quarta-feira, 7 de março de 2018

Citius, altius, corruptus & Apontamentos de brunologia


Mais dois excelentes textos de José Diogo Quintela (um de hoje, outro da semana passada) publicados no Correio da Manhã:



CITIUS, ALTIUS, CORRUPTUS

Passaram 24 horas desde que o braço direito de Luís Filipe Vieira foi preso por suspeita de corromper funcionários judiciais para favorecimento do Benfica e, escandalosamente, ainda ninguém se demitiu. Como é óbvio, refiro-me à demissão de Bruno de Carvalho.

Este caso é resultado da presença daninha de BdC no futebol português. Até BdC chegar, reinava o fair-play e nunca alguém se lembraria de subornar. Desde que apareceu, isto transformou-se numa latrina.

Há que continuar a denúncia do repugnante Kim Jong-un de Alvalade. Rua com o Bruno, o malvado que, com o seu Facebook, obrigou os rivais a montarem esquemas corruptos! Queremos o futebol português de volta.



APONTAMENTOS DE BRUNOLOGIA

Escrevendo aqui, infrinjo a directiva de Bruno de Carvalho? Claro que não. Ele sabe que a sua função não é ser censor e sabe que os comentadores sportinguistas nunca acatariam a ordem, pois são livres. Se fossem avençados do clube, então sim, obedeceriam, para evitar despedimento por justa causa. Diria que BdC pretendeu destacar este tipo de arranjinhos, mas sou apenas brunólogo amador (o meu otorrino não me deixa estudá-lo durante muito tempo).

Não é para levar a sério. Tanto que as instruções são imprecisas: ou só se vê TV por lazer, ou vê-se o Sporting. Uma das duas. Sofrer como com o jogo de Tondela não é lazer. (Mas, se alguém levar a sério, também é bom. Não ver TV à noite significa que daqui por nove meses começam a nascer leõezinhos e em breve somos o clube com mais adeptos).

BdC quis (além de berrar, BdC gosta muito de berrar) alertar para a parcialidade do jornalismo, que realça o que de mau se passa em Alvalade e desvaloriza o que de pior se passa noutros clubes.

E não é que o jornalismo lhe deu razão? Talvez acordados pelos berros, os mesmos articulistas, que, por norma, ignoram o futebol, desataram a denunciar BdC. (Já agora, posso pedir mais variedade nas analogias ditatoriais? Porquê insistir no enfadonho ‘Kim Jong-un’, se há bons tiranos como Átila, Franco ou Mao? Dar-se-ia opinião e também aula de história).

A reacção dramática da imprensa, como se fosse morrer alguém por causa do futebol, é desajustada. Porquê? Por ser dramática, ao contrário da reacção quando morreu mesmo alguém por causa do futebol. Há um ano, um adepto foi morto por um membro das claques do Benfica. Claques que o Presidente do Benfica nega existirem, apesar de, sabe-se agora, lhes pagar advogados – e não é para tratar de multas de estacionamento, a não ser que seja estacionamento em cima de italianos.

Sabe-se, pois vem nos mails. Como vêm os indícios de que o Benfica controla observadores, árbitros, jornalistas, subdirectores de jornais, comentadores, dirigentes federativos e jogadores adversários. Sabe-se ainda que ameaça processar quem investigue os mails – ameaça séria, se pensarmos que o Presidente do Benfica pode ter conta-corrente com um juiz corrupto. Além de um informador na Justiça, que dá sempre jeito.

Sabe-se isso tudo e, mesmo assim, a CS não liga aos indícios de crime e acha que grave é um Presidente grosseiro que se queixa que a CS não liga a indícios de crime. QED.

Se BdC planeou isto, digo-lhe: ‘Espectacular, Presidente!’ Não é pelo elogio, é para citar o dirigente do FC Porto que gabou Pinto da Costa quando este ditou uma notícia falsa a um jornalista de ‘O Jogo’. Vale sempre a pena recordar os bons velhos tempos do Apito Dourado, em que o futebol português era digno e não a baixeza em que se tornou à conta do Pol Pot do Lumiar. (Vêem, colegas cronistas?)