quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Brincando às convergências

O tempo é de férias para grande parte do país, mas a pré-campanha para a presidência do Sporting tem prosseguido a todo a vapor ao longo dos últimos dias. A lista encabeçada pelo DDT do Sporting foi finalmente anunciada - elevando para nove as opções de voto dos sportinguistas - e os candidatos continuam a desmultiplicar-se em entrevistas e sessões de esclarecimento por todos os canais de televisão e núcleos do país. Mas o grande twist and turn da semana acabou por vir de outras paragens: um grupo de sócios encabeçado por Miguel Poiares Maduro propõe animar ainda mais o estado das coisas apelando à "convergência de listas" - mesmo que isso implique o adiamento das eleições, fazendo uso do limite de seis meses previsto para o mandato da Comissão de Gestão - e propondo a criação de um Conselho Estratégico com acesso privilegiado à direção e a tudo o que se faz no clube e SAD.

Sinceramente, estas propostas parecem-me não fazer qualquer sentido, começando pelo apelo à convergência de listas. Em primeiro lugar porque não há quaisquer garantias de que uma convergência de listas permita a formação de melhores listas - mesmo que em teoria concentrem mais competências, em teoria também serão menos coesas. Em segundo lugar porque não é uma percentagem de votos mais ou menos elevada que vai determinar a legitimidade e sucesso de uma direção - acredito que a tolerância ao erro possa ser mais pequena se os votos estiverem muito divididos, mas aquilo que determinará realmente o seu sucesso será a competência demonstrada após a tomada de posse. Não existem melhores exemplos do que o mandato de José Eduardo Bettencourt (que, apesar de ter vencido com uma maioria esmagadora, rapidamente se desfez face ao péssimo trabalho realizado) e o primeiro mandato de Bruno de Carvalho (que, apesar de ter tido uma magra vantagem sobre Couceiro, conseguiu, através da qualidade do seu trabalho, agregar a esmagadora maioria dos sportinguistas à sua volta nas eleições de 2017 - mesmo que nesse período de quatro anos, desportivamente, tivesse apenas campeonatos de futsal para mostrar como conquistas).

Aquilo que realmente me preocupa não é o facto de existirem demasiadas candidaturas. O que me preocupa é o facto de, em tantas listas concorrentes, não ver em nenhum dos candidatos todas as características que considero essenciais para poderem vir a ser bons presidentes. Para mim, um bom candidato a presidente tem de ser alguém que saiba o suficiente de futebol para tomar decisões, mas que, sobretudo, conheça muito bem o mundo do futebol, que saiba mexer-se - dialogando ou fazendo frente quando necessário - nas instituições que regem o futebol, compreendendo sempre a importância do ecletismo para a identidade leonina, com conhecimento e capacidade comprovada de liderança, de organização e de comunicação, e que tenha sempre a preocupação de defender intransigentemente o clube e os seus sócios. Tudo o resto - estratégias sofisticadas para controlo e desempenho financeiro, planos para transformar a formação e a Academia, etc., etc. - é secundário. Não quer dizer que não sejam relevantes, mas não servem de nada se as coisas falharem naquilo que é realmente prioritário. E neste momento não vejo em nenhum candidato o pulso ou o conhecimento necessário para enfrentar todas essas frentes.

A questão das pessoas que os acompanham nas listas também tem a sua importância, claro, mas acaba por ser algo secundário, já que o futuro presidente poderá colocar na SAD quem bem lhe apetecer. Como tal, não me parece que a agregação de listas nos ajude a desencantar um melhor candidato.

Quanto ao adiamento das eleições, nem a brincar se deve sugerir uma coisa dessas. Sousa Cintra e o CG estão a fazer um trabalho globalmente positivo nos dossiers mais importantes, mas desastroso em tudo o resto... e a tolerância que os sportinguistas estão dispostos a dar-lhes neste momento passará a ser um bem bastante mais escasso quando começarem os jogos a sério. Se os resultados no futebol não forem bons logo ao princípio, não vejo esta CG com a capacidade necessária para gerir as frustrações dos sócios.

Em relação ao Conselho Estratégico... basta olhar para a apresentação feita (LINK) para se perceber que os proponentes não fazem a mínima ideia de como avaliar uma equipa de gestão desportiva - seria apenas uma criação destinada a alimentar egos e despejar na praça pública informação supostamente confidencial.

Mal ou bem, será com estes nove candidatos (e com os outros que eventualmente ainda surjam) que teremos de ir a votos em setembro. Ganhe com 90, 51 ou 25%, será uma direção legitimada que terá a benesse de não ter de assumir as responsabilidades do que correr mal na primeira época de futebol e, como tal, haverá tempo para se organizar. O que correr bem ou mal ao longo do mandato dependerá sobretudo da sua competência, e muito pouco da percentagem de votos que obtiver nas eleições. Melhor ou pior, a questão da sucessão terá de ficar resolvida tão rapidamente que possível e, desejavelmente, sem recurso a alianças artificiais, montadas em função do cheio a poder.