quinta-feira, 14 de março de 2019

Negócios do chinês (@3295c_)

Novo texto do 3295C.



Não há como fugir à classificação de uma das últimas pérolas de gestão do actual Conselho Directivo do Sporting. O anunciado acordo com o Wolverhampton, no seguimento do fecho de contas relativa à contratação, pelo emblema inglês, do guarda-redes Rui Patrício, envolve a módica quantia de dois milhões de euros e esta “verba” está fundamentada na premissa de uma “abertura ao Sporting do mercado chinês”, de acordo com a entrevista de Francisco Salgado Zenha à TVI a 28 de Fevereiro. Curiosamente, quatro meses depois de Frederico Varandas ter dito que “não foi fácil e não posso explicar tudo”. Não podia e até admite-se que nem todos os pormenores de uma operação financeira possam vir a público, devido à natureza de confidencialidade deste e de outros negócios. O que já não pode é esconderem-se os gastos e o objectivo dos mesmos. Um negócio é feito por determinadas exigências e cedências, de parte a parte, e a partir do momento em que há uma opção de se assinar um protocolo de “abertura de mercado”, deixa-se a esfera da negociação para o plano político e de gestão.

Gostaria de saber mesmo o que significa esta “abertura do mercado chinês”, envolvendo o pagamento de dois milhões de euros por algo que, do ponto de vista interno, não faz muito sentido.

Carlos Vieira, anterior vice-presidente e da área financeiro, passou sete dias, em Abril de 2018, em Pequim, não apenas ao abrigo das comemorações dos 40 anos da histórica viagem do Sporting Clube de Portugal, liderada pelo então Presidente João Rocha e o plantel praticamente todo de 1978. Evento relevante (mais um, de muitos, felizmente, amigos leões) não apenas para o Clube como para o país. Portugal só viria a ter embaixada em Pequim no ano seguinte.

Carlos Vieira reuniu com o ministro da Administração Geral dos Desportos da China, Gou Zhoug Wen, e com o embaixador português em Pequim, José Augusto Duarte. Assinou diversos protocolos de parcerias com clubes chineses, escolas públicas e não apenas para o futebol. Segundo noticia o site do Clube, tudo bases para se poderem vir a construir academias, vocacionadas para o futsal e para o andebol. Sempre com a marca Sporting.

Deixo de novo a pergunta simples que, creio, impõem-se: o Sporting precisa de pagar dois milhões de euros ao Wolverhampton para nos abrir o mercado chinês?

“Estagiários”, chamou-lhes Riccardi. “Operação Coração”, apelidou o último empréstimo obrigacionista, que se ficou pelos 26 dos 30 milhões de euros como meta. Com razão: o anterior teve rateio. Houve mais de 70 milhões para os mesmos 30 de objectivo.

Os tempos não estão fáceis, acredito. Já disse Frederico Varandas que ano zero [mais um motivo de ironia para Ricciardi] é na próxima época. Sublinho: próxima. O futebol fácil facilmente se transformou em alta tecnologia de ponta com recurso a inteligência artificial. O desnorte parece tão evidente que nem é preciso atribuir lógica à idiótica referência ao pagamento para a saída a custo zero do Bas Dost.

São mesmo estes negócios do chinês. Que não fazem sentido. E o problema é quando passam a fazer. Sentido.

[Só um acrescento em relação ao assunto das rescisões, da qual Rui Patrício fazia parte: outros processos de outros jogadores estão em aberto e aguardo serenamente o desfecho de cada um deles. Custou-me a passividade dos responsáveis do meu Clube não responderem, forte e vigorosamente, à recente provocação do presidente do Lille, que dizia não pagar um cêntimo ao Sporting por ter assinado com Rafael Leão. Gostaria que o Conselho Directivo do meu Clube tivesse puxado dos galões do centenário emblema que dirige e tivesse, publicamente, dito que ao Sporting Clube de Portugal pouco importa o deselegante rebate de consciência pura e cristalina do presidente do Lille. O que o Sporting Clube de Portugal pode garantir, acima de tudo aos seus Sócios, é que alguém vai pagar. E isto é evitar ser alvo de chacota. Aguardemos os restantes, com especial atenção ao Gelson Martins.]