A invasão a Alcochete foi o pior momento da história do Sporting. Causou danos na vida de muitas pessoas, começando pelas dos jogadores - as vítimas do ataque -, e teve também o efeito secundário de provocar uma ferida profunda no relacionamento que muitos sportinguistas têm com o clube, ferida essa que tardará a sarar. E não podemos ignorar os danos desportivos, reputacionais e financeiros que também foram causados. Como tal, sendo eu um sportinguista que ficou enojado pelos acontecimentos que estão agora a ser investigados, desejo, como não poderia deixar de ser, que a justiça consiga para apurar o que realmente se passou e que puna todos os responsáveis, doa a quem doer.
Desconheço os factos e provas apurados pelo Ministério Público que levaram à decisão de deter Bruno de Carvalho para interrogatório. Não vou especular sobre se havia motivos ou não para que tal acontecesse, mas parece-me claro que os direitos do cidadão não estão a ser respeitados quando este é obrigado a passar três noites numa cela antes de ser ouvido por um juiz - contribuindo assim para alimentar ainda mais o circo mediático que se sabia que iria acontecer. Ontem, para além do já habitual acampamento habitual à porta das esquadras e do tribunal e das não tão habituais perseguições de operadores de imagem a carros celulares e a outras viaturas policiais, chegou-se ao ponto de vermos uma jornalista a indignar-se em direto por as autoridades não lhe terem dado a oportunidade de filmar Bruno de Carvalho a entrar no tribunal algemado. Espero, por isso, que o sistema judicial faça por não contribuir para a transformação de um assunto muito sério num miserável reality show que faz salivar os responsáveis de muitos dos canais televisivos... e não só.
Resta-me partilhar a ideia que fui formando ao longo destes meses sobre o assunto. Tenho dificuldades em acreditar que Bruno de Carvalho tenha dado ordem para o ataque porque não vislumbro nenhum motivo racional que pudesse levar o então presidente a incentivar de alguma forma um ato violento contra os seus próprios jogadores, ainda mais estando a poucos dias de disputar uma final da Taça de Portugal que poderia ajudar a mitigar o insucesso do campeonato. As teorias que têm aparecido na imprensa oscilam entre o pouco convincente e o absurdo, como a de que a intenção de Bruno de Carvalho em ordenar o ataque passaria por forçar jogadores a sair. Aparentemente os autores desse artigo esqueceram-se que era notório que muitos dos jogadores estavam desejosos de sair do clube desde o malfadado post pós-Madrid e não precisavam dessa motivação extra. Mas lá está, é apenas a minha opinião e também aquilo que desejo. Mas como a vida nos vai mostrando que não é incomum sermos surpreendidos positiva ou negativamente pelas pessoas, neste momento não há muito mais que se possa dizer ou fazer que não seja esperar pelo decorrer do processo. Que no final se possa dizer que a justiça foi efetivamente aplicada.