segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Como não compreender Bruno de Carvalho?

Novo texto do 3295C.



Já se conheceram alguns movimentos espontâneos de pequenos, médios, grandes, gigantes até, grupos de pessoas a boicotarem produtos. Pelas mais variadas razões. Bruno de Carvalho é Presidente do Sporting e, por inerência do cargo, o maior responsável pelo símbolo – que em linguagem comercial se poderá designar por marca – que todos adoramos. Que todos idolatramos. Não é por acaso que dizemos que só nos curvamos para o beijar.

No discurso final da reunião magna, o Presidente do Conselho Directivo do Clube admitiu que se poderia resguardar mais e concentrar-se em assuntos de maior relevo no dia que os Sócios deixassem de comprar jornais desportivos e parassem de ver televisão nacional. Riu-se ao ter que recordar a excepção ao canal verde e branco.

O Presidente do Sporting, em tempo algum, se referiu a jornalistas. O desafio, radical como alguns já lhe chamaram, foi um claro apelo ao boicote. Simples. Na qualidade de principal responsável da marca, considerou que em momentos de radicalismos, soluções radicais só podem ser a resposta. Deve-se conversar com as partes com as quais estamos em confronto? Sim, num futuro em que haja respeito à instituição Sporting Clube de Portugal e ao seu Presidente. E jamais se coloque em causa a expressão confronto. É disso mesmo que se trata. Seremos sempre nós contra eles e vice-versa.

Compreende-se Bruno de Carvalho, com o ‘basta’ ao seu estilo, alertando para que a situação não pode, realmente, ficar como está. Atente-se no singelo mas seguro exemplo em baixo.


Quarta jornada da Liga dos Campeões. O Sporting acabava de empatar em casa com a Juventus, somava o sétimo ponto – num grupo que já se sabe com quem – e o rival sofria a quarta derrota, com um golo marcado e 14 sofridos (já agora, os nossos leões tinham oito marcados e nove sofridos – num grupo que… ). O pormenor da diferença dos títulos.

Compreende-se Bruno de Carvalho quando se tenta ver um programa de televisão sobre futebol (não desporto, atenção) e ouve-se o que se ouve sobre o Clube e o Presidente. Que ainda deu autorização para que se publiquem todos os emails do Sporting a que, pelos vistos, tiveram acesso. Depois de se sujeitar à vontade de 25,1 por cento dos associados, um ano depois de ter 86,13 por cento dos votos para a reeleição.

Compreende-se Bruno de Carvalho. Como não compreender? O Sporting conquistou o primeiro título internacional numa modalidade paralímpica colectiva em Portugal. Quantos jornais deram, sequer a notícia? Quantos canais de televisão? No dia em que o Sporting conquistou dois títulos europeus em atletismo, o foco pareceu estranhamente estar na final do Super Bowl. Ou nos anúncios. Foram dois títulos europeus de atletismo, masculino e feminino, que em Alvalade leva-se a igualdade de género muito a sério. Modalidade que já deu medalhas de ouro olímpicas a Portugal. A primeira também foi nossa. Ainda há quem se ria quando nos apresentamos como a maior potência desportiva nacional.

As reacções de alguns associados, mais intempestivas, à saída da reunião magna são lamentáveis. Naturalmente. Agressões fazem perder a razão. Até porque não são os jornalistas – os que vão ao terreno –, são os jornais. E a televisão. É por ela ser foleira.


Não se conta o que se passou na Assembleia Geral porque o que acontece em casa, só aos que lá vivem diz respeito. Já basta quem, mesmo depois dos reiterados pedidos do Presidente da Mesa da Assembleia Geral, não consegue resistir a tirar fotos e a filmar. Diga-se em abono dos mesmos, que não se sabe por que quiseram fazê-lo. Podem não ter enviado a quem quer que fosse e tivesse sido só mesmo para ficarem com uma recordação. É o que dá ter um pavilhão giro e fotogénico, ainda por cima cheio! Mas quem lá esteve, percebeu. 90% de 5.380 sócios não é a Coreia do Norte porque só a comparação é tão estúpida como todos aqueles que a referem. Os tais "chavões" que passam um atestado de ignorância a quem exprimiu o seu desejo em voto e de falso paternalismo ao Presidente do Sporting Clube de Portugal. É tão vergonhoso para quem profere tais falhadas tentativas metafóricas como penoso para os Sportinguistas terem de as suportar. Todos pensam pela sua cabeça e ninguém está inebriado ou hipnotizado. Estão apenas satisfeitos e orgulhosos pela forma como os dirigentes defendem o Clube, algo que realmente este emblema não tem estado muito habituado na sua história recente. Como não compreender Bruno de Carvalho?