quinta-feira, 26 de julho de 2018

Um mês de Cintra

Na sequência da destituição de Bruno de Carvalho e restantes elementos do Conselho Diretivo, um dos primeiros atos da Comissão de Gestão nomeada por Jaime Marta Soares e presidida por Artur Torres Pereira foi a indigitação de Sousa Cintra como representante do clube na SAD, precisamente em substituição de Bruno de Carvalho. Fez esta semana um mês que se deu essa substituição, pelo que me parece um momento oportuno para fazer uma avaliação provisória do trabalho que tem sido desenvolvido por Sousa Cintra e sua equipa.

Peguei em alguns tópicos que acho serem merecedores de análise (é possível que me tenha esquecido de alguns) e organizei-os por importância/desempenho.



1. Reinstauração de um clima de normalidade

Creio que toda a gente estará de acordo que seria impossível governar o clube e SAD caso se mantivesse a instabilidade que se viveu antes da destituição de Bruno de Carvalho. Obviamente que o afastamento do ex-presidente, por si só, resolvia parte do problema, mas não seria suficiente caso a nova direção não fizesse por devolver a serenidade e confiança possível aos adeptos. Por isso acho que Sousa Cintra teve um papel importante quando, na sua declaração inicial, prometer uma equipa "fortíssima" para lutar pelo título - tudo bem que Cintra se limitou a ser igual a Cintra (a recuperar o otimismo ingénuo que caracterizou o seu estilo de presidência nos anos 80/90), mas era fundamental sacudir o fatalismo profundo que o pesadelo dos meses anteriores incutiu na mente coletiva sportinguista. Não se pode, no entanto, abusar da procura da normalidade ao ponto de se cair na passividade - algo que, no lamaçal do futebol português, pode ser a morte do artista.


2. Regresso de Bruno Fernandes e Bas Dost

É certo que vai haver um ambiente estranho quando estes dois jogadores regressarem a Alvalade e que algumas pessoas nunca lhes perdoarão a rescisão, mas do ponto de vista desportivo esta foi a melhor solução possível para o Sporting. Bruno Fernandes afirmou que o seu salário não foi alterado, o que é algo que, simbolicamente, é muito importante para um bom relacionamento com os adeptos. Dost, de todos, era dos que teria mais razões para querer sair. Voltou, supostamente, com um ajuste salarial pouco significativo. Diga-se o que se disser, Sousa Cintra esteve muito bem ao conseguir recuperar dois jogadores fundamentais que nos tornam automaticamente muito mais competitivos, ainda que esse muito bem possa mudar, para pior ou para melhor, em função dos prémios de assinatura e comissões que o Sporting possa ter (ou não) pago a jogadores e empresários.


3. Gestão das rescisões

Um dos meus principais receios com a entrada da CG - ainda mais quando se assistiu a uma aproximação súbita de Jorge Mendes - era que cedêssemos às pretensões dos jogadores que rescindiram face a ofertas pouco mais que simbólicas. Ainda que o negócio William não seja famoso (já lá vamos), é bom ver que, apesar de haver abertura por parte do clube para negociar uma via não litigiosa, não andemos a aceitar esmolas ou entulho de que os clubes interessados se querem ver livres.


4. Contratação de Nani

Não sendo seguramene o mesmo jogador que regressou em 2014 e muito menos aquele que deslumbrava no Manchester United, Nani pode ser uma peça bastante útil para José Peseiro e, não menos importante, poderá ser uma referência de balneário capaz influenciar positivamente o grupo de trabalho - havendo vontade para isso. Ter vindo a custo zero torna a operação bastante interessante, ainda que se esteja por saber quanto se gastou em comissões e prémio de assinatura.


5. Troca de treinador

Ainda que entenda os motivos que levaram à dispensa de Mihajlovic (caro para o currículo apresentado e com um contrato longo), não aceito que se diga que ficámos a ganhar com a troca. Peseiro é um treinador que tem fracassado em todos os sítios por onde tem passado e que dificilmente terá pulso para segurar um balneário com personalidades muito fortes caso as coisas comecem a correr mal. A única coisa boa na vinda de Peseiro é que o contrato é de apenas uma época. Espero poder engolir as minhas palavras em maio, mas... não me parece que isso vá acontecer.


6. Aproximação a Jorge Mendes

Foi-nos vendido por Sousa Cintra que Jorge Mendes estava disponível para nos ajudar, apesar de toda a gente saber que o empresário é um especialista em ajudar-se apenas a si próprio, e que, para além disso, fez os possíveis para que vários jogadores rescindissem com o clube. Saldo das ajudas até ao momento: arranjou-nos um treinador fraco e levou-nos de forma litigiosa Rui Patrício, Podence e Gelson Martins. Não me parece que estejamos a sair por cima deste relacionamento, ainda que pudesse ser pior: ao que parece, livrámo-nos de receber um guarda-redes de que não precisamos.


7. Informação aos sócios

Até agora, o nível da informação prestada aos sócios e adeptos tem sido péssimo. O que vamos sabendo resume-se ao que sai da boca de Sousa Cintra em apresentações de jogadores ou em exclusivos à CMTV, e aos comunicados para a CMVM. De resto, parece um clube que se governa apenas para si próprio. Certo dia tínhamos a equipa B inscrita no Campeonato de Portugal, um par de dias mais tarde tínhamos desistido da equipa B. Explicações aos sócios? Nada. É apenas um exemplo entre vários em que não há qualquer informação transmitida aos sportinguistas, como os percalços na calendarização da pré-época, a colocação de jogadores excedentários, o cancelamento da Gala Honoris, e por aí fora.


8. Venda de William Carvalho

Caso corra muito bem a vida de William em Sevilha, pode ser que o Sporting consiga receber os 4 milhões dos objetivos (quais são, mesmo?) e o Bétis acione a compra de 20% do passe por 10 milhões, será um bom negócio. Até lá, considerando que só estão garantidos 16 milhões e que estamos a falar de um campeão da Europa, titularíssimo do Sporting e da seleção nacional, é um mau negócio para o Sporting. O facto de ser uma ajuda importante para os problemas de tesouraria atenua um pouco a má decisão que foi tomada.


9. Problemas com o planeamento da pré-época

Vários jogos adiados ou com alteração de adversário. Pouquíssimos jogos contra adversários competitivos. Neste momento temos um único jogo marcado até ao arranque do campeonato. Revela desorganização e desleixo que poderá sair-nos muito caro no arranque do campeonato: vamos defrontar o Benfica na 3ª jornada com metade dos minutos de competição.


10. Venda de Piccini

É certo que chegou barato, mas 8 milhões por 90% do passe de um jogador que fez uma boa época acaba por saber a pouco. Tinha de ser vendido - já que a posição no plantel está bem preenchida por outros dois jogadores -, mas parece-me que se desistiu demasiado cedo de conseguir um negócio mais favorável.


11. Levantamento da cláusula de confidencialidade de Jorge Jesus

Continuo a não ver o que ganha o Sporting com isto, nem o que Jesus fez para merecer esta borla de Sousa Cintra.


12. Proximidade excessiva à CMTV

Tanto quanto me apercebi, Sousa Cintra ainda não pôs os pés na Sporting TV desde que foi nomeado presidente da SAD. Ao invés, permitiu uma proximidade assustadora com Tânia Laranjo e a CMTV, que tanto mal fizeram ao Sporting nos últimos anos. Já deu para perceber que isso permite "comprar" peças mais favoráveis, mas será sol de muito pouca duração. Não dá para entender esta estratégia.