sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A montanha que pariu um rato e o circo montado

A montanha que pariu um rato

A decisão do tribunal de permitir que Bruno de Carvalho aguarde o julgamento em liberdade foi um gigantesco balde de água fria despejado em cheio sobre todos aqueles que aguardavam ansiosamente pela confirmação da medida de coação de prisão preventiva, tomada como quase certa. Um plot twist arrasador para todos aqueles que se foram saciando durante os cinco dias de frenesim mediático que devassou por completo a vida de um cidadão - chegámos ao ponto de sermos informados da medicação que lhe tinha sido receitada - e da sua família. Foi perfeitamente percetível a desilusão (e indignação) na voz de vários jornalistas e comentadores quando foram conhecidas as medidas de coação.

A libertação de Bruno de Carvalho não é sinónimo de inocência, mas é compreensível que a sua família e amigos encarem esta decisão com alegria depois de tudo o que têm passado desde domingo. Foi tratado na praça pública como um criminoso julgado e condenado e, para quem assistiu de fora a este espetáculo, seria de esperar que existissem provas minimamente sustentadas que ajudassem a justificar o tratamento inadmissível a que foi submetido. Não existindo, acaba por ser um golpe na credibilidade de quem conduz o processo. E isso é preocupante, porque não nos podemos esquecer que não é só Bruno de Carvalho que está aqui em causa: o que aconteceu no dia 15 de maio é gravíssimo e os responsáveis, sejam eles quem forem, têm de ser determinados e punidos em conformidade, havendo sempre a necessidade de que haja consciência de que, no meio de dezenas de pessoas acusadas, nem todas terão o mesmo grau de culpa naquele trágico acontecimento.


O circo montado

Ontem, depois de conhecida a decisão do tribunal, as agulhas viraram-se para o circo montado pelo MP. Existe uma atenuante importante, na minha opinião: não me lembro de alguma vez ter visto o poder político em massa a fazer imediatamente declarações tão assertivas sobre uma situação do foro da justiça, e isso deve ter criado uma pressão imensa sobre quem ficou com a responsabilidade de investigar o sucedido.

Mas também convinha que se discutisse o circo montado pela própria comunicação social, para quem a pressão existente é apenas uma questão... de audiências, e que levou a que (mais uma vez) se cometessem excessos inadmissíveis. Justiça a David Borges que, no Jornal da Noite de ontem, fez uma curta mas importante reflexão sobre o mau serviço que os jornalistas prestaram ao público ao longo dos últimos dias.