas declarações dadas ao jornal por Pedro Henriques, que confirmou o conteúdo do Kit Cortesia, indicou que o Benfica iniciou esta prática na Eusébio Cup da época anterior, e afirmou que tanto José Fontelas Gomes (presidente da APAF) como Vítor Pereira tinham conhecimento das ofertas.

Doze dias depois, tivemos finalmente direito a uma reação de do presidente do Conselho de Arbitragem. E a defesa usada é... a ignorância. Vítor Pereira não sabia das prendas. Nenhum dos restantes quatro membros da secção profissional do CA com quem Vítor Pereira falou sabia das prendas. Ou seja, ninguém sabia das prendas. Quer dizer, ninguém sabia das prendas a não ser as dezenas de equipas de arbitragem que ao longo do último ano apitaram partidas na Luz ou no Seixal e que hierarquicamente respondem a Vítor Pereira e aos restantes vogais do Conselho de Arbitragem.

Não há grande forma de Vítor Pereira se sair bem desta história. Ao negar o conhecimento das prendas coloca-se numa de duas situações: ou está a dizer a verdade e foi o último a saber, o que diz muito da sua capacidade enquanto líder; ou está a mentir, tendo tomado conhecimento da situação em tempo útil mas optando por não agir - ou por ter desvalorizado a gravidade da situação, ou por ter contribuído conscientemente para encobrir a existência do Kit Cortesia. 

A ignorância é invocada muitas vezes como justificação dos incompetentes quando cometem um erro, ou como defesa dos cúmplices quando são apanhados. Resta saber em qual destas duas categorias se encaixa Vítor Pereira. Quer num caso quer noutro, já não tem condições para continuar no cargo.