sexta-feira, 15 de maio de 2020

A venda da maioria da SAD

A venda da SAD voltou a ser tema diário. Se nas últimas semanas a discussão se tem vindo a fazer sobretudo nas colunas de opinião dos jornais e sites que acompanham a vida do Sporting, nesta sexta-feira foi a vez de André Bernardo, vogal do Conselho Diretivo do clube e administrador da SAD se pronunciar sobre o assunto em entrevista dada ao Record. Num curto comentário, reconheceu que é "um modelo que existe em muitos clubes europeus" e concluiu dizendo que "o Sporting é dos sócios e como tal essa é uma decisão dos sócios do clube". 

Nada que tenha sido dito por André Bernardo está errado. É, efetivamente, um assunto que terá sempre de passar pela aprovação dos sócios segundo o que está estipulado no Artigo 43º dos estatutos do clube. No entanto, perdeu uma boa oportunidade para ir mais além na sua resposta. 

André Bernardo deveria ter respondido que a venda da SAD não faz parte do plano estratégico para a segunda metade do mandato que foi apresentado nesta semana porque o programa eleitoral da atual direção é contrário à venda da maioria da SAD. Essa decisão pode não passar pela direção, mas a direção deve ter uma opinião firme nesse sentido, até porque, na minha opinião, a venda da maioria da SAD é um tema que não deve ser alimentado em demasia - pois é mais um contributo para a imagem de fragilidade que se tem vindo a fortalecer com o clima de permanente instabilidade vivido nos últimos anos. Pronunciando-se algum elemento da direção sobre o tema, só poderia ser para o matar até ao final do mandato e não para o manter em suspenso.


Seria preciso um milagre para que a venda da maioria da SAD resolvesse o quer que fosse. A liga portuguesa é irrelevante, o mercado português é pouco apelativo do ponto de vista financeiro, e seria um prego no caixão do ecletismo e da capacidade de mobilização única que este clube tem. A identidade do clube seria ferida de morte. Será preciso um milagre para conseguir atrair um investidor sério, endinheirado e com know-how. Os sócios passariam a ser clientes com um poder de compra médio sofrível, o dinheiro da entrada de capital rapidamente se esvairia sem hipóteses de se renovar, e não tardaria a que se voltasse a discutir os problemas financeiros e de competitividade do clube. Se bem que, nessa altura, qualquer discussão sobre os problemas do Sporting seria totalmente estéril porque os seus donos não teriam de passar cartão à opinião de ninguém.

Diria que esta discussão se tem prolongado apenas porque o futebol está a atravessar uma silly season sem precedentes - à ausência de jogos já habitual nos defesos, junta-se a falta de especulações sobre transferências de jogadores - e sempre ajuda a ocupar páginas de jornais e horas de emissão televisiva. O debate de ideias é saudável e não traz nenhum mal ao mundo, mas aquilo que o clube menos precisa agora é de mais um ponto de stress do qual não se poderá tirar qualquer proveito prático.