O meu sentimento para a época que está prestes a iniciar-se é, predominantemente, de cepticismo. Não tem nada a ver com a questão da sucessão diretiva ou da atuação da Comissão de Gestão. O cepticismo que me invade deve-se a três fatores essenciais: tenho muitas dúvidas de que Peseiro seja o treinador certo para o Sporting; o plantel tem lacunas graves que tardam a ser supridas; e o cumprimento do planeamento da pré-época foi digno de uma equipa semi-profissional. Ainda assim, o pouco que tinha visto foi-me criando algumas expectativas em como seria possível uma melhoria exibicional em relação ao jogo mastigado e previsível a que a teimosia de Jorge Jesus nos condenou na época passada. A incorporação de Raphinha e/ou Matheus Pereira no onze trazia-me a esperança de voltar a ter um ataque irreverente e imprevisível, sob a batuta de Nani e Bruno Fernandes e com o apoio de laterais capazes de ajudar no desequilíbrio (Ristovski, Bruno Gaspar e Acuña), a que se junta a curiosidade de ver o que Wendel e Geraldes poderiam acrescentar à equipa. Não deixando de pensar que vamos partir bastante atrás dos favoritos ao título, pelo menos nem tudo seria mau se conseguíssemos ter uma equipa capaz de nos proporcionar momentos de bom futebol.
Já se sabe que acabou por não haver espaço para Geraldes, o que me deixou um pouco desiludido. Mas ontem, ao ver o onze escolhido por José Peseiro para o último ensaio antes do arranque da época, fiquei efetivamente desanimado com aquilo que aparentemente nos espera. Jefferson em vez de Acuña na lateral esquerda, um duplo pivot no meio-campo (Battaglia e Misic) que não me parece dar a capacidade defensiva e de construção necessária, e um par de "extremos" a quem falta velocidade e explosividade.
Infelizmente, o jogo não fez grande coisa para contrariar esse sentimento. É verdade que podíamos ter ganho confortavelmente não fosse o desperdício na finalização... mas também me parece que poucas vezes encontraremos equipas tão macias na defesa como o adversário de ontem. Para além do belo golo de Misic, houve alguns bons indicadores, mas a ideia de jogo pareceu-me executada de forma demasiado caótica: excessiva preocupação em colocar rapidamente a bola perto da baliza adversária, independentemente de termos ou não jogadores em número suficiente em posição de finalização; demasiadas situações de indefinição nos posicionamentos e comportamentos defensivos; e a pressão alta não foi devidamente executada em bloco (acabou por ter períodos de eficácia mais por demérito dos italianos na troca de bola). Basicamente, se a ideia do treinador para a época for essencialmente a que tentou pôr em prática ontem, só conseguiremos ir até onde Bruno Fernandes, Nani e Mathieu nos conseguirem levar. Não podem ser ignorados algumas condicionantes relevantes - jogo realizado com uma temperatura elevadíssima e utilização de vários jogadores com poucos dias de trabalho -, mas, ainda assim, numa fase destas era suposto a máquina estar bastante melhor oleada.
Tanta coisa para definir, trabalhar e afinar, e já só faltam 7 dias para o começo do campeonato. A parte boa é que os adversários das duas primeiras jornadas estão, em teoria, perfeitamente ao nosso alcance... e será muito mais fácil definir, trabalhar e afinar se formos acumulando vitórias.