Ao fim de três jogos, parece seguro dizer-se que Marcel Keizer conseguiu derrubar grande parte das desconfianças que foram expressas por muitos comentadores e adeptos aquando da notícia da sua contratação. De notar que considero perfeitamente legítima a desconfiança que se gerou na altura (e que ainda exista agora) face à falta de currículo do técnico holandês. O que não achei legítimo nem normal foi parte do argumentário utilizado: o levantamento da questão da nacionalidade do treinador – como se o facto de ser holandês fosse por si só sinónimo de um fracasso anunciado – ou a insistência acérrima na defesa da continuidade de um Peseiro manifestamente incapaz de retirar rendimento dos recursos que tinha ao seu dispor, para além da ausência de qualquer benefício da dúvida dado ao novo treinador e ao processo de escolha por parte da direção, que optou por não se concentrar em nomes concretos e preferiu focar-se em primeiro lugar no perfil que pretendia.
Ainda é muito cedo para podermos rotular a escolha de Keizer como um sucesso, mas é inegável que estes primeiros 270 minutos mostraram um Sporting transfigurado para melhor. As ideias de jogo são ambiciosas e apelativas mas não esquecendo a necessidade de manter a equipa equilibrada em todos os momentos. Os jogadores são os mesmos que Peseiro orientou – pior, são os mesmos que Peseiro escolheu para o modelo de jogo que queria implementar -, mas qualquer semelhança individual ou coletiva é pura coincidência. Felizmente, a desconfiança inicial tem vindo a ser eliminada gradualmente e há muito que não sentia tanta vontade nos sportinguistas para que chegue o próximo dia de jogo.
O entusiasmo que se começa a notar é saudável e é um tónico importante depois de tanto tempo a ver o Sporting a praticar um futebol medíocre. Não nos podemos esquecer, no entanto, que a equipa de Keizer é muito mais um trabalho em curso do que um projeto finalizado, pelo que convém que todos os sportinguistas estejam mentalizados que, por muito prometedor que seja esta nova forma de jogar, vão ser cometidos erros e irão surgir percalços que precisarão de paciência da bancada. Ao longo dos últimos meses tem sido frequentemente ouvir assobios em Alvalade... mesmo quando os jogadores tentam fazer bem as coisas. Por exemplo, contra o Boavista houve assobios logo no início da partida porque a defesa estava a trocar a bola junto à área para tentar sair a jogar, em vez de bater de imediato a bola para a frente. Isto não pode acontecer, e muito menos quando está a haver um esforço da equipa para se adaptar a um estilo de jogo que envolve movimentos de maior risco. Terá, por isso, de haver também uma adaptação dos sportinguistas a esta nova realidade: não podemos contribuir para a intranquilidade da equipa caso Renan faça um ou outro passe com um adversário demasiado perto, caso Bruno Fernandes perca a bola no meio-campo enquanto procura a melhor linha de passe, caso Nani congele o jogo durante 4 ou 5 segundos para dar tempo aos colegas para se reposicionarem.
Que Alvalade encha no domingo para receber o novo treinador e esta nova equipa, que a equipa faça por merecer o apoio da bancada... e que todos os sportinguistas na bancada façam também por merecer (e contribuir para) mais uma noite de grande futebol.