Após mais um mês de trabalho e de uma mão-cheia de jogos de preparação, confesso que não sei bem o que esperar da época que se seguirá.
Ao que tudo indica, o Sporting atacará 2017/18 mudando mais de meia equipa titular, incluindo - e aí é uma certeza - três quartos da defesa. A estrutura decidiu defrontar na pré-temporada um conjunto de equipas que, em média, têm valor bastante superior ao típico adversário da Liga NOS, experimentando vários sistemas de jogo e dando minutos relativamente equilibrados a uma grande parte do plantel. Os desempenhos variaram entre o bom e o sofrível, o que acaba por ser normal face às condicionantes do calendário, nível dos adversários e as experiências levadas a cabo pelo treinador.
O plantel ainda não está fechado, mas parece que a estrutura aprendeu com os erros cometidos na época passada: a maior parte das contratações foi feita a tempo e horas, e tem um perfil que dá maiores garantias de rendimento. Apesar de William e Adrien estarem na porta de saída - no mínimo sairá um deles, mas é bem possível que acabem ambos por serem transferidos - e de faltar um defesa direito para concorrer com Piccini, o grupo de trabalho foi constituído, globalmente, de uma forma atempada. Para além disso, os responsáveis pelo clube já perceberam que a qualidade paga-se: dois dos reforços que mais prometem - Bruno Fernandes e Acuña - entram diretamente para a lista das contratações mais caras da história do clube, e as primeiras indicações levam a crer que terá sido dinheiro bem gasto. Mathieu, Coentrão e Doumbia são outro perfil de contratações, que encerram determinados riscos e interrogações - virão com a motivação necessária e terão capacidade física para aguentar uma época inteira? -, mas ninguém deixará de lhes reconhecer argumentos teóricos para serem um grande upgrade em relação ao que havia na última temporada.
Nos testes levados mais a sério - Monaco e Fiorentina -, a resposta da equipa foi positiva. De qualquer forma, falta saber como será o desempenho contra adversários fechados que apostem quase exclusivamente no contra-ataque. Nos dois testes contra adversários com este perfil - Valencia e V. Guimarães -, a resposta foi má, mas existem atenuantes fortes: segundo jogo no espaço de 24 horas no primeiro caso, e um onze completamente inventado pelo treinador no segundo, com a agravante de ter jogado em inferioridade numérica a partir dos 25 minutos. Ainda não vi a dinâmica e velocidade que me parecem imprescindíveis para desmontar autocarros, mas vejo potencial para isso: Podence, Gelson e Acuña, apoiados por Coentrão e conduzidos sob a batuta de Bruno Fernandes, estão muitos furos acima do que Alan Ruiz, Gelson, Bryan Ruiz e Marvin conseguiam dar sob a batuta de Adrien. A minha maior dúvida, aqui, é o equilíbrio que Battaglia conseguirá dar nas transições defensivas. Ainda assim, a combinação de agressividade / capacidade de construção dada por Battaglia e Bruno Fernandes (e Acuña) poderá funcionar melhor do que o duo a que nos habituámos: William sempre foi um construtor (de excelência) recuado com agressividade a menos para 6, Adrien sempre foi um destruidor adiantado com criatividade a menos para 8.
A qualidade do banco causa-me preocupações maiores. Tenho muito receio na falta de alternativas que há em várias posições:
- nas laterais, Jonathan não serve para fazer mais do que uma dúzia de jogos, mas poderá ser obrigado a mais do que isso caso Coentrão tenha problemas físicos;
- nos centrais, ainda não percebi o que vale André Pinto, enquanto Tobias não dá para mais do que para ser 4ª opção;
- a médio defensivo, Palhinha chegará para backup de Battaglia caso este corresponda às expectativas, mas ainda me parece cedo para assumir um papel mais importante - ou seja, há aqui um risco que só será eliminado se o argentino corresponder às expectativas; Petrovic, apesar do bom início de pré-temporada, foi decaindo para a irrelevância;
- a box-to-box, não vejo alternativas a Bruno Fernandes: Bruno César desenrasca, Mattheus Oliveira não tem a pedalada necessária;
- nas alas, há Bruno César, que... desenrasca, e Iuri, que precisa de confiança para partir tudo - esperemos que Jesus o ajude a tê-la.
Só na frente estamos claramente melhor, com Doumbia, Dala e Alan Ruiz. Na baliza, Salin deverá suprir as necessidades, apesar de achar que estávamos melhor servidos com Beto.
Tem a palavra Jorge Jesus. Mais uma vez, foi-lhe dado o plantel com as características que pretendia - em que a experiência se sobrepõe à juventude -, a tempo e horas, pelo que não há desculpas: tem a obrigação de pôr a equipa a jogar muito mais do que na época passada - se não o conseguir, não terá condições para cumprir a sua última época de contrato.
Ainda assim, e apesar das preocupações que coloquei nestes últimos parágrafos, estou moderadamente otimista para a temporada que começa no próximo domingo. E não creio que nenhum dos nossos rivais esteja em condições de partir com muito mais confiança do que nós. A época promete.
P.S.: falarei mais à frente sobre outros temas que estão, direta ou indiretamente, ligados a isto: as dispensas de Jesus e as vendas, a perceção que tenho sobre a capacidade dos nossos rivais, e ainda o VAR.
P.S. 2: muito obrigado a todos pelas mensagens que me fizeram chegar, pela caixa de comentários, pelo Twitter e pelo Facebook. Foi muito gratificante confirmar o apreço que tanta gente tem pelo que escrevo - não só sportinguistas, mas também benfiquistas e portistas. Ainda não sei qual será o ritmo da escrita - durante agosto será, seguramente, irregular -, mas cá estou de baterias mais ou menos recarregadas para uma nova época. Um abraço a todos!